EXPOCRATO: O Agronegócio Esquecido Sob os Holofotes dos Shows

Blog do  Amaury Alencar
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A EXPOCRATO, tradicional feira agropecuária do Cariri cearense, nasceu com

o objetivo nobre de fomentar o agronegócio, impulsionar a economia regional e

valorizar os produtores rurais. No entanto, ano após ano, o evento tem se

distanciado de sua gênese primordial, sendo progressivamente absorvido por

uma lógica voltada ao entretenimento e à indústria do show business.


Um fato recente escancara esse paradoxo. O Deputado Federal Yury do

Paredão, em suas redes sociais, anunciou com entusiasmo a disponibilização

de transporte gratuito para os moradores de Crato, Juazeiro e Barbalha, nos

trajetos operados pela empresa ViaMetro. Mas o benefício tem hora

marcada: das 19h às 4h da madrugada — coincidentemente (ou não), o

horário exclusivo dos shows.


A ação, embora benéfica para quem busca lazer noturno, revela uma

prioridade política clara: o espetáculo em detrimento do setor produtivo. Por

que não garantir transporte também durante o dia, quando ocorrem as

principais atividades voltadas ao agronegócio? Onde estão os incentivos, as

novidades ou sequer a menção honrosa aos agricultores, criadores e

expositores, que são, ou deveriam ser, os verdadeiros protagonistas da feira?

Porque não criar e anunciar medidas sociais voltadas ao homem do campo

sintonizado e interessado com as ações agropecuárias? Porque não anunciar

formas e meios de transporte para a zona rural não coberto pelo trajeto dos

ônibus da Via Metro, em horário das atividades do agronegócio?


É sintomático que nem o deputado, tampouco outras figuras públicas, tenham

dado destaque ao que realmente sustenta a feira: o trabalho do campo. Não se

trata de demonizar os shows — que têm seu valor cultural e turístico — mas de

denunciar o desequilíbrio cada vez maior entre o entretenimento e a vocação

original da EXPOCRATO.


Se a feira se desvia de sua essência, torna-se mero palco de negócios alheios

ao sertanejo e ao produtor rural. E, nesse cenário, o agronegócio, que deveria

ser o coração pulsante do evento, acaba relegado a um papel secundário —

quando não invisível.

 É hora de repensar prioridades e resgatar a identidade da EXPOCRATO,

dando ao agronegócio o mesmo destaque e apoio logístico que se dá aos

shows. Afinal, sem o campo, não há festa que se sustente.

Enquanto o som dos palcos ecoa cada vez mais alto, o silêncio em torno do

campo é ensurdecedor.


Por: Francisco Leopoldo Martins Filho

Advogado

Membro Efetivo da Comissão Direito Eleitoral da OAB/CE

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