
Durante a primeira sessão plenária após o recesso parlamentar, a Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) aprovou um novo manifesto “em favor da economia e do povo do Ceará”, em resposta à imposição da taxa de 50% dos Estados Unidos aos produtos do Brasil. O documento, de autoria do presidente da Casa, deputado estadual Romeu Aldigueri (PSB), havia sido divulgado na sexta-feira (1º) e foi aprovado pelo plenário da Alece nesta terça-feira (5).
Ao todo, o documento recebeu votos favoráveis de 31 dos 46 deputados estaduais. No início de julho, a Assembleia do Ceará já havia aprovado um primeiro manifesto, também criticando as medidas do presidente Donald Trump e defendendo a soberania brasileira.
O novo texto repudia a ordem assinada na quarta-feira (30/07) por Trump que oficializou a nova tarifa, que passa a valer a partir desta quarta-feira (6). O manifesto reforça os efeitos negativos da medida e garante a colaboração junto ao Estado, a União, o setor produtivo e demais instituições para defender os setores mais atingidos da economia cearense, a exemplo de pescados, castanhas de caju, água de coco, cera de carnaúba, couros e calçados (veja a íntegra do manifesto na versão online desta matéria).
Conforme já noticiado pelo O Estado, o Ceará é a unidade da federação mais afetada no país, já que tem uma maior dependência das vendas para os Estados Unidos. Com a nova tarifa de 50%, o prejuízo estimado para o estado é da ordem de R$ 190 milhões.
MEDIDAS PARA PROTEGER ECONOMIA DO CEARÁ ESTÃO NO RADAR
Ao passo em que o governador Elmano de Freitas (PT) articula estratégias para combater os prováveis prejuízos à economia do estado com o tarifaço, há a expectativa de que eventuais ações do Executivo estadual sejam encaminhadas à Alece, inclusive de apoio aos setores mais críticos. Parlamentares ouvidos pela reportagem nessa terça (5) confirmaram que o assunto deve estar na pauta da Casa, mas ainda não há uma definição sobre que medidas passarão pelo Legislativo cearense.
O líder do governo na Alece, deputado Guilherme Sampaio (PT), apontou o diálogo que ocorre entre os governos estadual e federal e que as ações no Ceará deverão ser alinhadas com as iniciativas nacionais.
“Eventuais medidas tomadas pelo Governo do Estado vão se harmonizar no tempo e na intensidade com as medidas tomadas pelo Governo Federal. Está havendo um diálogo cotidiano e frequente do Governo do Ceará com o Governo Federal, entre o governador Elmano e o vice-presidente Geraldo Alckmin, assim como com o setor industrial e setor empresarial aqui no estado, para que essas medidas tão logo sejam tomadas com a participação daqueles que são diretamente envolvidos, porque o Governo do Estado quer preservar os empregos do povo cearense e a saúde financeira das empresas”, afirmou Sampaio em fala com a imprensa.
VEJA ÍNTEGRA DO “MANIFESTO EM FAVOR DA ECONOMIA E DO POVO DO CEARÁ”
MANIFESTO EM FAVOR DA ECONOMIA E DO POVO DO CEARÁ
Em respeito a todos os cearenses, repudio a unilateralidade do Governo dos EUA, cujo resultado será de perda de empregos, desmonte de cadeias produtivas e desconstrução de setores que demoraram anos para montar a logística necessária a fim de estruturar suas operações.
O Estado do Ceará tem surpreendido o Brasil com convergências que construíram a melhor educação pública do País, além de um turismo competitivo, uma infraestrutura cuja evolução é inegável, um debate democrático civilizado, uma integração entre poder público e iniciativa privada pautada no republicanismo, o surgimento de líderes nacionais e outros frutos que somente podem nascer em terras que priorizam a vontade coletiva em detrimento da pessoal.
Atitudes que se refletem em um mercado saudável e pujante, agregador e voltado para nossas necessidades de crescimento só são possíveis em ambiente de paz, inclusive comercial. Porém, o Brasil, exímio e inquestionável defensor do multilateralismo, é penalizado por um tarifaço em virtude do voluntarismo do presidente americano, que, motivado por razões incompreensíveis, sanciona o País, atingindo de forma cruel um estado pobre que luta há décadas para entregar o melhor para seu povo.
Relações diplomáticas devem ser fundamentadas em diálogo e técnica. Jamais na chantagem e opressão. O Ceará é parte de uma nação lutadora, de uma brava gente, com separação entre poderes, com história de superação, e não baixará a cabeça jamais para a injustiça, o autoritarismo e os ataques a sua soberania e sua gente.
Portanto, somo minhas forças ao Estado, à União, ao setor produtivo e a diversas instituições, para defender os setores mais atingidos, a exemplo de pescados, castanhas de caju, água de coco, cera de carnaúba, couros e calçados, para encontrar soluções. Porque não aceitamos ameaças. Nunca.