Regiões enfrentam altas temperaturas, falta d’água, fumaça nas rodovias, devastação ambiental e medo de que o fogo atinja propriedades rurais
O Cariri — em suas três áreas (Cariri Oeste, Central e Oriental) — juntamente com o Sertão Central e os Inhamuns, atravessa um dos períodos mais severos de estiagem e calor registrados na última década. Com temperaturas que variam entre 35°C e 41°C nas horas mais quentes do dia e uma umidade que despenca para níveis críticos, o cenário tem sido de preocupação constante entre moradores, agricultores, motoristas e comerciantes.
INCÊNDIOS SE ALASTRAM E COLOCAM A POPULAÇÃO EM RISCO
Os focos de incêndio aumentaram de forma significativa nas últimas semanas. A vegetação seca, os ventos fortes e as altas temperaturas criam condições explosivas para a rápida propagação das chamas. Moradores relatam que todos os dias surgem novos focos em diferentes pontos.
O fogo já avança por áreas de mata, chácaras, propriedades rurais, margens de estradas vicinais e chegou perigosamente perto de residências em algumas localidades.
A maior preocupação agora é que as queimadas atinjam plantações, currais, pequenos sítios e casas na zona rural.
Maria José Barbosa, moradora do distrito de Monte Castelo, comenta:
“A gente escuta o barulho do fogo de longe. O medo é ele pular pro nosso terreno. O vento muda rápido e ninguém sabe a hora que chega.”
FUMAÇA EM RODOVIAS ESTADUAIS E FEDERAIS AUMENTA RISCO DE ACIDENTESAs queimadas ao longo das rodovias estaduais e federais que cortam a região se tornaram uma ameaça diária aos motoristas. Trechos da BR-116, BR-230, CE-292, CE-187, CE-371 e outras estradas registram grande quantidade de fumaça, reduzindo drasticamente a visibilidade.
Caminhoneiros relatam que em alguns momentos a fumaça é tão intensa que é preciso parar no acostamento.
Francisco Dias, caminhoneiro, relatou:
“A pista sumiu na minha frente. A fumaça tomou tudo. Se tiver outro carro vindo atrás em alta velocidade, o risco de uma tragédia é enorme.”
Motociclistas também têm reclamado de irritação nos olhos, dificuldade de respirar e calor extremo causado pelo fogo próximo da pista.
MUNICÍPIOS DO CARIRI OESTE SOFREM COM ESCASSEZ SEVERA DE ÁGUA
O Cariri Oeste é uma das áreas mais castigadas. Em Salitre, Araripe e Campos Sales, a falta d’água compromete o dia a dia das famílias e impossibilita atividades agropecuárias básicas.
Poços apresentam níveis baixíssimos
Animais sofrem com sede
Lavouras não resistem
Famílias dependem de poucos pontos de abastecimento
Seu Raimundo Lopes, agricultor de Araripe, descreve:
“Tem dia que a gente passa horas esperando um pouco de água. O pasto secou, o gado emagrecendo, e o sol castigando sem piedade.”
A situação é semelhante em várias comunidades do Sertão Central e dos Inhamuns.
CALOR EXTREMO E BAIXA UMIDADE COLOCAM SAÚDE EM ALERTA
A combinação de calor extremo e baixa umidade relativa do ar — que chega abaixo de 20% em algumas tardes — aumenta os riscos de:
Desidratação severa
Insolação
Choque térmico
Crises respiratórias
Irritação nos olhos
Agravamento de doenças pulmonares
Hospitais e unidades de saúde registram aumento de atendimentos por mal-estar, tonturas e dificuldades respiratórias causadas pela fumaça das queimadas.
DESTRUIÇÃO DO MEIO AMBIENTE
A devastação ambiental provocada pelos incêndios vem preocupando especialistas, ambientalistas e moradores. Áreas nativas de caatinga estão sendo consumidas rapidamente pelo fogo.
Entre os impactos observados:
Perda de árvores nativas
Mortandade de animais silvestres
Destruição de ninhos e áreas de reprodução
Empobrecimento do solo
Aumento do risco de desertificação
Paulo Henrique Silva, pequeno produtor de Nova Olinda, lamenta:
“A natureza está sumindo. A gente vê os bichos correndo do fogo, árvores queimadas... dá uma tristeza enorme.”
FALTA MAIOR EFETIVO DE BRIGADISTAS NA REGIÃO
Moradores de diversos municípios afirmam que há insuficiência de equipes especializadas de combate a incêndios. A falta de maior efetivo do ICMBio e brigadas instaladas permanentemente no Cariri deixa comunidades vulneráveis.
Brigadistas voluntários e moradores têm se arriscado com baldes, enxadas e bombas costais para tentar conter o avanço das chamas até a chegada de apoio técnico.
TRABALHADORES RURAIS VIVEM INSEGUROS
Os trabalhadores rurais são os que mais sentem os efeitos da seca e das queimadas. Além do calor insuportável no campo, há medo constante do fogo atingir plantações, currais, barreiros e animais.
José Orlando, de Campos Sales, relata:
“A gente vive apreensivo. O fogo corre pelo mato seco de um jeito que ninguém segura. Quando vê, já está no terreiro.”
VENDA DE PICOLÉS E SORVETES DISPARA
Em meio ao calor sufocante, comerciantes de picolés, sorvetes e bebidas geladas viram a procura aumentar drasticamente. Em Crato, Juazeiro, Iguatu e Quixadá, ambulantes relatam vendas até 70% maiores.
João Gomes, vendedor de picolé no Crato, comenta:
“Se não fosse esse calor, eu não vendia tanto. Mas o povo está atrás de qualquer coisa gelada pra aguentar o dia.”
POPULAÇÃO MUDA A ROTINA PARA TENTAR SUPORTAR O CALOR
Moradores de várias cidades passaram a adotar medidas emergenciais no cotidiano:
Deixar casas fechadas nas horas mais quentes
Usar toalhas úmidas dentro de casa
Aumentar o consumo de água mineral
Evitar atividades ao ar livre à tarde
Manter crianças e idosos em locais ventilados
O calor também tem dificultado o sono noturno, já que temperaturas não caem significativamente após o pôr do sol.
UM DOS PERÍODOS MAIS SEVEROS DOS ÚLTIMOS ANOS
A combinação de calor extremo, seca prolongada, baixa umidade, incêndios constantes próxima às rodovias e zonas rurais, devastação ambiental e escassez de água coloca Cariri, Sertão Central e Inhamuns entre os cenários mais críticos recentes da região.
O clima difícil e imprevisível tem deixado agricultores, moradores e motoristas em permanente estado de atenção.
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