Os impactos da pandemia do novo coronavírus
na economia cearense ainda não foram mensurados de forma oficial pelo
Governo do Estado, mas os setores já projetam volta à recessão em 2020,
após três anos de lenta recuperação econômica no Brasil e Ceará, de 2017
a 2019 - apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) estadual referente ao
ano passado ainda não ter sido divulgado.
O presidente do Instituto de Pesquisas e Estratégias
Econômicas do Ceará (Ipece), João Mário França, admite que,
dificilmente, o Estado escapará de nova crise econômica. Antes da
pandemia, a expectativa era que o PIB estadual atingisse expansão de
2,3% neste ano, percentual que está sendo revisado e deverá acompanhar a
tendência nacional. No País, o Governo Federal já reduziu para de 2,1%
para 0,02% o crescimento da economia.
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), também já
sinalizou que a economia estadual deverá sofrer um baque, mas ponderou
que o grande desafio agora é do ponto de vista da saúde pública, sendo
preciso intensificar as medidas de prevenção e combate à Covid-19. "O
grande desafio será na próxima semana. A economia a gente busca depois
recuperar. Vidas a gente tem que salvar", declarou.
O ministro da Saúde, Ricardo Mandetta, também anunciou
que, no fim do próximo mês, a situação no País deve piorar, considerando
que o Sistema Único de Saúde (SUS) chegará ao seu limite operacional e
entrar em colapso. A paralisação de grande parte do comércio e
indústria, aliada à previsão de caos na saúde, deixa o mercado ainda
mais pessimista. A estimativa é que, em razão do pico da doença, o
período de quarentena seja estendido, aumentando ainda mais os prejuízos
para as empresas.
Em meio ao clima de temor da doença, os setores já
começaram a calcular as perdas no Ceará. O segmento de alimentação fora
do lar, por exemplo, já demitiu cerca de 5 mil trabalhadores, segundo
Rodolphe Trindade, presidente da Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes no Estado (Abrasel).
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços
e Turismo do Ceará (Fecomércio), Maurício Filizola, diz que mantém
contato com empresários dos respectivos setores e informa que, até o
momento, não ocorreram demissões em razão do fechamento dos
estabelecimentos. Porém, empresários já preveem e temem a necessidade de
mais dias de quarentena.
Filizola reforça a cobrança das empresas aos governos
federal, estadual e municipal, que vão desde medidas que abonem
momentaneamente os estabelecimentos fechados do pagamento de impostos,
até o adiantamento de feriados do segundo semestre.
"Comparo a atual situação com o que aconteceu na greve
dos caminhoneiros, mas é ainda mais preocupante. Depois de passada a
crise, vamos ter que trabalhar em dobro para recuperar a economia",
reforça.
De acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a
economia brasileira poderá cair 4,4% em 2020 devido ao coronavírus,
levando o País a sentir os efeitos negativos da pandemia até 2023. Se
confirmada, essa seria a maior queda nominal (sem considerar efeitos da
inflação) da economia desde 1962, quando começa a série histórica
disponível no site do Banco Central.
Um dos setores mais impactados com a crise econômica do
Brasil, principalmente nos anos de 2015 e 2016, a indústria teme os
efeitos da pandemia. Segundo Lauro chaves Neto, assessor econômico da
Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e professor da
Universidade Estadual do Ceará (Uece), não há como o setor escapar das
perdas. Mas pondera que o tamanho delas vai depender do ciclo de duração
da pandemia. "Por isso, seja no Brasil ou Ceará, não podemos afirmar se
a queda do PIB será de 3% ou 5%".
"O mais importante nesse momento é, no âmbito social,
salvarmos vidas e, no âmbito econômico, estabelecermos um pacto entre o
setor produtivo e o poder público, não só para amenizar as consequências
da crise, como também para estabelecermos as bases para a retomada da
economia pós crise", afirma.
BNDES anuncia pacote de
R$ 55 bilhões para manter empregos
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) Gustavo Montezano, disse ontem, em entrevista
transmitida pelo YouTube que teve a participação do presidente Jair
Bolsonaro no encerramento, que as medidas anunciadas, de injeção de R$
55 bilhões na economia, são apenas um primeiro passo e que novas ações
para ajudar a economia atravessar a pandemia do coronavírus estão sendo
estudadas.
"Hoje a gente está dando o primeiro passo
nessa jornada que o banco adentra junto com a população brasileira no
enfrentamento dessa crise", afirmou Montezano.
As
primeiras medidas foram classificadas por ele como transversais, que
abarcam todos os setores que estão presentes na carteira de crédito do
banco e nos cidadãos via Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
O
banco anunciou que vai destinar R$ 20 bilhões - obtidos com a venda de
ações da Petrobras - para o pagamento extraordinário de FGTS e
PIS/Pasep. Também decidiu pela suspensão temporária do pagamento de
parcelas de financiamentos diretos e indiretos, e a ampliação de crédito
para micro, pequenas e médias empresas.
Segundo Montezano, do total anunciado, R$ 35 bilhões visam dar alívio ao caixa das empresas.
Desde
ontem, anunciou, começaram a ser tomadas medidas setoriais, e
concordância com o Governo Federal. "Nós somos um time, o BNDES é um
braço operacional do Governo e tudo o que a gente decide é feito em
coordenação com os ministérios Presidência", explicou. "Isso aqui (a
crise do coronavírus) é algo novo, então as soluções não devem ser
comparadas aquelas utilizadas em crises financeiras do passado",
completou. As medidas será enquanto a crise perdurar.
(Agência Estado)
(Agência Estado)
Turismo é uma das atividades mais prejudicadas com a crise
Atividade importante para a economia cearense, o
turismo teme que, com o fim do período de pandemia do novo coronavírus,
não consiga captar os visitantes que já estavam com viagens marcadas e
tiveram de adiar por conta do período da quarentena no Estado. Por isso,
fazem campanhas publicitárias para que os turistas não cancelem
pacotes, mas remarquem as viagens.
"O turismo parou
completamente porque as pessoas precisam se isolar nesse momento. O
Governo precisa oferecer mecanismos de ajuda aos negócios do setor
também, muito importante para o Estado e que vinha em constante
crescimento. Ao passo que os empresários também não devem tomar medidas
que possam ser nocivas aos trabalhadores", diz.
O
problema se estende ao País inteiro, o setor é impactado pelo
cancelamento de voos internacionais e desaconselhamento a voos
nacionais, além do fechamento das das divisas no caso de alguns estados
como o Ceará. Apesar de preocupado com os efeitos negativos da cadeia do
turismo, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
(ABIH), Manoel Linhares, observa que o turismo foi o primeiro segmento a
sofrer com a pandemia, mas também será o primeiro a sair dela.
"Nossa
cadeia é composta por mais de 50 atividades. O Brasil e o mundo todo
está sendo impactado, assim como o Ceará. Mas as atitudes tomadas em
âmbito estadual, por exemplo, foram necessárias para que a gente possa
voltar às atividade o mais rápido possível. Na China e na Itália, o
coronavírus chegou a níveis bem piores, por isso, precisamos de atitudes
radicais para evitar que a situação se agrave", aponta.
Caixa do Governo Federal
Governo Federal teria de contingenciar (bloquear)
R$ 37,553 bilhões do Orçamento neste ano. A equipe econômica, no
entanto, não precisará mais fazer o corte porque o Congresso aprovou o
decreto de estado de calamidade pública, que suspende o cumprimento da
meta fiscal de déficit primário de R$ 124,1 bilhões.
o Povo