Ele veio ao Cariri no ano de 2007,
e foi na Universidade Regional do Cariri (URCA) que expressou o seu
retorno ao solo acadêmico com poesia, música e artes plásticas. O
artista sobralense, Antônio Carlos Belchior Fontenele Fernandes, queria
cantar para o público universitário sem cachê. Debaixo do braço trouxe o
que hoje é uma raridade, mais do que ontem, por vir à tona a memória de
um dos maiores artistas brasileiros, com os 31 poemas e 31 gravuras em
homenagem a Carlos Drummond de Andrade. A exposição acontece até o dia
30 de agosto, com o II Seminário de Culturas e Literaturas Lusófonas do
Cariri Cearense
Sim,
esse material inédito foi concebido pelo artista Belchior, divulgado
pela Editora Caras, organizado pelo professor Flávio Queiroz, do
Departamento de Letras da URCA. A exposição chama-se “Pinturas do
Belchior”, apresentando para o público uma face pouco conhecida do
grande público do artista plástico que morava no coração do rapaz
latino-americano.
A
exposição permanece para visitação no hall de entrada da biblioteca da
Universidade, no campus do Pimenta, em Crato, com acompanhamento de
monitores. No espaço se pode contemplar as poesias, além das imagens
inspiradas na face de Drummond. São os versos e a face, que mostram o
universo do compositor, intérprete, pintor e caricaturista.
O Reitor da URCA, Professor Francisco do O’ Lima Júnior, abriu a exposição, ressaltando a importância da produção do cantor Belchior, principalmente no período em que ele passou por sua formação educacional ou em contato com gerações de estudantes. Conforme ele, talvez seja por isso a obra do cantor seja tão querida por estudantes universitários. “Fala de anseios, de sonhos, de partida com o olhar para trás, de chegada, de resgate, de origem, com o rapaz latino-americano”, afirma.
Belchior
é considerado um dos grandes compositores e cantores da música
brasileira. Para muitos um gênio. O cearense que abriu o coração para a
música, mas sumiu de cena sem dar explicações. Na exposição, os
organizadores destacam um Belchior diferente do habitual cantor de ‘Como
Nossos Pais’.
O
artista era um admirador do Cariri. Considerava esse cantinho do Estado
cearense, um lugar especial. E foi aqui que decidiu marcar o seu
retorno a um ambiente pulsante de conhecimento, que era a universidade,
onde também se encontra um público muito especial.
A exposição foi aberta pelo
Reitor da URCA, Francisco do O’ Lima Júnior, juntamente com o Professor
Flávio Queiroz, estudantes e docentes do Departamento, no último da 6. O
evento marca o início das atividades do II Seminário de Culturas e
Literaturas Lusófonas do Cariri Cearense, que esse ano irá homenagear o
Belchior. Mas já lança, através de votação durante a exposição, os nomes
da poetisa Florbela Espanca, o escritor e professor, Ariano Suassuna, e
poeta cearense, Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, para
um deles ser o homenageado, como patrono, no próximo ano.
Sobre o artista
Antônio
Carlos Belchior Fontenele Fernandes nasceu em Sobral, Ceará, em 26 de
outubro de 1946 e faleceu em Santa Cruz do Sul, em 29 de abril de 2017.
Ficou nacionalmente conhecido como um dos maiores compositores e
cantores da MPB, especialmente pelos sucessos A Divina Comédia Humana, Velha roupa Colorida, Como Nossos Pais, Alucinação e Apenas Um Rapaz Latino-americano; mas, também possuía talento para pintura, caricatura e caligrafia.
Como surgiu a ideia ...
O
professor Flávio Queiroz fala sobre como surgiu a ideia para realizar o
evento. “Quando Belchior esteve no Cariri, pela última vez, em 2007,
confidenciou-nos seu desejo de realizar uma apresentação que ocorreria
em dois momentos. No primeiro, uma exposição dos seus quadros, que
faziam uma homenagem a um dos poetas que ele admirava, Carlos Drummond
de Andrade e, no segundo momento, um show para a juventude acadêmica da
Instituição, no qual ele e sua banda interpretariam poemas do Poeta
Mineiro”, afirmou.
Flávio
destaca o momento em que, a convite do Professor Francisco Cunha, levou
o cantor Belchior ao Museu de Artes Vicente Leite, no Crato, onde ele
queria conhecer quadros da artista plástica Sinhá D’Amora, com trabalhos
raros expostos apenas em Crato e no Rio de Janeiro. Por pouco o cantor
não chegou a ser barrado, por conta do horário de fechamento do espaço
às 18 horas. Dentro do museu, se deparou com as obras de arte
raríssimas atiradas ao chão. Ele, ao assoprar a poeira de um dos
quadros, questionou onde estava o prefeito da cidade. Um momento triste e
ao mesmo tempo constrangedor para todos.
A
partir desse momento, com o retorno ao hotel em que se encontrava
chamou o Professor Flávio Queiroz, que atua na área da literatura, para
confidenciar a sua intenção de realizar a exposição em Crato, e na URCA.
“Ele disse que eu era a pessoa que ele queria e tinha as telas de
Drummond, que considero o maior poeta brasileiro, ou senão um dos
maiores. Musiquei 31 poemas, e na época a Urca não tinha o Ginásio.
Naquele local ele queria realizar um show e a exposição seria no espaço
interno”, lembra.
Naquele
momento, Belchior declarou o seu desejo de retornar ao Cariri. “Ele
disse que queria voltar, que iniciou Medicina, fez Filosofia, e que
havia perdido o contato da universidade, porque o seu mundo era a
música. Fiquei me questionando o porquê da URCA e não na sua própria
cidade...”, afirmou. E o Cariri, segundo palavras do próprio cantor,
tinha algo que o atraia, e por isso queria fazer o show e a exposição na
URCA. “Então, estamos lançando a exposição que o Belchior queria fazer
na URCA”, completa.
Durante
o seminário, serão realizadas palestras, debates, mesas redondas shows
de tributo a Belchior. Esse será um momento de realizar a parte musical,
que ele queria.