Barbalha : Marqueteira de Santo Antônio’: quem é a cearense que há 25 anos faz simpatias para ajudar solteiros

Blog do  Amaury Alencar
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Socorro Luna, a 'solteirona de Santo Antônio', na sala de casa: alegria e devoção ao padroeiro

Legenda: Socorro Luna, a 'solteirona de Santo Antônio', na sala de casa: alegria e devoção ao padroeiro
Foto: Ismael Soares


Mesmo em meio a dezenas de outras casas coloridas e enfeitadas com adereços juninos, uma residência se destaca na Rua do Vidéo, no Centro Histórico de Barbalha. É ali, numa pequena casa magenta, que fica localizado um dos mais famosos pontos turísticos da cidade, principalmente durante a Festa do Pau da Bandeira: o lar da devota Socorro Luna, 71, conhecida como “a solteirona de Santo Antônio”.

O “título” até pode parecer pejorativo à primeira vista, mas é replicado com carinho pelos barbalhenses e ostentado com orgulho pela advogada – que, aliás, afirma que só continua solteira por desejo próprio, já que “pretendente não falta”.

Casa de Socorro Luna, na Rua do Vidéo, vira ponto turístico durante a festa
Legenda: Casa de Socorro Luna, na Rua do Vidéo, vira ponto turístico durante a festa
Foto: Ismael Soares

A origem da mítica da solteirona data de 25 anos atrás, quando a Festa de Santo Antônio de Barbalha já era conhecida, mas a tradição das quermesses – que, desde sempre, eram realizadas no entorno da Igreja Matriz do município – estava perdendo força. 

“Um amigo meu, de saudosa memória, me chamou e disse: ‘Socorro, a gente não pode deixar essa cultura nordestina, que é nossa, morrer. Vamos colocar isso para a frente?’”, conta.

Como era “devota desde o útero, criada na devoção ao nosso amado padroeiro”, Socorro avaliou o que podia ser feito e decidiu por um caminho diferente: criar simpatias que, ao mesmo tempo, preservassem a tradição do Pau da Bandeira e trouxessem inovação ao festejo.

Era o ‘Pau da Bandeira de Santo Antônio’, mas como nós, nordestinos, de praxe juntamos o profano com o sagrado, passou-se a chamar ‘Pau de Santo Antônio: ‘Vou pegar no pau para casar, vou sentar no pau para casar’. Quer dizer, ficou meio dúbia a história, né? Mas Santo Antônio entende e, lá do alto, ele abençoa tudo isso.”

Segundo Socorro, foi o próprio Santo Antônio que deu o “estalo”. “A árvore que serve de mastro sempre é uma árvore medicinal. Aí eu disse: ‘Quer saber? Vou criar umas simpatias da casca do pau’ e as intitulei ‘simpatias casadoiras’. Minha primeira criação foi o kit ‘Milagre’, com a casca do pau, a medalha de Santo Antônio, a fitinha da sorte”, lembra.

No mesmo ano, decidiu fazer o que se tornaria sua mais famosa criação: o Chá Casamenteiro, feito da casca do Pau da Bandeira. “Aí, meu amor, foi que explodiu”, conta, orgulhosa.

Kit com oração, fitinha e casca do Pau da Bandeira; pinga 'Xô Caritó' e o famoso Chá Casamenteiro
Legenda: Kit com oração, fitinha e casca do Pau da Bandeira; pinga 'Xô Caritó' e o famoso Chá Casamenteiro
Foto: Ismael Soares

Hoje, a bebida é um dos principais símbolos da Festa de Santo Antônio e tem roteiro certo entre o fim de maio e o dia 13 de junho, dia do Santo Casamenteiro. Nas noites que antecedem o festejo, Socorro abre a janela de casa e distribui, gratuitamente, o chá que promete casamento certo. 

Na noite do Pré-Pau (31 de maio) – também conhecida como Noite das Solteironas, em alusão às simpatias –, o chá é distribuído gratuitamente nas quermesses na Rua da Matriz e também vendido em garrafinhas por R$ 30, junto a outras simpatias, como a pinga Xô Caritó e kits com orações e pedaços da casca do Pau da Bandeira. O lucro das vendas, destaca, vai todo para a Paróquia.

Já em 1º de junho, dia do Pau da Bandeira, Socorro Luna volta à famosa janela para distribuir, de graça, o chá a quem dele estiver precisando. “Você não tem noção da loucura. Não dá nem pra contabilizar [quantas pessoas bebem]”, ressalta, animada.

“Tem até uma musiquinha que as pessoas cantam: Socorro Luna, eu quero chá! Eu quero chá, eu quero chá, Socorro Luna, eu quero chá”, cantarola, feliz pelos louros conquistados a serviço de Santo Antônio. 

Símbolo de fé e da cultura popular, a devota é constantemente homenageada em eventos de Barbalha, mas também fora dela: já foi tema de quadrilha junina em Pernambuco e destaque no Carnaval carioca, onde desfilou pela Acadêmicos de Santa Cruz. 

Para ela, a alegria em se tornar famosa consiste, principalmente, em poder levar a devoção ao padroeiro e a originalidade da cultura caririense para outros estados do País. “Nós, barbalhenses, somos muito devotos de Santo António, isso é fato”, pontua. “O que chama muita atenção é o profano, é o ‘pau de Santo António’, que é sui generis”, completa.

                                           Diário do Nordeste 

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