Joice é tirada da liderança do Governo em meio a crise

Blog do  Amaury Alencar

A líder do governo de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, deputada federal Joice Hasselmann, foi retirada do posto ontem (17), em meio a processos de remanejo de nomes no PSL, partido que integra. Em seu lugar deverá ficar o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), que é vice-líder.



Após a decisão do presidente de tirá-la da liderança do governo, Joice disse à imprensa que ganhava “uma carta de alforria, graças a Deus”. Ela comentou, ainda, que não chegou a ser avisada formalmente por um representante do governo.

“Passei esse tempo todo servindo ao governo de forma leal. Inclusive deixando de cuidar do meu mandato para gerir crises e apagar incêndios. Abri mão da minha família”, disse ela, em entrevista à Folha de S.Paulo. “Em alguns momentos, tive que engolir sapo para defender coisas que eu não concordo.”

“[Fiz o papel] o papel de líder do governo no Congresso e na Câmara! Assumi os dois papéis pela falta de habilidade do governo na Câmara”, pontua, ainda, a ex-líder. Ela conta que pretende se dedicar à sua candidatura para a Prefeitura de São Paulo em 2020, já tendo iniciado o processo de articulação para o pleito.

No entendimento da deputada, o episódio é ligado às recentes movimentações entre parlamentares do PSL em disputa pelo posto de liderança do partido na Câmara dos Deputados. Na última quarta-feira (16), o campo pró-Bolsonaro da legenda tentou destituir Delegado Waldir (PSL-GO) do cargo e substituí-lo por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.

O embate se deu através de uma “guerra de listas” montada pelas diferentes alas do partido, com uma reunindo assinaturas de parlamentares pedindo a alocação de Eduardo ao posto e outra reivindicando a permanência do atual líder. A Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados confirmou, na tarde de ontem, que Waldir permanece na posição, com uma das listas, com 29 assinaturas, tendo sido validada.

Além desse episódio, outra investida do presidente nacional do partido, Luciano Bivar, foi a destituição de Eduardo Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro dos comandos do partido nos diretórios de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Outra aliada de Bolsonaro, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) também foi removida da presidência do PSL do Distrito Federal.









O presidente Jair Bolsonaro e Luciano Bivar estão há mais de uma semana em atrito, depois de o presidente afirmar que o colega está “queimado pra caramba”, em uma gravação vazada na internet. Ao longo desse período, Bivar também foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) que investiga suposto esquema de candidaturas de laranjas, conforme divulgado na imprensa no início deste ano. O escândalo dos laranjas também já derrubou o ministro Gustavo Bebianno e provocou o indiciamento e a denúncia do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo).

Conforme informações que circulam nos bastidores, Bolsonaro tem defendido, em conversas privadas, a necessidade de se criar um movimento maior de apoio a ele e que eleve a pressão sobre Bivar para a realização de uma auditoria externa nas contas do PSL. A ideia teria sido a de usar eventuais irregularidades nos documentos como justa causa para uma desfiliação de deputados da sigla, o que evitaria perda de mandato.

O presidente também estaria comprometido a sair do partido apenas caso consiga oficializar uma migração segura de cerca de 20 deputados da sigla (de uma bancada de 53) para outro partido. Conforme a lei brasileira, os parlamentares que decidam se desfiliar da legenda pela qual foram eleitos podem perder o mandato, uma vez que a legislação parte do princípio de que o eleitor direciona o voto, no Legislativo, para o partido, e não só para o candidato.