Julho sem Expocrato e agora? Produtores e criadores rurais integram grupos nas redes sociais para negociar produtos

Blog do  Amaury Alencar
Nem diante dos cenários mais difíceis de escassez de água, estiagem severa, quem vive no meio rural imaginou que algum dia um vírus pudesse cancelar a tradicional Feira Agropecuária do Crato, que acontece há 69 anos. O evento foi criado há 76 anos e não é a primeira vez que deixa de acontecer, mas por conta de uma pandemia, foi a pioneira. Com esse período que estamos vivendo e sem perspectivas de quando tudo isso acaba, os gestores da feira decidiram que não teremos a Exposição Agropecuária do Crato, a Expocrato em 2020.
Confira alguns dos atrativos da 68ª Exposição Agropecuária do Crato
Foto > George Wilson 
Ao longo dos anos de criação, a cidade de Crato e todo o Cariri, vivem a famosa feira. Ela é realizada com apoio do Governo do Ceará, através da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) e com participação também das associações rurais. Criadores e produtores de todo o Brasil, expõe bovinos, ovinos, caprinos, equinos e tecnologias agropecuárias no Parque de Exposições Pedro Felício Cavalcanti.
O evento reúne milhares de visitantes de cidades do Cariri, de estados vizinhos e de outras regiões do país, aquecendo consideravelmente comércio e turismo locais. A decisão de não realizar a 69ª edição, foi tomada levando como base os decretos de isolamento social do Governo do Estado e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Agronegócio
De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, o agronegócio tem sido reconhecido como um vetor crucial do crescimento econômico brasileiro. Em 2019, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 1,55 trilhão ou 21,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Dentre os segmentos, a maior parcela é do ramo agrícola, que corresponde a 68% desse valor, ou seja, R$ 1,06 trilhão, a pecuária corresponde a 32%, o equivalente a R$ 494,8 bilhões.
Para mim, zootecnista e consultor rural, a feira cresceu significativamente e, consequentemente, cresceu também a participação dos criadores caririenses nos pavilhões da Expocrato. Para se ter ideia, em 2019 aproximadamente 90% dos expositores de bovinos eram integrantes da Associação dos Criadores do Cariri (ACC).
Sem dúvidas, o evento é importante demais para a região, o Estado e até mesmo em âmbito nacional, pois há apresentação genética dos melhores animais, mostra de tecnologias para aumentar a eficiência da propriedade rural, incentivos e conhecimento sendo repassados durante todo o evento. Além do que, este ano o mercado está aquecido, a arroba de boi vem ganhando preço, a procura de matrizes e reprodutores bovinos de corte e leite, ovinos e caprinos está sendo efetiva.
Para um dos gestores da feira, Luiz Gonzaga de Melo,
“Os produtores rurais alegam a não realização como um prejuízo incalculável para o município e região, uma vez que todos os setores ligados ao agronegócio serão afetados. Este ano, segundo eles, teria tudo para ser um grande evento, com precipitação pluviométrica satisfatória e formação de suporte forrageiro suficiente, possivelmente sendo umas das melhores edições dos últimos anos”, explica.
Mesmo assim produtores se articulam nas redes sociais negociando seus animais e indo em busca de melhorar seu rebanho. Profissionais da área estão sendo mais requisitados em propriedades rurais, estou atendendo de forma remota e presencial quando necessário, trabalhando num ritmo diferente, claro, de forma presencial devemos tomar todos os cuidados possíveis.
Quem trabalha no meio rural sabe que reunir esses produtores é complicado mesmo antes da pandemia e a Expocrato, era uma forma de reuni-los, como a gente chama, um meio de “abrir as porteiras da fazenda” e mostrar o que tem de melhor. Assim, mesmo de forma pouco tímida e com apoio de profissionais da área rural, vemos produtos sendo comercializados nas redes sociais e grupos fechados de WhatsApp.
Produtores e criadores se especializaram em criar, editar e analisar vídeos e fotos levando seus produtos além das fronteiras, a empatia toma conta das conversas e quando o comprador se desloca a propriedade rural já sabe o que vai levar e o seu preço, a visita é apenas para conferir a mercadoria e se aproximar melhor da nova fonte de comércio. Além da articulação ser conjunta e a compra fica mais em conta com gastos de deslocamento.
É vida que segue, novas estratégias, novos conceitos e novas tecnologias. A pandemia vai passar e ano que vem, torçamos por uma Feira Agropecuária ainda maior e melhor! 
Badalo