Procuradores da Lava Jato reagem a Toffoli, e Deltan vê ‘irresponsabilidade’ em críticas
Procuradores da Lava Jato reagiram nesta segunda-feira (16) contra as
críticas feitas pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias
Toffoli, de que a operação “destruiu empresas” e que há falta de
transparência no Ministério Público.
O chefe da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol, chamou as
falas de Toffoli de “irresponsabilidade”. O procurador Roberson
Pozzobon, também integrante do grupo, chegou a questionar as declarações
relembrando a instauração de inquérito polêmico sobre fake news por
parte do presidente do Supremo.
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Toffoli afirmou que a
Lava Jato foi muito importante, “mas destruiu empresas” e que “isso
jamais aconteceria nos Estados Unidos, jamais aconteceu na Alemanha”. Em
relação ao Ministério Público, disse que “deveria ser uma instituição
mais transparente”.
Além de classificar a fala como “irresponsabilidade”, Deltan disse em
sua conta no Twitter que a afirmação “é fechar os olhos para o fato de
que a Lava Jato vem recuperando por meio dos acordos mais de R$ 14
bilhões para os cofres públicos, algo inédito na história”.
Ele continuou: “É fechar os olhos para a crise econômica relacionada a
fatores que incluem incompetência, má gestão e corrupção. Segundo: É
culpar pelo homicídio o policial porque ele descobriu o corpo da vítima,
negligenciando o criminoso. Os responsáveis são os criminosos. A Lava
Jato aplicou a lei”.
“É, assim, fechar os olhos para a raiz do problema, a prática por
muitos políticos e empresários de uma corrupção político-partidária
sanguessuga, que drena a vida dos brasileiros”, prosseguiu.
Deltan disse ainda que a Lava Jato seguirá aplicando a lei, que, em sua avaliação, ainda é muito “inefetiva” no Brasil.
“Nos Estados Unidos, a prisão acontece depois da primeira ou segunda
instância. Sem efetividade da lei, não há rule of law ou estado de
direito”, ressaltou.
“A Lava Jato foi muito importante, desvendou casos de corrupção,
colocou pessoas na cadeia, colocou o Brasil numa outra dimensão do ponto
de vista do combate à corrupção, não há dúvida. Mas destruiu empresas.
Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos. Jamais aconteceu na
Alemanha. Nos Estados Unidos tem empresário com prisão perpétua, porque
lá é possível, mas a empresa dele sobreviveu. A nossa legislação
funcionou bem para a colaboração premiada da pessoa física.
Mas a da
pessoa jurídica não ficou clara. Então nós criamos um comitê
interinstitucional para dar uma solução para esse problema. Muitas vezes
o Judiciário pode ter essa função extrajudicial. Pela respeitabilidade,
pode ser um árbitro para proposições e solução de problemas”, afirmou
Toffoli.
Integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador Roberson Pozzobon também saiu em defesa das investigações.
“A Lava Jato não ‘destruiu’ empresa nenhuma. Descobriu graves
ilícitos praticados por empresas e as responsabilizou, nos termos da
lei. A outra opção seria não investigar ou não responsabilizar. Isso a
Lava Jato não fez”, afirmou.
Ele também rebateu o comentário de Toffoli de que o Ministério
Publico deveria ser mais transparente citando o inquérito aberto pelo
presidente do Supremo para apurar ameaças, ofensas e supostas fake news
disparadas contra integrantes da Corte e seus familiares nas redes
sociais.
O ministro Alexandre de Moraes foi designado como relator do caso por Toffoli, sem realização de sorteio.
“Interessante comentário de quem determinou a instauração de
inquérito no STF de ofício, designou relator ‘ad hoc’ (para esta
específica função) e impediu por meses o MP de conhecer a apuração”,
afirmou Pozzobon em publicação no Twitter
.(FolhaPress)