Espaço cultural que há quase 16 anos abriga processos criativos, formativos e artísticos da Cia Ortaet está fechado há quase 100 dias por falta de apoio financeiro e institucional. O sonho de ter um espaço próprio sempre acompanhou a trajetória da Cia Ortaet de Teatro, grupo que há 26 anos movimenta a cena cultural em Iguatu, porém, mais uma vez a classe artística que integra essa importante companhia de teatro enfrenta uma grande barreira, podendo até mesmo deixar de existir. Mas se dependesse dos artistas a situação seria bem diferente. As redes sociais têm sido uma aliada na campanha de divulgação que tem como um dos objetivos chamar a atenção dos moradores, empresários, instituições e autoridades.
O sonho começou a se concretizar em 2010, quando, por meio do Projeto Olaria, aprovado no Edital de Incentivo às Artes, o coletivo conseguiu alugar o primeiro espaço, localizado na Vila Centenário. Surgia o Galpão das Artes da Cia Ortaet, um ambiente que se tornaria símbolo da resistência e da produção artística local. Mesmo distante do Centro, o espaço rapidamente se transformou em ponto de encontro, criação e formação. “Ter um espaço nosso nos dá flexibilidade para ensaiar, produzir e exercer o teatro como um direito do cidadão. É também um ato de empoderamento político e artístico”, explica Aldenir Martins, integrante da companhia.
Com o término do Projeto Olaria, o grupo precisou enfrentar uma nova realidade: a dificuldade de manter o espaço. Foram criadas campanhas de arrecadação nas redes sociais, que mobilizaram comerciantes e resultaram em uma parceria com o Clube de Dirigentes Lojistas – CDL de Iguatu. O apoio temporário garantiu a continuidade das atividades por algum tempo, mas, sem políticas públicas voltadas à manutenção de espaços culturais, a companhia voltou a enfrentar dificuldades.
A mudança para o Centro da cidade possibilitou a continuidade com a ideia de uma Galpão de Teatro consolidando como um espaço de formação de artistas, realização de espetáculos e vivências teatrais. No entanto, há quase cem dias, 86 mais exatos, o grupo está sem sede mais uma vez, colocando em risco uma trajetória de quase 16 anos de serviços culturais prestados à comunidade.
Para José Filho, um dos diretores da Ortaet, o sentimento é de impotência diante da possibilidade de encerrar um ciclo histórico. “É desesperador pensar em não termos mais a nossa casa, o lugar onde criávamos, ensaiávamos e formávamos novos artistas. Pedimos o apoio do poder público, dos empresários e da população para que o Galpão não desapareça. Afinal, são 26 anos de história e resistência da Cia Ortaet e quase 16 anos de Galpão.”
Patrimônio simbólico da cultura de Iguatu
Mais do que uma sede teatral, o Galpão da Cia Ortaet é um símbolo de identidade cultural e pertencimento. Foi nele que jovens artistas descobriram a arte do teatro, que espetáculos formaram plateias e que a comunidade iguatuense teve acesso gratuito e democrático à cultura. No Galpão, ao longo desses anos foram desenvolvidos diversos projetos de fruição e formação em teatro para a população e grupos teatrais existentes na cidade, entre esses: Olaria, Caleidoscópio – Um olhar Teatro, Doce Doze, Pague quanto puder, atuação, Ortaet Convida, Cine Telha, MOTIN – Mostra Ortaet de Teatro do Interior, bem como a apresentação dos diversos espetáculos da Cia e de grupos convidados que fizeram intercâmbio com o coletivo atingindo, assim, milhares de espectadores durante esse tempo de funcionamento, movimentando e fortalecendo a cena cultural da cidade de Iguatu.
Apelo e apoio
O fechamento do Galpão representa não apenas a perda de um espaço físico, mas a interrupção de um importante ciclo de formação, criação e fruição artística na cidade. Manter vivo o Galpão das Artes é preservar a memória e a produção cultural de Iguatu. É garantir que o teatro continue sendo uma ferramenta de transformação social, de encontro e de expressão da identidade coletiva. Para o ator Silvero Pereira, que conhece a companhia, inclusive já se apresentou na primeira sede do galpão, “A Companhia Ortaet de Teatro de Iguatu é muito importante para a história do teatro cearense. Eu conheço a companhia há mais de 20 anos. Eu estive em Iguatu, na sede da companhia, para apresentação de espetáculos, para formação, realização de oficinas. Hoje a Ortaet não tem o espaço para realizar suas atividades. Isso é muito grave porque afinal de contas essa é uma companhia que tem muito para oferecer para a história do teatro cearense, não só com seus espetáculos, mas também com a formação de plateia, como também para formação de novos artistas. Então, eu faço um apelo para a Prefeitura de Iguatu, para a Secretaria de Cultura para que se mantenha uma sede para a Companhia Ortaet para que o grupo consiga continuar suas atividades e fortalecendo a história do teatro cearense”, disse o ator Silvero Pereira.
Quem também está junto nessa campanha é o ator e humorista Damião Ronald. “São 26 anos de resistência de luta da cultura iguatuense, desses 16 anos, tinha o seu galpão, espaço de muitas apresentações artísticas, oficinas, dança. Eu com minha personagem Jadilene, já tive a oportunidade de participar com alguns eventos. Tudo que envolve a cultura a gente sabe que passa pela Companhia Ortaet. Eu estou à disposição nessa batalha”, disse.
Além da classe artística, produtores culturais, fazedores e populares que costumam frequentar os espetáculos da companhia também estão fortalecendo a corrente em prol da arte. “A companhia que tanto benefícios traz com seus espetáculos, suas oficinas, seus cursos maravilhosos. Eu mesma já ri muito com Neci. Todas as vezes que Neci se apresenta no galpão eu vou. Também assisto a outros espetáculos. Essa companhia tem beneficiado muito nossa cidade, ela está sem casa. Estou passando por aqui para deixar também meu apoio. A companhia Ortaet não pode ficar sem casa. Vamos ajudar para que tenha seu retorno o quanto antes”, declarou a empreendedora Quinha Lourenço.
Secretaria de Cultura
O secretário da cultura de Iguatu, Honório Barbosa, afirmou que esteve reunido com representantes da Cia Ortaet de Teatro, e que estão alinhando um sugestões de locais que possam abrigar o grupo. “Eu estive com eles, trocamos ideias. Ficamos de ver um espaço no antigo Cine Coliseu, onde atualmente é a Casa do Cidadão, nos fundos virado para 15 de novembro, lá está sendo ocupado com o Arquivo do município, mas ficamos de ir lá visitar e conversar com o prefeito, se há essa possibilidade, que seria ideal por ser no Centro da cidade, na Matriz. A outra opção seria no prédio da antiga estação de trem, o do meio, que é propriedade do município, mas que incendiou, o telhado está queimado. Outra opção que iremos levar para o prefeito, mas ali precisa de um restauro. Tem essas duas ideias em análise”, pontuou Honório Barbosa.
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