Começou nessa segunda-feira (29) o pagamento dos valores do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) que estavam bloqueados para trabalhadores que optaram pelo saque-aniversário e tiveram o contrato de trabalho encerrado ou suspenso nos últimos anos. Ao todo, 14,1 milhões de pessoas serão beneficiadas, com depósitos que somam R$ 7,8 bilhões.
Com o dinheiro liberado, muitos brasileiros já começam a rever o planejamento financeiro para 2026 — desde a quitação de dívidas até a aplicação dos recursos em investimentos mais rentáveis.
Pagamento em duas etapas
A liberação foi autorizada por medida provisória publicada pelo governo federal na semana passada e será feita em duas fases:
- 1ª etapa – já em andamento:
pagamento de até R$ 1.800 por conta, limitado ao saldo do contrato rescindido.
A Caixa Econômica Federal estima liberar R$ 3,9 bilhões nesta fase. - 2ª etapa – a partir de 2 de fevereiro de 2026:
pagamento escalonado do valor restante, até 12 de fevereiro, somando outros R$ 3,9 bilhões.
Quem tem direito
Podem receber os valores retidos do FGTS os trabalhadores que:
- aderiram ao saque-aniversário; e
- tiveram rescisão ou suspensão de contrato entre 1º de janeiro de 2020 e 23 de dezembro de 2025.
Mesmo quem já voltou ao saque-rescisão ou conseguiu novo emprego terá direito à liberação. Estão incluídos casos de:
- demissão sem justa causa;
- despedida indireta, culpa recíproca ou força maior;
- falência ou falecimento do empregador;
- término de contrato por prazo determinado (incluindo temporários);
- suspensão total do trabalho avulso.
Nos acordos de rescisão, o saque será de 80% do saldo disponível.
Dívidas devem ser prioridade, dizem especialistas
Especialistas em finanças recomendam cautela e estratégia no uso do dinheiro. Para Pedro Leão Bispo, professor da FGV, a melhor aplicação é quitar dívidas com juros altos, como cheque especial e cartão de crédito.
“Os juros são muito maiores do que qualquer rendimento financeiro. O ideal é priorizar as dívidas mais caras”, explica.
O coordenador do MBA de Gestão Financeira da FGV, Ricardo Teixeira, reforça que o pagamento deve ser integral, sempre que possível:
“Abater só uma parte e continuar pagando juros altos não compensa. Vale renegociar e tentar encerrar a dívida de vez.”
Já Samuel Barros, reitor do Ibmec Rio, lembra que bancos e empresas costumam aceitar negociações:
“Muitas instituições retiram multas e juros para garantir o pagamento do principal.”
Evitar compras por impulso
Samuel reforça que o consumidor deve fugir do consumo emocional:
“Não compre na hora. Espere um ou dois dias, compare preços e negocie. Isso ajuda a evitar decisões por impulso.”
Ricardo Teixeira também recomenda manter uma reserva de emergência para imprevistos de saúde, família ou trabalho.
Investimentos para quem está sem dívidas
Para quem não tem débitos, a indicação é aplicar o valor em investimentos conservadores, como:
- CDBs
- Tesouro Selic
Segundo Ricardo Teixeira, o rendimento do FGTS é baixo, e essas opções oferecem maior retorno com segurança e liquidez.
Como será o pagamento
Os depósitos serão feitos automaticamente, sem necessidade de solicitação — exceto:
- trabalhadores com bloqueio judicial por pensão alimentícia
- avulsos, que deverão apresentar documentação na Caixa.
O pagamento será feito preferencialmente para a conta bancária cadastrada no aplicativo FGTS.
Hoje, 87% dos trabalhadores já possuem cadastro ativo.
Quem não registrou conta poderá sacar em:
- agências da Caixa
- casas lotéricas
- caixas eletrônicos
- correspondentes Caixa Aqui
com Cartão Cidadão, senha ou biometria.
Quem antecipou o saque-aniversário
O desbloqueio será integral apenas para quem tem apenas parte do saldo comprometido com empréstimos de antecipação.
Quem comprometeu 100% do saldo não terá direito à liberação.
Como consultar se tem direito
A consulta pode ser feita por:
- Aplicativo FGTS (em “Informações Úteis”)
- Telefone 0800 726 0207
- Agências da Caixa
No extrato, os valores liberados aparecem como:
“SAQUE DEP 50S” ou “SAQUE DEP 50A”.
O que é o saque-aniversário
A modalidade permite ao trabalhador retirar, todo ano, uma parte do saldo do FGTS no mês do aniversário. Em troca, ele perde o direito de sacar o saldo total em caso de demissão sem justa causa, recebendo apenas a multa de 40%.
Quem quiser voltar ao saque-rescisão pode solicitar a qualquer momento, mas a mudança só vale após dois anos do pedido.
