Pandemia pode tirar 484 mil alunos do ensino superior no país, projeta sindicato de mantenedoras
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personBlog do Amaury Alencar
maio 26, 2020
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Jeyzza foi dispensada do estágio. O pai de Vitória perdeu o emprego.
Menos de um mês após a redução de renda em casa, as duas tiveram que
deixar a faculdade por não conseguir pagar as mensalidades. Situações
como as delas devem se tornar mais frequentes, com a estimativa de que
484 mil estudantes podem deixar o ensino superior neste ano. Foto: Reprodução
Projeção feita pelo Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de
Ensino Superior), com dados de abril e maio sobre cancelamento e
trancamento de matrícula, aponta que o número de estudantes da rede
privada no ensino superior deve ter queda de 7,6% neste ano com a
pandemia do coronavírus.
As faculdades particulares são responsáveis por 75% das 8,4 milhões de matrículas nessa etapa. Desde
2015 a rede privada não registra queda no número total de matrículas,
mas o setor prevê aumento da evasão e diminuição de 80% no número de
ingressantes no segundo semestre.
O aumento da inadimplência também preocupa o setor, em abril o número
de estudantes com mensalidades em atraso foi 72,4% maior que no mesmo
mês de 2019.
“Fiquei sem estágio, minha mãe teve redução de salário e
eu não consegui desconto na mensalidade. Não tinha o que fazer, não tem
alternativa. Fico chateada porque significa adiar minha formatura em
pelo menos um ano”, contou Jeyzza Tito, 24, aluna de Ciências Biológicas
na Unip de Santos.
A jovem disse ter tentado negociar redução do valor da mensalidade de cerca de R$ 500, mas não conseguiu nenhum desconto.
“A
única opção que me deram foi dividir as parcelas em seis vezes no
cartão. Ia empurrar a dívida pra frente e ter cobrança em cima de
cobrança a cada mês. Não fez sentido para mim”, disse.
Vitória Pires, 21, também pediu desconto depois que seu pai foi
demitido do restaurante onde trabalhava. Aluna de Jornalismo na
Faculdade Cásper Líbero, ela disse que a direção comunicou ter um
desconto máximo de 25% do valor da mensalidade de R$ 2.500.
“Não fui contemplada com essa redução e, mesmo que tivesse sido, não seria o suficiente para que continuasse estudando”. No
segundo ano do curso, Vitória disse achar que não volta para a
faculdade para o qual estudou por dois anos para ser aprovada depois de
terminar o ensino médio.
“Estou muito chateada, muito decepcionada por ter chegado nesse
ponto. Quando tiver condições de pagar de novo, penso que o melhor seria
em outra instituição”. Rodrigo Capelato, diretor do Semesp, disse
que a projeção é de aumento de 10% nas taxa de evasão -nos últimos anos,
em torno de 3 a cada 10 alunos desistem do curso. Para ele, a saída
deve ser maior entre aqueles que tinham entrado na faculdade neste ano.
“Esse estudante teve no máximo duas semanas de aula quando a pandemia
começou. Ele não criou vínculo, não vai fazer sacrifícios para
continuar pagando”. Para ele, apesar do esforço das instituições para
continuar com as aulas a distância, o formato emergencial pode também
não agradar os estudantes, o que favorece ainda mais a desistência.
“Os alunos podem estar insatisfeitos, mas não foi uma opção da faculdade adotar esse modelo. Ele é o único possível”. Inadimplência
Capelato disse que a orientação às faculdades é para a concessão de
descontos, adoção de linhas de crédito dentro das próprias instituições e
até a suspensão de cobrança em alguns casos.
Estudo do sindicato indica que em abril a inadimplência atingiu 26,3%
dos estudantes da rede privada –no mesmo mês do ano passado, essa taxa
era de 15%. Essa taxa de inadimplência representa que 1,6 milhão de
estudantes estão com mensalidades atrasadas, sendo que 75,8% deles estão
matriculados em cursos presenciais.
O setor pediu ao Ministério da Educação que amplie o número de vagas
para o Fies (Financiamento Estudantil) e ProUni (Programa Universidade
para Todos) neste ano para tentar conter o abandono de parte dos
estudantes. Questionado, o MEC não respondeu se analisa aumentar o
número de vagas nesses programas. Fonte: Folhapress