Ceará tem alta de 5,4% na inadimplência, mas vendas no varejo mantêm sinal positivo

Blog do  Amaury Alencar
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Após um início de 2025 marcado por instabilidades, o Ceará volta a acender o sinal de alerta quanto à inadimplência. De acordo com dados divulgados pelo SPC Brasil e pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado (FCDL-CE), o número de pessoas físicas inadimplentes no estado cresceu 5,4% em maio na comparação com o mesmo mês de 2024. Apesar do avanço, o ritmo é inferior à média nacional, que foi de 6,28% no período.

O dado que oferece certo alívio é que 32,1% dos inadimplentes no estado têm dívidas de até R$ 500. Isso significa que, para quase um terço dos negativados, bastaria uma renegociação básica ou pequenos ajustes no orçamento doméstico para que suas pendências fossem regularizadas. “Políticas públicas de renegociação, feirões de crédito e programas de educação financeira podem ser instrumentos eficazes para auxiliar essa parcela da população”, afirma Freitas Cordeiro, presidente da FCDL-CE.
Mesmo assim, os desafios estruturais são evidentes. O valor médio das dívidas em maio atingiu R$ 4.370, uma alta de 5,4% em relação ao ano anterior, reflexo direto da pressão inflacionária e do encarecimento do crédito. O número total de dívidas registradas, representado pelas relações CPF-CNPJ em atraso, cresceu ainda mais: 9,7%. Esse aumento indica que muitos consumidores, mesmo já negativados, continuam assumindo novas pendências financeiras.

O setor bancário é o maior credor, concentrando 60,5% das dívidas, o que aponta para dificuldades em honrar compromissos com cartões de crédito, financiamentos e empréstimos. Outro sinal preocupante vem do setor de serviços básicos: contas de água e luz respondem por 17,1% das dívidas, o que reforça a gravidade da crise no orçamento das famílias cearenses.

Reincidência
A reincidência também chama atenção. Cerca de 85% dos inadimplentes em maio já haviam passado pela mesma situação nos últimos 12 meses, o que evidencia um ciclo repetitivo de desequilíbrio financeiro e exclusão de crédito.
Apesar do aumento na inadimplência, o comércio varejista do Ceará mostra sinais de vitalidade. Segundo dados do IBGE, mesmo com recuo de 1,5% nas vendas em abril na comparação com março, o varejo ampliado (que inclui veículos e material de construção) cresceu 1,5%, destoando da tendência nacional, que foi de queda. No acumulado do ano, o varejo cearense registra expansão de 3,6%, e o ampliado, 6,1%, na comparação entre janeiro e abril de 2025 e o mesmo período de 2024.

Esses números apontam para um dinamismo econômico ainda presente no estado, especialmente em segmentos que exigem planejamento e maior capacidade de investimento. “O crédito, apesar das dificuldades, continua sendo o motor de muitas decisões de consumo, e o varejo cearense tem mostrado resiliência”, reforça Freitas Cordeiro.

“Se, por um lado, o endividamento acende alertas para políticas públicas voltadas à educação financeira e renegociação de dívidas, por outro, o desempenho no varejo sugere que há margem para recuperação, especialmente com a possível retomada do crédito e estabilização econômica prevista para o segundo semestre. O Ceará segue caminhando em um terreno desafiador, mas ainda fértil para o consumo e o crescimento gradual”, avaliou o economista Helder Cavalcante.

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