Perícia Forense do Ceará une tecnologia com agilidade para ser referência nacional

 

Dentro da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), um crime, definitivamente, possui diversas formas de ser desvendado. Com investimento de quase R$ 33 milhões de 2023 para cá, por parte do Governo do Estado, o órgão vem se destacando cada vez mais nacionalmente, cooperando, inclusive, na solução de casos em outros estados em várias frentes, como na análise balística e tipificação de material genético.

O Quantum é, possivelmente, o exemplo que melhor ilustra a situação. O microscópio virtual possui uma qualidade de foco superior a outros e é parte vital da análise balística. O aparelho foi adquirido pelo Governo do Ceará por mais de R$ 1,3 milhão e é único na América Latina. Há 9 anos na Pefoce, Gervásio Fontenele, 47 anos, é um dos oito peritos criminais do setor de balística. O profissional explicou o passo a passo dentro de um caso. Após a cena criminosa, a equipe de campo leva até o setor um ou mais projéteis deflagrados no local. Então, é necessária a realização de uma comparação entre o objeto trazido e outro projétil criado em ambiente controlado, dentro de um tanque coletor que é capaz de suportar diversos calibres, inclusive .556 e .765 (fuzil). Todo o processo de investigação é finalizado com a utilização do Quantum dentro da análise. “Antes tudo era feito com o uso de um microscópio óptico VisionX, que ainda é utilizado pela equipe nos casos, mas de uma maneira complementar. A análise de um par de projéteis que demorava 1h30 agora é feita em 30 minutos. Quando projetamos esse ganho de tempo em um maior número de projéteis, armas, é algo bastante substancial”, disse Gervásio.

Um dos casos contados pelo perito mostra o impacto direto, inclusive, no efetivo das forças de segurança do Ceará. “Por exemplo, se uma equipe está envolvida em um caso com um confronto, com múltiplos disparos, dentro da investigação eu preciso analisar todas as armas. Neste período, os policiais ficam sem armas. Com o Quantum, a análise é muito mais rápida e as equipes podem voltar ao trabalho com a devida agilidade”, afirmou o perito. A eficácia do Quantum faz com que outros Estados procurem a equipe da Pefoce para dar seguimento às suas investigações com mais rapidez. “Recentemente, fomos procurados pela equipe do Amapá após o acontecimento de uma chacina por lá. Conseguimos encurtar o trabalho de meses para apenas dias. Acredito que seja o melhor benefício do Quantum. Com ele, conseguimos trabalhar em outros casos mais rápido, conseguimos dar uma resposta para a sociedade mais rápida”, concluiu.

CSI da vida real No início dos anos 2000, a Crime Scene Investigation (CSI), série americana com a perícia forense em foco, arrebatou a audiência da televisão brasileira. O sucesso trouxe não só atenção do público para uma área, até então, menos falada das forças de segurança, como também mostrou a importância do setor nas resoluções criminais.

Natural de Palmares, em Pernambuco, Lêda Queiroz, 36 anos, está na Pefoce há 12 anos. A perita criminal é uma das 27 pessoas dentro do Núcleo de Perícia de Patrimônio e Vida, especializado na realização de levantamentos papiloscópicos em cenas de crime. Como forma de melhorar as condições de trabalho da equipe, o Governo do Ceará investiu quase R$ 2,9 milhões nas aquisições dos aparelhos Forenscope 8k e Forenscope CSI Portátil. Com o reforço, as demandas do setor são resolvidas de forma bem mais ágil. “Todo o processo é encurtado e agilizado por conta desses aparelhos de ponta. Antes, para o recolhimento de uma impressão digital era utilizada uma câmera fotográfica e uma escala. Além, claro, de realizar o empoamento do local. Tudo isso levava cerca de 80 minutos. Agora, com 20 minutos, em média, conseguimos o resultado”, detalhou Lêda.

