Crise hídrica e seca já castigam o Cariri Oeste: açudes secam, rebanhos morrem e o homem do campo pede socorro

Blog do  Amaury Alencar
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 O sol forte, o vento quente e a terra rachada voltaram a desenhar um cenário que o sertanejo conhece bem — e teme. A seca, que há meses dá sinais de retorno, começa a castigar de forma severa a zona rural dos municípios de Campos Sales, Salitre, Araripe, Potengi e demais cidades do Cariri Oeste cearense. Pequenos e médios reservatórios estão praticamente secos, e os rebanhos de ovinos e caprinos já sofrem com a falta de pasto e de água.


O que antes era um campo verde, tomado pela esperança das chuvas passadas, agora se transforma rapidamente em um sertão de poeira e sofrimento. O drama da estiagem se repete, com rostos diferentes, mas com as mesmas dores. O sertanejo, mais uma vez, enfrenta o desafio de sobreviver à falta d’água.

Reservatórios à beira do colapso
Em Campos Sales, o quadro é alarmante. O açude Poço da Pedra, principal fonte de abastecimento do município, está operando com apenas 4% de sua capacidade total. O pouco volume que resta se transforma em uma fina lâmina d’água turva e disputada por animais sedentos e moradores desesperados.

“A situação está crítica demais. A gente vê o açude secando e o medo batendo no peito”, desabafa o agricultor Antônio Ferreira, morador da zona rural de Campos Sales. “A água que tem já tá virando lama, e pra beber só comprando de fora. Tem gente trazendo de Pernambuco, tem caminhão vindo de Santana do Cariri... virou comércio, virou sobrevivência.”

De fato, a venda d’água se tornou uma realidade dura. Caminhões-pipa percorrem estradas empoeiradas levando o que se tornou o bem mais precioso do sertanejo. “É água comprada, pesada e medida. Quem não tem dinheiro, espera o carro-pipa do Exército ou da prefeitura — se vier”, completa Antônio.

O drama em Araripe: o desespero no distrito de Pajeú

No município de Araripe, a situação também preocupa. No distrito de Pajeú, a agricultora Maria do Carmo Alves observa, impotente, o chão rachar sob o sol escaldante. Ela conta que a plantação de milho não resistiu, e o pouco feijão que sobrou serve apenas para o consumo da família.

“Aqui a gente já perdeu quase tudo. O gado tá magro, os bodes tão comendo folha seca, e o pouco de água que tinha nos barreiros já foi embora. É um sofrimento que a gente conhece bem, mas cada vez fica pior”, lamenta Maria.

Ela recorda que a última boa safra foi há quase três anos, e desde então as esperanças vêm se perdendo junto com a umidade da terra. “Se não vier ajuda, não sei o que vai ser do povo de Pajeú. A gente precisa de poços, precisa de adutora, precisa de ação de verdade”, apela a agricultora.

Em Salitre, a seca transforma a vida no Sítio Roncador
No Sítio Roncador, em Salitre, o produtor rural Francisco Gomes de Oliveira, conhecido como “Chico do Roncador”, descreve um cotidiano que mistura luta e resistência. “A gente se levanta todo dia cedo pra cuidar dos bichos, mas o que dar pra fazer? Não tem capim, não tem água, só tem fé”, afirma, com a voz embargada.

Os pequenos barreiros da região estão reduzidos a poças enlameadas. O cheiro forte da terra seca se mistura ao som dos animais famintos. “A seca não é novidade, mas o que dói é ver que nada muda. Todo ano a mesma promessa, o mesmo discurso. O povo do campo tá cansado de esperar”, critica Chico.

Potengi e demais municípios: um quadro de alerta regional
Em Potengi, a situação também é de alerta. As poucas fontes de água ainda existentes estão se tornando insuficientes para atender à população. Em comunidades como Lagoa da Pedra, Cacimbas e Catolé, famílias vivem da esperança de que o carro-pipa não falte.

A paisagem, que antes era tomada pelo verde, agora é dominada por tons amarelados. O sol parece mais forte, e o ar seco carrega o peso da preocupação. Agricultores relatam que até os animais silvestres têm se aproximado das casas em busca de água.

O velho drama do carro-pipa e a urgência de soluções
A velha prática do carro-pipa ainda é a principal forma de garantir o abastecimento humano na maioria desses municípios. No entanto, o sistema é precário e insuficiente. Muitas comunidades ficam dias sem receber água, e quando ela chega, o volume é mínimo.

Enquanto isso, as promessas de soluções estruturais, como adutoras e poços profundos, seguem no papel. As lideranças políticas regionais são constantemente cobradas por medidas concretas.

“Não adianta mais discutir propostas. O que a gente precisa é de ação e rápida”, desabafa um morador da zona rural de Araripe. “A gente não quer favor, quer solução. Água é vida, e o sertanejo tá morrendo de sede.”

Um apelo do sertão ao poder público
A seca no Cariri Oeste é um problema histórico, mas que exige uma resposta imediata. Os agricultores pedem sensibilidade e união dos governantes — prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores e o próprio governador — para que medidas concretas sejam tomadas.

“Não adianta promessa em época de eleição, nem discurso bonito. O homem do campo tá pedindo socorro”, clama Antônio Ferreira, de Campos Sales.

A população pede, acima de tudo, respeito e dignidade. O sertanejo quer produzir, quer viver da terra, mas para isso precisa de água. É urgente a implantação de adutoras, perfuração de poços profundos e políticas sustentáveis de convivência com o semiárido.

A paisagem da esperança
Entre a poeira e o sol forte, ainda há quem resista. No fim da tarde, quando o vento sopra mais leve e o céu do sertão se tinge de laranja, o povo do Cariri Oeste continua acreditando que a chuva voltará.

A fé é o que mantém o sertanejo de pé. Mas fé sozinha não enche açude — é preciso ação, compromisso e investimento. A seca não espera. E enquanto a água falta, o tempo corre contra o sertão. 

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