A pandemia de
coronavírus afastou clientes de restaurantes, fechou escolas e academias
e deixou em situação mais desesperadora quem é autônomo, ou seja, não
tem um salário fixo, ganha pelo serviço que oferece. É a diarista, o
personal trainer, o dono da floricultura, da lanchonete.
Preocupados com essa categoria, o movimento
nas redes sociais #compredopequeno, que incentiva que os consumidores
busquem produtos locais para incentivar a economia e garantir renda aos
microempreendedores, ganhou uma nova nuance. Quem é assalariado está
sendo chamado nas redes sociais a ajudar os pequenos produtores a ter
pelo menos parte da renda no fim do mês.
A fotógrafa de Brasília, Bárbara Borges,
achou melhor desistir de alguns serviços para evitar aglomerações e
qualquer chance de propagação do covid-19. “Eu já me preparei para ficar
em casa por 3 meses e sei que vou fazer dívida. Eu prefiro esse cenário
de dívidas do que comprometer a saúde da minha família e dos meus
clientes.”
Ela ressaltou que se preocupa com o descaso
da população em geral com a possibilidade de agravamento do quadro
atual. “Fui uma das primeiras do segmento a tomar essa medida mesmo
tendo grandes impactos econômicos na minha vida. Mas antes precisar
diminuir meu padrão de vida do que aumentar o risco em outras pessoas
como meus pais e pais de outros”, conta.
Alimentação
Pelas redes sociais, a padaria artesanal
Castália fez um apelo aos clientes.”Depois de escolas, universidades,
academias, e museus fecharem por medida de precaução ao covid-19, o
próximo setor atingido será o da alimentação. Pedimos a todos que apoiem
nossos produtores locais e pequenos negócios que possuem baixas margens
em paralelo a altos custos fixos. Em situação de quarentena, lembrem-se
de comprar cervejas artesanais, kombuchas, chocolates, queijos,
iogurtes, queijos e cafés da galera local. E, claro, uns pães para
congelar. Principalmente, cuidemos uns dos outros.”
O movimento #apoiepequenosnegocios circula
pelas redes sociais como Whatsapp e Instagram com a mensagem “Pequenos
negócios correm muito risco com a covid-19. Um mês difícil pode
“quebrar” um negócio! Peça comida das lanchonetes. Compre no petshop da
esquina e não nas grandes redes. Vá na mercearia perto da sua casa e não
na grande rede de supermercado.”
Saúde
A fisioterapeuta Fabiana Maia de Carvalho,
33 anos, já teve uma queda de cerca de 30% nos atendimentos no mês de
março. “Pacientes do grupo de risco já estão interrompendo tratamento e
parando pilates e para os próximos meses acredito de 60% a 70% de
redução. Espero que esse cenário seja passageiro e sem grandes
contaminações.”
Medidas
O governo federal já prepara medidas de socorro aos micro empresários.
Na última segunda-feira (16), o Ministério da Economia divulgou que
pretende permitir a isenção, por três meses, das contribuições dos
empresários para o FGTS (R$ 30 bilhões) e da parte da União no Simples
Nacional (R$ 22,2 bilhões). O Programa de Geração de Renda (Proger), do
Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) reforçará o crédito a micro e
pequenas empresas em R$ 5 bilhões.
Para proteger os trabalhadores informais, as
pessoas sem assistência social e a população que desistiu de procurar
emprego, o governo divulgou também na última semana que distribuirá vouchers (cupons)
por três meses. A medida consumirá R$ 15 bilhões – R$ 5 bilhões por mês
– e terá como objetivo amparar as camadas mais vulneráveis à crise
econômica criada pela pandemia de coronavírus.
O benefício terá valor equivalente ao do
Bolsa Família e começará a ser distribuído nas próximas semanas. Os
vouchers poderão ser retirados por pessoas inscritas no Cadastro Único
para Programas Sociais do Governo Federal, instrumento administrado pelo
Ministério da Cidadania que identifica e caracteriza as famílias de
baixa renda, desde que o beneficiário não receba nenhum benefício
social, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada
(BPC).
Mudança de estratégia
De acordo com o gerente de Relacionamento
com o Cliente do Sebrae, Enio Pinto, o pequeno negócio tem mais
agilidade e pode se adequar mais rapidamente e dar respostas mais
rápidas, no contexto de crise. Segundo o especialista, na medida em que a
população se vê forçada a circular menos e evita sair de casa, o
consumo de produtos e serviços tende a ter uma queda significativa e é
preciso buscar o equilíbrio com aumento da receitas e redução de custos.
O Sebrae sugeriu cinco medidas para
comerciantes em momentos de crise. A primeira delas é aderir ao uso das
mídias sociais: “No momento em que o cliente se retraiu e está
praticamente recluso em casa, os donos de pequenos negócios precisam
usar ferramentas digitais para chegar até o público. Uma solução rápida e
de baixo custo é investir na criação de perfis da empresa nas
principais mídias sociais (Instagram e Facebook)”.
A segunda é criar plataformas de vendas
online. “Se a sua empresa ainda não conta com ferramentas de venda
online, esse é o momento de tomar essa atitude. Avalie qual das
diferentes plataformas disponíveis no mercado mais se adequa às suas
necessidades”.
Para os prestadores de serviço, uma alternativa que o Sebrae recomenda é se adequar para pagar as taxas cobradas pelos aplicativos de delivery.
“No segmento de alimentação, a adesão dos bares e restaurantes a esses
aplicativos se tornou praticamente uma necessidade neste momento de
crise provocada pelo Coronavírus. Se você ainda tinha alguma resistência
a esse modelo, essa é a hora de repensar sua estratégia”, diz.
A administradora e confeiteira Leilane Elias
Fernandes, 39 anos, de Brasília, estava com orçamentos praticamente
fechados, com doces e bolos encomendados para o mês de março e viu o
movimento cair. “Festas que iam confirmar nesta semana estão sem datas.
Outras, que eram bolos grandes, passaram para bolos pequenos. Nao tenho
ideia de quando a situação vai normalizar. Mas a minha expectativa são
as vendas paralelas do ifood”, conta.
Camila Graciano, 32 anos, personal trainer
de Belo Horizonte calcula que teve prejuízo de 20% com as medidas
iniciais de combate ao coronavírus. Mas acha que será muito pior nos
próximos meses. “O receio é grande. Já ofereci para preparar programas
de treinamento para realizarem sozinhos ou que podemos fazer ao ar
livre. Expliquei que como sou totalmente autônoma dependo dessa renda
para pagar minhas contas, aluguel, alimentação. Estou pensando em
diversas formas de minimizar o prejuízo.”
Conhecer os custos
O Sebrae recomenda também que os pequenos
empreendedores avaliem seus custos. “É fundamental que o empreendedor
conheça profundamente os custos da sua empresa e seja capaz de avaliar
quais são aqueles imprescindíveis para manter o negócio operando. Em um
contexto de queda do faturamento, ele precisa priorizar aqueles que são
realmente fundamentais e cortar ou reduzir os demais”.
Segundo o Sebrae, o momento pode exigir
negociação com seus fornecedores. “Essa negociação pode trazer o fôlego
necessário para manter em dia aqueles gastos e despesas que não podem
ser adiados.