Após a coleta da impressão, cada imagem é cadastrada em um banco de dados e passa por análise em laboratório. Ainda de acordo com a profissional, com a modernização da área, toda a sociedade sai ganhando. “A técnica do empoamento é um ser humano fazendo. Depende da força, da habilidade. Se a impressão for sensível, com o empoamento pode acabar danificando. É um risco. Quando você minimiza o tempo para processar a cena, aquela equipe acaba ficando disponível para novos casos. O ganho acontece no tempo e também na qualidade dos vestígios”, completou. A Perícia Forense do Ceará possui duas unidades do Forenscope 8k, uma à disposição das equipes lotadas no Núcleo de Patrimônio e Vida (NUPAV) e a outra destinada aos Peritos Criminais e Auxiliares de Perícia lotados no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O Forenscope CSI Pro, por sua vez, está disponível em todos os núcleos da Pefoce no Interior.

Análise minuciosa Com 23 pessoas, o Núcleo de Perícia e DNA Forense da Pefoce realiza a análise genética de diversas amostras que podem ser úteis dentro de uma investigação criminal. Supervisora do setor, Natália Oliveira, 36 anos, é uma das profissionais a lidar diretamente com o carro-chefe tecnológico do local: o Spectrum.

Para a perita legista, o Spectrum torna o trabalho mais simples, ágil, eficaz e prático. “O nosso antigo analisador genético, que ainda é utilizado por nós de forma complementar, tinha uma capacidade menor de trabalho, com duas placas de 96 amostras por ciclo. Um detalhe importante é que esse equipamento não permite que você interrompa o ciclo completo de análise para trabalhar com uma amostra específica, deixando o trabalho mais demorado. Com o Spectrum, conseguimos analisar 384 amostras ao mesmo tempo, podendo, inclusive, interromper o processo para se dedicar a uma amostra já analisada. É um ganho de tempo muito importante”, descreveu.

Adquirido por R$ 1 milhão pelo Governo do Ceará, o aparelho é único dentre as mais de 20 instituições estaduais que formam a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG). Com um novo sistema permitindo a observação de até 35 marcadores por indivíduo, o Spectrum torna a chance de identificar uma pessoa bem maior e completa. “Já conseguimos identificar pessoas justamente por conta do aumento desse escopo, que não conseguiríamos com o outro método”, completou Natália. A perita legista informou, ainda, que o Spectrum é a parte final de um grande processo de triagem e análise do setor, refinando e tornando o resultado mais preciso dentro de uma investigação. “Aqui recebemos diversos tipos de amostra, como sangue, osso, cartilagem, músculo. O Spectrum é a etapa final dentro da genotipagem após a devida passagem de cada material por extração, quantificação e amplificação”, concluiu.

Apoio fundamental De acordo com Júlio Torres, perito-geral da Pefoce, o apoio do Governo do Ceará tem sido vital para dar sequência à modernização da organização e também para que os profissionais possam ter melhores condições de trabalho. “A Lei nº 19.127, sancionada em 19 de dezembro de 2024, promoveu uma reestruturação histórica no organograma da Pefoce, criando 26 novos cargos e modernizando toda a nossa estrutura administrativa e operacional. Com essa mudança, passamos a contar com coordenadorias regionais, células específicas para cada núcleo regional de perícia e novas unidades instaladas na sede destinadas à realização de exames especializados, como patologia, ocorrências de trânsito e veterinária, entre outros. Essa reestruturação traz mais eficiência e amplia a capacidade de entrega de toda a carta de serviços da Perícia Forense do Estado do Ceará”, pontuou.

“A Pefoce segue em pleno crescimento, somando forças com as demais instituições que compõem o sistema de Segurança Pública e assegurando respostas cada vez mais céleres e qualificadas aos processos criminais no Ceará. Seguiremos firmes na nossa missão: ser a ciência a serviço da verdade e da justiça”, completou Júlio Torres. No último dia 29 de setembro, 76 pessoas convocadas pelo mais recente concurso público da instituição iniciaram o curso de formação de profissionais. Com a conclusão da capacitação e aprovação destes, serão 159 profissionais nomeados para a Pefoce em menos de três anos. Este número representa um acréscimo de 28% na quantidade de servidores da Perícia Forense do Ceará.