O presidente Jair Bolsonaro avaliou
abertamente neste sábado, 21, a possibilidade de uma chapa com o
ministro da Justiça, Sérgio Moro, como seu vice nas eleições de 2022.
Ele disse que é cedo para se apostar na composição com o ex-juiz da
Operação Lava Jato. Mas afirmou que Moro, apesar de ainda não ter virado
político, "está em adaptação".
A menção a Moro acontece na semana em que seu
filho, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), foi alvo de busca e
apreensão em investigação sobre suposto desvio de verbas na Assembleia
Legislativa do Rio.
Segundo o presidente, "todo mundo fala" que o ministro,
caso concorra à eleição presidencial de 2022, "tem muita chance".
"Agora, tem de perguntar pro Moro se ele quer, ele agora sabe o que é
política."
Ao mesmo tempo, Bolsonaro admitiu que, se for preciso,
pode substituir o general Hamilton Mourão como candidato a vice. "Se eu
estiver bem, posso ser candidato à reeleição. Questão do vice é peça
fundamental na campanha. Mourão está indo bem. Agora, vamos supor que eu
esteja razoavelmente bem e tenha que trocar essa peça: já falei com
Mourão sobre isso aí."
O presidente reconheceu que teve uma relação
"tumultuada" com Mourão no começo do governo. Agora, segundo ele, isso
está superado. Bolsonaro disse que Mourão "está indo muito bem", mas
que, se preciso, poderá escolher outro candidato a vice em 2022. "É uma
pessoa bastante equilibrada e sensata. Até ele, se quiser, vamos supor
que outro cara queira ser candidato a presidente e ele queira ser vice.
Direito dele", declarou.
A ideia de ter Moro como vice foi sugerida no começo do
mês pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo e amigo de Bolsonaro,
Luiz Eduardo Ramos. Ao Estado, ele afirmou que a chapa seria imbatível.
Bolsonaro afastou, então, a solução. Disse que estava casado com Mourão.
"Sou sem amante."
Convite
O nome de Moro volta ainda a ser mencionado depois que
pesquisa Ibope mostrou que a avaliação negativa do governo cresceu de
34% para 38%, e sua aprovação oscilou de 31% para 29%. Pesquisas
mostraram ainda que a aprovação de Moro é maior do que a do presidente.
Neste sábado, Bolsonaro convidou jornalistas para uma visita ao Palácio
da Alvorada, um dia depois de ofender repórteres na porta do local.
Na sexta-feira, Bolsonaro se exaltara ao ser
questionado sobre a operação de busca que teve Flávio como alvo. Neste
sábado, evitou elevar o tom de voz. Chegou a dizer que questionamentos
sobre o processo não teriam réplica, mas acabou respondendo às
perguntas. Na conversa, em tom informal, Bolsonaro usava uma camiseta do
Flamengo e afastava moscas com tapas no ar. Ele disse que a condução da
investigação contra Flávio pelo Ministério Público do Rio "está sendo
um abuso" e que, se teve um "estardalhaço enorme", pode ter sido por
"falta de materialidade".
"O processo tá em segredo de Justiça. Tá, né. Quem é
que julga, o MP ou o juiz? Os caras vazam e julgam. Paciência, pô, qual a
intenção, um estardalhaço enorme, será porque falta materialidade para
ele? E que vale o desgaste agora? Quem está feliz com essa exposição
absurda na mídia? Alguém está feliz com isso. Agora, se eu não tiver a
cabeça no lugar, eu alopro", afirmou.
E defendeu a necessidade de controle do Ministério
Público. "É assim que deve se comportar o Ministério Público? Vou até
fazer uma questão sobre o abuso de autoridade, vetos derrubados. Se
chega a esse ponto. Todo poder deve ter um controle. Não é só o
Executivo. Quando começa buscar pelo em ovo, eu sou réu no Supremo. Já
sofri muito."
Bolsonaro disse que se controla ao falar com
jornalistas e que a mídia o "provoca" para conseguir manchete. E que
reflete sobre algumas declarações e se arrepende. Comparou a relação com
a imprensa ao futebol: "Ali na frente, de vez em quando, você manda seu
colega para a ponta da praia (base da Marinha que teria sido usada como
local de tortura na ditadura). Depois vai tomar uma tubaína com ele".
Após ter dito a um jornalista que ele tinha "uma cara de homossexual
terrível", o presidente reconheceu o erro: "Não devia ter falado".
Bolsonaro fez um balanço do primeiro ano de governo. "É
uma vida sacrificante. Geralmente, é uma monotonia", disse. E
completou: "Tá difícil dia para ser feliz, cara. É só problema. A
felicidade é que não tem aparecido nada sobre corrupção. Pode aparecer,
nunca se sabe, né? Mas não apareceu nada." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.