
Rogênia de Souza, 36, anos iniciou nossa conversa fazendo sua áudio descrição. “Sou uma mulher de estatura mediana, tenho pele parda, cabelos e olhos castanhos, cabelos abaixo dos ombros, estou usando uma blusa verde, calça jeans, usando alguns acessórios, estou segurando minha bengala”, fez questão de falar isso porque estava ao lado de outros dois deficientes visuais, os irmãos e professores, Edilânia e Marcos Lavor, inspiração e incentivadores do retorno de Rogênia aos estudos. Por problema de saúde, ela perdeu a visão aos 15 anos, quando morava ainda na cidade de Mombaça. Ela veio morar em Iguatu, aos 20 anos, quando casou, por aqui continua, mãe de dois filhos, um de 13 e outro de 8 anos, está feliz com o seu segundo casamento. O marido e os filhos a ajudam no dia a dia dela, principalmente fora de casa. Depois que conheceu o Centro de Atendimento Educacional Especializado de Iguatu Professor Raimundo Nonato Pereira, a vida dela e da família mudaram.
Após perder a visão ficou desmotivada. “Parei no tempo, adormeci, não tive aquela motivação. Fiquei até os vinte anos parada. Casei vim morar em Iguatu e fiquei levando uma vida normal, achando que por perder a visão não tinha mais que estudar, nem uma motivação pra isso. Quando tive meu primeiro filho, ele já estudando
teve um problema, fui motivada para trazer ele para o CAEE, aceitei e trouxe ele pra cá. E aqui fui motivada a correr atrás dos meus sonhos, inicialmente pela psicóloga Kelma, depois conheci a professora Edilândia, que também é cega, passei a ser acompanhada em Braile. Aqui estou aprendendo. A partir daquele momento abriu pra mim um novo mundo. Fui conhecendo outras pessoas cegas, fui no CEJA. Lá fui bem recebida, sou grata por todo aprendizado e atendimento que me deram, foram professores, pais, amigos, foram tudo. E CAEE e o CEJA, foram o recomeço de tudo. Edilândia, Marcos, Kelma, Sara Lima, me ajudam nesse recomeço aqui. E a cada dia a motivação só aumenta.” Pontuou Rogênia, contando um pouco mais da sua história.
No Centro de Educação de Jovens e Adultos terminou o Ensino Fundamental, continuou pelo EJA, até concluir o Ensino Médio. “Eles me motivaram CEJA e o CAEE, a fazer vestibular da UECE pra Letras, minha professora fez a inscrição não passei, fiquei triste, era o primeiro. Eu queria psicologia, mas não consegui por ser caro. Eu gosto de Direito fiz o vestibular da Urca e consegui ser aprovada. É um sonho. E entrar naquela faculdade, eu nem me senti cega. Me senti uma pessoa dita normal. Virão dificuldades, mas eu vou enfrentá-las.” Continuou.
Para Rogênia, o objetivo é seguir com os estudos agora rumo a profissão de bacharel em direito. “Agora é estudar bastante, estudar Direito e sair de lá formada. Por mérito meu. Eu não estou lá por ser uma coitadinha, por ser deficiente visual, ela entrou por mérito dela mesmo. Eu quero sair formada mesmo, já estou cursando, tem algumas dificuldades, mas vou conseguir superar. Eu vou advogar” disse entusiasmada e confiante em logo mais esta trabalhando na área do Direito.

O CAEE é um equipamento ligado a Secretaria da Educação, por lá os irmãos e professores que são deficientes visuais, formados pela Fecli/Uece, Edilândia e Marcos Lavor, de imediato além de acolherem o filho de Rogênia, logo pensaram em incentiva la a se sentir uma pessoa produtiva e apaixonada por si. Deu certo. “Rogênia pra nós do CAEE, que é uma prova que a inclusão é possível quando nos temos acesso aos recursos adequados. Ela é mãe de um aluno nosso, nosso público são alunos matriculados na rede pública de ensino. A Rogênia, não se enquadrava em nosso público, mas trabalhamos com educação inclusiva. Então quando ela chegou a gente não poderia deixar de dar esse suporte, que ela também precisava. Hoje, ela é a prova que não é a deficiência que nos define, mas a acessibilidade, a inclusão, o acesso a informação e aos recursos adequados” disse.
O também professor e deficiente visual, Marcos Lavor, professor de formações do CAEE destaca a importância do equipamento e a inclusão das pessoas. “É realmente um dos exemplos. Isso mostra que quando a gente vê a aprovação da Rogênia e outro aluno que saiu daqui e tá cursando Pedagogia, mas especificamente falo da Rogenia pelos fatos da dificuldades que ela enfrentou. Quando a gente ve um aluno nosso aprovado em Ensino superior a gente sabe que o trabalho da gente tá tendo frutos, resultados positivos. Eu enquanto professor dela do curso de Formação e Tecnologia Assistiva, é um alegria que só temos a celebrar”, pontuou.
A diretora do CAEE, Sara Lima, também se mostra alegre e destaca a importância desse equipamento na vida de muitas famílias, crianças e adolescentes assistidos e esses cursos de formação que tem mudado a vida dessas pessoas. “Pra nós é muito gratificante, porque para algumas pessoas, uma pessoa com deficiência é muito desacreditada. Quando encontram apoio, incentivo, conseguem chegar onde quiserem chegar. Não é fácil, se não tiver incentivo da família, do órgão onde está. É difícil, é muito gratificante. A nossa equipe é muito boa. Todos trabalham com o mesmo objetivo, de inclusão da sociedade em todo o contexto de sua vida. Nós aprendemos muito com eles aqui. A cada dia eles são exemplos de determinação, capacidade, vontade. Ela chegou aqui e está dando a vida dela.”, complementou Sara Lima.
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