Projeto busca empoderar jovens negros e periféricos para a vida e o trabalho

Blog do  Amaury Alencar
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                                                        fotos: Divulgação/Sesc


O projeto Ancestralidades, do Serviço Social do Comércio (Sesc) Ceará, está causando

impacto ao criar ambiência para diálogos importantes em busca do reconhecimento e da

valorização dos povos nativos do Ceará, ao mesmo tempo em que empodera a juventude

periférica de Fortaleza e Região Metropolitana. Durante todo o ano de 2023, a iniciativa

tem lugar na instituição Quintal Cultural, localizada no bairro Bom Jardim. Por lá, um

grupo composto por cerca de 25 adolescentes, com idades de 10 a 16 anos, está imerso,

desde o início do ano, em discussões sobre temáticas raciais.

Assim como em muitas outras iniciativas dessa natureza que têm sido difundidas no País,

o projeto busca desempenhar um papel fundamental na promoção da conscientização, no

empoderamento e na valorização das identidades culturais, raciais e territoriais,

transformando a vida desses jovens e contribuindo para um Ceará mais diverso e

inclusivo. E isso também diz respeito a essa juventude, que tem buscado cada vez mais

se engajar no mercado de trabalho e no empreendedorismo.

Apesar das intenções positivas contidas nessas ações, do ponto de vista econômico e

social, o cenário ainda é dos mais espinhosos. É o que apontam pesquisas recentes

voltadas para o tema. Um levantamento recente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas (Sebrae), intitulado “Empreendedorismo por Raça-cor (e sexo)”, por

exemplo, apontou que empreendedores negros, mesmo sendo a maioria (52% no Brasil),

ganham menos, têm menor escolaridade, não podem dispor de funcionários - tendo que

trabalhar sozinhos - e acabam por contribuir menos com a Previdência. Para se ter um

ideia, no segundo trimestre de 2022, a renda mensal média dos empreendedores negros

era de R$ 2.079, em contraste com os R$ 3.040 recebidos por empreendedores brancos,

o que equivale a uma média 32% menor para os essa negros.


Ancestralidades - Saiba mais

Com foco constante em melhorar panoramas como esse, o projeto Ancestralidades iniciou

suas atividades com uma profunda reflexão sobre a experiência de ser negro, traçando,

ao longo do ano, a trajetória histórica da população negra no Ceará até chegar ao bairro

em que eles residem.

O projeto se desdobra em três etapas:

● Ancestralidade: A primeira etapa aborda questões sobre ancestralidade,

destacando sua importância e como ela permeia o cotidiano e a história do Ceará

sob a perspectiva dos povos nativos. O grupo já visitou quilombos, territórios

indígenas e pontos históricos em Fortaleza, enriquecendo a vivência cultural com

atividades como capoeira e dança do coco.

● História e Cultura dos Povos Nativos: Na segunda etapa, o projeto se aprofunda no

entendimento da história, cultura e resistência dos povos nativos do Ceará, bem

como em sua organização social;

● Juventude Periférica e Território: Já a terceira etapa se concentra na população

periférica, conectando os diálogos anteriores com a história do bairro onde o

projeto é realizado, questões territoriais e a vivência das famílias.

Para o técnico de programas do Sesc, responsável por implementar a ação, Juscelino

Ferreira, a proposta é importante porque pode combater diretamente o racismo estrutural,

“quebrando o ciclo de estereótipos e discriminações enraizados”, proporcionando uma

nova ótica sobre essa população. “Para a comunidade que está sendo beneficiada, tem a

questão do patrimônio imaterial, de entender suas raízes, além de responder várias

questões sobre costumes e tradições, reorganizar e fortalecer identidades. Pessoalmente,

ainda há a perspectiva de se entender quanto pessoa, de aceitar principalmente seus

traços e abrir um diálogo crítico sobre como sua comunidade é tratada”, explica ele.


Evento em novembro

De 21 a 24 de novembro, o Ancestralidades irá realizar a Semana Sesc de Promoção da

Igualdade Racial, focando na temática da juventude e da periferia. A proposta é de

oferecer uma programação rica, com rodas de conversa sobre periferia e

empreendedorismo, discussões sobre os corpos negros periféricos e suas

interseccionalidades, além de oficinas de turbantes e bijuterias africanas. O evento

culminará com uma atração musical, proporcionando quatro dias de ações voltadas para

a discussão de temas abrangentes que abraçam diversos projetos e territórios em

parceria.

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