O caminho da solidariedade na doação de medula óssea no Ceará

Blog do  Amaury Alencar
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Vinícius Barbosa tem apenas 12 anos e, diferente de outros garotos na sua idade, vive uma rotina marcada por exames, procedimentos, sedações, internações e coletas de sangue. Diagnosticado com dois tipos raros de câncer: Histiocitose de Células de Langerhans (HCL) e sarcoma histiocítico sistêmico, ele trava uma batalha diária pela vida.
Filho de Rachel Gabriel Bastos Barbosa, professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC) e de Charlys Barbosa Nogueira, professor do curso de Medicina da mesma instituição, Vinícius sonha em voltar para a escola, rever os amigos e até mesmo participar de encontros da família.
No entanto, enfrentando o terceiro câncer, os tratamentos convencionais já não apresentam resultados esperados, e o pré-adolescente precisa, com urgência, de um transplante de medula óssea.
Vinícius também nutre um sonho inspirador: tornar-se oncopediatra para, no futuro, levar esperança de cura a outras crianças e famílias.
“Receber o diagnóstico de leucemia aguda do nosso filho, sem dúvida, foi o momento mais difícil das nossas vidas. Uma dor que a gente não consegue descrever. Eu falo que é uma dor na alma”, conta Charlys.
O diagnóstico veio em 2021, quando Vinícius tinha apenas 8 anos, após os pais notarem hematomas em sua pele. Desde então, familiares e amigos têm se mobilizado em uma grande corrente de solidariedade para encontrar um doador de medula óssea compatível.
Professores da UFC criaram a campanha #TodosPeloVini, incentivando o cadastro de novos doadores. Em um vídeo divulgado pela família, o próprio Vinícius agradece as doações, inclusive de sangue, e reforça a importância do gesto:
“A doação de medula é a única doação de órgãos que você faz em vida. Então, você está dando a vida a alguém ainda vivo, ou seja, não custa nada você doar a medula. Acho muito gratificante, tanto para quem recebe, como para quem doa”, disse.
Mesmo diante da incerteza, os pais de Vinícius mantêm a fé e a esperança. “Tenho certeza de que sempre vai acontecer o melhor. Tenho certeza de que há um ser superior, que chamamos de Deus, que nos carrega nos braços quando passamos por angústias”, afirma Charlys.
No Ceará, o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) é o responsável pelo cadastro de doadores voluntários de medula óssea, uma das etapas mais importantes para a viabilização dos transplantes realizados em todo o país.
A diretora-geral do Hemoce, Luany Mesquita, explica que algumas doenças se beneficiam do transplante de medula óssea, entre elas as leucemias agudas. “Esses pacientes, muitas vezes, não possuem doadores compatíveis na família e a única alternativa de cura é de um doador não aparentado a partir do cadastro no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome)”, destaca.
O Hemoce não apenas realiza o cadastro, mas também conduz o chamado workup, que é a avaliação clínica e laboratorial dos potenciais doadores compatíveis. A coleta das células-tronco acontece por meio do procedimento de aférese, em que o sangue do doador passa por uma máquina que separa apenas as células-tronco e devolve os demais componentes ao organismo.


Coletas
O Hemoce iniciou o procedimento de coleta de medula óssea em 2012 e, desde então, já foram realizadas mais de 155. Desse total, 91 foram destinadas a transplantes no Brasil e 63 foram enviadas a países como EUA, França, Itália, Portugal, Canadá, Argentina, Holanda e Turquia. Neste ano, já foram feitas 18 coletas, sendo 7 nacionais e 11 internacionais.
Desde o ano 2000, quando iniciou o cadastro de doadores, já foram incluídas cerca de 240 mil pessoas no Redome. O número de cadastros realizados pelo hemocentro cearense é o maior das Regiões Norte e Nordeste.
Para pessoas já cadastradas, o Hemoce orienta manter dados e endereço sempre atualizados e, em caso de mudança, informar em qualquer unidade do hemocentro ou no aplicativo Redome. Os voluntários devem manter-se atentos para o caso de serem convocados.
“É fundamental que os doadores mantenham seus dados de contato atualizados, porque, quando encontramos um paciente potencialmente compatível, entramos em contato para confirmar a compatibilidade e dar início ao processo de doação”, explica a diretora-geral do Hemoce.

Procedimento seguro
Apesar dos avanços, ainda há muitos mitos em torno da doação de medula óssea e o Hemoce vem intensificando ações educativas para esclarecer a população.
“Cada vez mais precisamos difundir informações reais sobre o processo de doação de medula óssea, para diminuir os mitos que ainda existem. A doação é um procedimento seguro, acompanhado por uma equipe multiprofissional do Hemoce desde o início do contato com o doador até o final da coleta. Todo o processo é feito com suporte médico, e a doação só acontece se for segura para o doador e para o paciente”, reforça a diretora.

Panorama nacional
No Brasil, há 5,9 milhões de doadores voluntários cadastrados no Redome. São mais de 125 mil novos doadores incluídos anualmente e mais de 300 coletas de medula óssea por ano. Segundo o Redome, já foram importadas mais de 1.800 células importadas e mais de 800 células doadas para pacientes internacionais.
São mais de 100 centros autorizados pelo Ministério da Saúde a realizar diferentes modalidades de transplante de medula óssea no país, conforme a origem das células doadas. Cada modalidade é indicada de acordo com o tipo e a evolução da doença.
Transplante autólogo: quando as células doadas provêm do próprio indivíduo que será transplantado.
Transplante alogênico aparentado: quando as células provêm de um doador consanguíneo compatível, geralmente um irmão, pai ou mãe.
Transplante alogênico não aparentado: quando as células-tronco hematopoéticas vêm de um doador não aparentado, mas compatível, identificado por meio do Redome.

Como ser um doador
Para ser um doador de medula óssea é necessário realizar um cadastro no Hemoce e preencher os seguintes requisitos:
aTer entre 18 e 35 anos;
aNão apresentar histórico de doença oncológica;
aPreencher uma ficha com dados pessoais;
aApresentar documento de identidade e telefones para contato;
aRealizar coleta de uma amostra de 5 ml de sangue.



Por Anatália Batista

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