“A convivência quase diária com os
doentes, que por dever do meu ministério sacerdotal devia visitar e
socorrer, fez-me conhecer de perto a extrema penúria e o doloroso
desconforto desses pobrezinhos quando a enfermidade lhes batia à porta. E
pensava muitas vezes que Sobral já exigia um hospital ”, escreveu Dom
José Tupinambá da Frota, primeiro bispo de Sobral, na introdução do
relatório de construção da Santa Casa de Misericórdia de Sobral.
Idealizada e inaugurada pelo primeiro
bispo da diocese de Sobral, Dom José Tupinambá da Frota, a Santa Casa de
Misericórdia de Sobral (SCMS) abriu suas portas na manhã do dia 24 de
maio de 1925. “Enorme multidão aguardava a chegada do bispo da cidade, e
do Senador João Thomé de Saboya, que desatou os laços de fitas verde e
amarela, que ligavam o portão de ferro da entrada, penetrando logo após o
edifício, ornado a capricho pelas beneméritas Filhas de Sant’Ana”,
enfatizava o nobre jornal Correio da Semana em 27 de maio daquele ano.
95 anos depois, a obra da misericórdia continua sendo referência para a
cidade e toda região norte do estado do Ceará, prestando assistência em
saúde a estimadas 1,8 milhão de pessoas.
De acordo com o atual bispo de Sobral e
provedor do Complexo SCMS, Dom José Luiz Gomes de Vasconcelos, foi com
júbilo e alegria que se deu a inauguração do hospital: “Há 95 anos, no
dia dedicado a Nossa Senhora Auxiliadora, se realizava o sonho de Dom
José em acolher os enfermos, em prestar um serviço social a uma
população tão carente daquela época. Como visionário que era, construiu
uma edificação magnífica, numa rua que mais tarde receberia o seu nome;
construiu a Santa Casa em uma extremidade e na outra extremidade o
Seminário Diocesano, onde hoje funciona a UVA (Universidade Estadual
Vale do Acaraú). Há cinco anos estava chegando à Diocese de Sobral e
rendi graças pelos 90 anos da Santa Casa, cinco anos já se passaram, e a
importância e o legado da instituição para Sobral e região
solidifica-se cada vez mais”, enfatiza.
Fases
A Santa Casa de Misericórdia de Sobral é
referência em assistência e formação em saúde para a população da
região norte do Estado do Ceará. Sua história de 95 anos pode ser
dividida em quatro fases: Misericórdia, Tecnologia, Ensino e Gestão.
Segundo o diretor-geral do Complexo SCMS, Klebson Carvalho Soares, “A
primeira fase, representada pela Misericórdia, é caracterizada pelo
protagonismo de Dom José Tupinambá da Frota com a inauguração da
instituição. A 2ª fase, sendo Tecnologia, foi marcada pelo espírito
empreendedor de Dom Walfrido Teixeira Vieira, que modernizou o Serviço
de diagnóstico com a tomografia e a aquisição da Bomba de Cobalto, que
possibilitou avanços significativos no tratamento oncológico”, destaca.
A fase do Ensino foi desenvolvida pela
visão de educador de Dom Aldo Di Cillo Pagotto, que buscou parcerias com
universidades para a formação dos profissionais da área de saúde,
transformando a Santa Casa em Hospital de Ensino. De acordo com Klebson
Carvalho, a 4ª fase é representada pela Gestão, e é a que o hospital
vive atualmente: “A liderança e os conceitos administrativos de Dom
Vasconcelos são as gêneses do processo de profissionalização da gestão,
alicerçados nos pilares de qualidade, humanização, segurança e
sustentabilidade”, explica.
Qualidade em assistência
A Santa Casa realiza atendimentos
clínico-cirúrgicos e procedimentos que necessitam de alta tecnologia,
como neurocirurgia, neurorradiologia intervencionista, oncologia,
cirurgia e hemodinâmica cardiovascular, terapia intensiva, terapia renal
substitutiva e transplante de córneas. A instituição oferece desde sua
fundação auxílio espiritual cristão, por meio das Religiosas Filhas de
Sant’Ana a todos que necessitam de atenção hospitalar.
