
A PF (Polícia Federal) identificou indícios de pagamento de propina a servidores do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) em um esquema de descontos associativos fraudulentos aplicados em benefícios previdenciários. Cerca de 6 milhões de aposentados e pensionistas se tornaram vítimas.
Houve uma apreensão de R$ 41.077.064,03 por parte da PF na semana passada. O valor inclui dinheiro em espécie, joias, relógios e
O relatório da investigação, ao qual o R7 teve acesso, é baseado em auditorias da Controladoria-Geral da União (CGU) e análises financeiras, e detalha como entidades associativas, empresas intermediárias e operadores financeiros movimentaram recursos para beneficiar funcionários públicos.
A apuração revelou que a cobrança de mensalidades em aposentadorias e pensões era feita sem a devida autorização dos beneficiários, muitos dos quais idosos. Parte dos valores arrecadados foi desviada para contas de servidores ligados à Diretoria de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão (Dirben), inclusive parentes e pessoas próximas.
Entre os investigados estão o ex-diretor da Dirben André Paulo Felix Fidelis, e o ex-procurador-geral da PFE/INSS Virgílio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho.
A Polícia Federal aponta vínculos diretos entre esses servidores e operadores financeiros como Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, que atuava junto a associações e intermediários para viabilizar os repasses ilícitos.
Confira quem são os 13 investigados:
- André Paulo Felix Fidelis: ex-diretor da Dirben/INSS; assinou termos suspeitos, remeteu pedidos urgentes de desbloqueio e é ligado ao aumento patrimonial do filho com repasses de empresas investigadas.
- Virgilio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho: procurador-Geral da PFE/INSS; aprovou desbloqueios de baixa complexidade, teve crescimento patrimonial expressivo e é associado a movimentações financeiras de familiares.
- Antonio Carlos Camilo Antunes (“Careca do INSS”): operador central; dono de empresas que receberam milhões das entidades associativas e repassaram recursos ilícitos a servidores do INSS.
- Rubens Oliveira Costa: sócio de Thaisa Hoffmann Jonasson; responsável pela movimentação de dinheiro vivo do esquema envolvendo servidores do INSS.
- Domingos Savio Pinheiro de Oliveira: servidor do INSS; intensificou viagens internacionais no período dos repasses ilícitos e já foi indiciado por organização criminosa.
- Alexandre Guimarães: sócio de Rubens; recebeu valores das empresas de Antonio Carlos e atuou como intermediário financeiro no esquema.
- Thaisa Hoffmann Jonasson: companheira de Virgilio; recebeu altos valores em espécie, adquiriu veículo de Antonio Carlos e movimentou recursos suspeitos.
- Romeu Carvalho Antunes: filho de ex-diretor da Dirben; teve aumento salarial incompatível ao assumir participação em sociedades ligadas ao esquema.
- Erica Cristina de Souza Pereira: recebeu R$ 353 mil de fontes suspeitas ligadas ao esquema, sem função detalhada no INSS.
- Vanessa Campos: recebeu R$ 2,3 milhões de fontes suspeitas relacionadas ao esquema, também sem função específica detalhada no INSS.
- Cecilia Rodrigues Mota: advogada; presidiu associações envolvidas, repassou valores a familiares de servidores e aumentou significativamente sua renda.
- Adelino Rodrigues Junior: geriu recursos do esquema; enviou valores à companheira de Virgilio e fez movimentações financeiras fragmentadas e suspeitas.
- Eric Douglas Martins Fidelis: filho de André Paulo; recebeu R$ 3,3 milhões de empresas intermediárias e viu crescimento patrimonial atrelado aos repasses.
Como era o esquema
Segundo o relatório, empresas de fachada, sociedades de propósito específico e até offshores foram usadas para ocultar a origem dos recursos. Análises financeiras mostraram evolução patrimonial incompatível com os rendimentos declarados de vários envolvidos.
A investigação revelou ainda que, mesmo após alerta da CGU e do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a vulnerabilidade dos descontos, o INSS continuou firmando novos acordos com entidades, ampliando a arrecadação e os repasses. Procedimentos internos indicam que, em alguns casos, houve desbloqueio de benefícios para inclusão de descontos, contrariando normas e pareceres técnicos.
Diante das evidências, a Polícia Federal solicitou medidas cautelares, incluindo busca e apreensão domiciliar e pessoal, para preservar provas e interromper a prática criminosa.
Ao todo, 11 entidades são suspeitas de realizar descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024. A operação levou a demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e o afastamento de outros cinco servidores do órgão.
R7