Ministros do governo dizem a Moraes que Bolsonaro quer mudar relação com STF
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personBlog do Amaury Alencar
junho 21, 2020
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Um dia após demitir Abraham Weintraub do Ministério da Educação num
gesto ao STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) enviou, por meio de integrantes da ala jurídica do
governo, recado à corte de que quer distensionar a relação com o
Judiciário. Reprodução
Nesta sexta (19), os ministros Jorge de Oliveira (Secretaria-Geral),
André Mendonça (Justiça) e José Levi do Amaral (Advocacia Geral da
União) viajaram a São Paulo para um encontro com o ministro Alexandre de
Moraes.
Moraes é relator do inquérito das fake news no STF e conduz o caso
das investigações do atos antidemocráticos contra a corte. O ministro
irritou o presidente Jair Bolsonaro ao quebrar sigilos de apoiadores e
aliados políticos.
Oficialmente, a reunião serviu para que os ministros discutissem
processos relacionados à terra indígena Raposa Serra do Sol, prejuízos
ao setor sucroalcooleiro, a possibilidade de o TCU (Tribunal de Contas
da União) declarar indisponibilidade de bens e ação sobre controle de
armas e munições por parte do Exército.
O principal objetivo do encontro, porém, foi buscar uma aproximação com Moraes.
Segundo relato à reportagem, os integrantes do governo disseram que
Bolsonaro está disposto a iniciar um nova fase na relação com o
Judiciário.
Moraes é o relator do inquérito que investiga o disparo de fake news
contra o governo e que atinge aliados de Bolsonaro. Nesta semana, o STF
decidiu que a investigação é constitucional e autorizou o prosseguimento
do inquérito por 10 a 1.
O julgamento levou preocupação ao Planalto por mostrar que o Supremo
está coeso e decidido a barrar o que considera ataques à corte.
Além deste, Moraes também é relator de outro inquérito, que apura a
organização de atos antidemocráticos e que também envolve apoiadores de
Bolsonaro.
A reunião entre os ministros ocorre na semana em que o presidente fez
um dos gestos mais contundentes na tentativa de pacificar sua relação
com a corte ao tirar Weintraub do MEC, cujo anúncio ocorreu nesta quinta
(18).
Em reunião no dia 22, o ex-ministro da Educação chamou de “vagabundos” e defendeu a prisão de ministros do Supremo.
No último domingo (14), ele participou de ato a favor do governo
Bolsonaro um dia após manifestantes terem atirado fogos de artifício
contra o Supremo simulando o bombardeio.
Na ocasião, Weintraub voltou a falar em “vagabundos”, mas não especificou a quem se referia.
A participação do ministro no protesto reforçou os pedidos de integrantes do STF pela demissão do aliado de Bolsonaro.
Temendo o avanço de investigações contra o Executivo, o presidente cedeu e exonerou o aliado.
Na avaliação de integrantes do Supremo, o demissão demorou a ocorrer, mas foi um gesto para distensionar o ambiente com a corte.
Mesmo assim, ministros ressaltam que não vão tolerar ataques desmedidos ao Supremo.
A posição considerada ambígua de Bolsonaro, que ora acena em gesto de
paz ao STF ora reclama da corte, tem irritado os integrantes do
tribunal. Fonte: Folhapress