Hospital de Ensino
De acordo com o diretor do Departamento
de Ensino, Pesquisa e Extensão (DEPE) da instituição, Vicente de Paulo
Teixeira Pinto, o desafio iniciado por Dom José resultou na construção
do maior hospital filantrópico do norte nordeste do país: “A Santa Casa
exerce com primazia a formação de profissionais da saúde. Certificada
como hospital de ensino pelos ministérios da Educação e Saúde desde
2007, desenvolve parcerias no processo de formação de 10 profissões da
saúde, nove programas de residência médica, sendo os primeiros
implantados no interior do Ceará, e outros dois programas de residência
multiprofissional”, ressalta.
O Complexo
O enorme dever com a saúde das pessoas,
presentes na missão da Santa Casa desde sua fundação, se desenvolveu e
garantiu mais oportunidades de atenção e cuidado à população. Das
inúmeras necessidades que surgiram no hospital, nasceram unidades, o
Abrigo Sagrado Coração de Jesus, o Hospital do Coração, a Clínica Dom
Odelir, o Hospital Dom Walfrido e visando mais formas de colaboração com
nossas despesas surge também o Visconde Hotel e Restaurante, formando o
Complexo SCMS.
Neste contexto comemorativo, o
diretor-geral do Complexo SCMS, Klebson carvalho, agradece a todos os
colaboradores e parceiros que fizeram e fazem parte da história da Santa
Casa na missão de salvar vidas: “Nascemos de ideais cristãos e há 95
anos trabalhamos com cuidado, com amor, com a vontade de fazer o bem.
Somos todos Santa Casa de Misericórdia de Sobral”, enfatiza.
Personagens
Lembranças de desenvolvimento
José Henrique Gurgel, 68, é médico da
Santa Casa há 40 anos. Admitido em dezembro de 1980, observou e
colaborou com várias mudanças no processo de desenvolvimento do
hospital: “Fui convidado em 1980 pelo Pe. José Linhares para abrir uma
UTI (Unidade de Terapia Intensiva), até então não tinha essa estrutura
na instituição; , em outubro daquele ano inauguramos a UTI que temos
hoje. Foi um desafio grande, pois não tínhamos um corpo de médicos
intensivistas e uma equipe de enfermagem. Fui treinando intensivistas e
enfermeiras. Apesar de não termos meios de ganhar novos conhecimentos de
atualizações na medicina, foquei na UTI, e começaram a aparecer as
bombas de infusão, respiradores, fui aperfeiçoando as técnicas de
tratamento intensivo. Ao longo dos anos o hospital foi se desenvolvendo
também na cardiologia, com a criação do Hospital do Coração, na
hemodiálise, com a chegada dos nefrologistas e na neurologia, pois os
neurocirurgiões também deram um upgrade na UTI”, lembra o médico.
A chegada dos estudantes no hospital,
também marca as lembranças de Dr. Henrique: “Há uns 15 ou 20 anos
apareceu a Faculdade de Medicina, e os alunos foram se aperfeiçoando com
seus internatos. Foi criada também a residência médica e até hoje
estamos orientando, sempre buscando atualizações científicas para
colaborarmos ainda mais com a saúde de Sobral e região”, destaca.
Como uma Mãe que acolhe
Maria Sílvia Júlio, 59, é técnica em
Enfermagem da Santa Casa há mais de 40 anos. Atualmente exerce sua
função no setor de Pediatria, mas lembra de por onde já esteve ao longo
dos anos: “Passei um ano nas clínicas, e mais de 12 anos na UTI Adulto”.
Sempre admirada com a procura e capacidade de acolhimento do hospital
filantrópico, enxerga nas mudanças, a constante busca pela saúde e
bem-estar do próximo: “Mudanças na estrutura, aumento de leitos, setores
e quadro de funcionários. Em termos de atendimento, veio a informática,
e o hospital se modernizou. Hoje somos também um hospital escola, que é
referência pela dedicação, amor, competência dos funcionários. A Santa
Casa é importante porque é como se fosse uma mãe, quem chega é bem
acolhido por médicos e uma equipe de enfermagem bem preparada”, destaca.
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