Uma tragédia às vésperas do Natal deixou pelo
menos cinco pessoas mortas, na madrugada desta terça-feira (24). Uma
barreira deslizou, provavelmente após o vazamento de um cano de água,
por volta das 2h30min, na Rua Bela Vista, no Córrego do Morcego, em Dois
Unidos, Zona Norte do Recife. Duas casas foram atingidas. Entre as
cinco pessoas que morreram na hora estão duas crianças - um bebê de 2
meses e uma menina de 9 anos, todas da mesma família. Outras duas
pessoas permanecem desaparecidas em meio aos escombros e à lama. Três
pessoas foram retiradas por populares e levadas para hospitais da
região, e passam bem. O trabalho de resgate e avaliação da área
prossegue no local.
Segundo as primeiras informações, dadas por
moradores da região, o deslizamento de barreira aconteceu após um cano
começar a vazar água. Erivaldo Barbosa, motorista de aplicativo, é
parente das vítimas do acidente. Conforme seu relato, o problema com os
canos não é de hoje. Ele conta que, em julho de 2000, a terra cedeu "do
mesmo jeito" e atingiu duas casas, que estavam desocupadas no momento.
Segundo ele, não deu para perceber a água pingando. "Aconteceu de
repente. Quando eu sai de casa, estava jorrando água", contou.
De acordo com o engenheiro civil da Compesa, Aprigio
Trajano, não havia vazamento pendente na área, e a empresa fará uma
vistoria na região para saber se o deslizamento de terra foi causado
pelo rompimento da tubulação, ou pelo deslizamento da barreira. "Há
registros antigos de reclamação, que já foram sanados. Ontem e hoje não
houve nenhum registro de vazamento", garantiu.
Os moradores contam que, nessa segunda-feira, chegou
água no morro, que é distribuída através de um sistema de rodízio. No
entanto, o engenheiro garante que o abastecimento acontece sempre,
"então o rompimento não foi causado pelo rodízio". Conforme o técnico,
no momento do deslizamento, inclusive, o abastecimento estava sendo
realizado.
O Corpo de Bombeiros foi acionado as 2h55min e enviou
seis viaturas para o local, sendo duas de busca e salvamento, uma de
busca com cachorros, uma de comando operacional e duas de resgate.
Também foram vítimas da tragédia Lucimar Alves, de 50 anos, e sua neta, Daffyne Kauane Alves, de nove anos.
Ficaram feridos o casal Cristina Gomes da Silva, de 43
anos, e Luiz Tadeu, de 56 anos. Eles foram levados até o Hospital da
Restauração e para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Nova
Descoberta, respectivamente, e passam bem.
Otoniel Simião da Silva, de 57 anos, marido de Lucimar
Alves e primo de Emanuel, também foi levado para a UPA de Nova
Descoberta, e não há divulgação sobre seu estado de saúde.
Relato
Luiz Tadeu Costa, de 56 anos, uma das vítimas do
soterramento, estava dormindo com sua esposa, Cristina Gomes da Silva,
de 43 anos, na hora em que o incidente aconteceu. “Naquele sono
profundo, senti aquilo [destroços e lama] me empurrar e já vieram as
telhas [da casa] por cima de mim. Me encolhi e coloquei as pernas por
cima da minha esposa, para protegê-la da pancada. Por isso estou com
escoriações, cortei o pé. Consegui proteger a cabeça dela, mas parece
que ela ainda machucou os pés", relatou.
O encarregado de manutenção ficou debaixo de uma parede
que caiu. "Eu gritei e vi o pessoal se aproximando e falando ‘tem gente
aqui’, aí eu disse ‘sou eu’. Tiraram logo ela [sua esposa], que estava
embaixo, e levantaram a parede para eu sair.
Luiz Tadeu Costa foi levado para a UPA de Nova Descoberta e Cristina Gomes para o Hospital da Restauração. Ambos passam bem.
Córrego do Boleiro
Se ficar confirmado que o deslizamento ocorreu após o
vazamento de um cano, não é algo novo no Recife. Doze pessoas morreram
no Córrego do Boleiro, também na Zona Norte da capital, na madrugada do
dia 29 de abril de 1996. Primeiro uma barreira deslizou e, em seguida,
houve o rompimento do cano da Compesa, arrastando o que via pela frente.
Dez casas acabaram completamente destruídas.
Há exatos cinco meses, em 24 de julho, uma outra
tragédia ocorreu no Grande Recife. No bairro de Caetés I, na cidade de
Abreu e Lima, cinco pessoas, sendo quatro de uma mesma família, entre
elas uma grávida, morreram. Devido a fortes chuvas naquele dia, uma
barreira deslizou por cima da casa onde morava um casal e três filhos.
Apenas a mulher, Hariana Xavier, sobreviveu. Um vizinho também morreu.
Do Jornal do Commercio para a Rede Nordeste