EXPOCRATO: Entre o Espetáculo e a Essência Agropecuária

Blog do  Amaury Alencar
0

 


                                                  


A Expocrato, tradicionalmente conhecida como a maior feira agropecuária do

Norte e Nordeste, vive hoje um paradoxo. O evento, que nasceu para fomentar

o agronegócio, expor tecnologias rurais e valorizar a pecuária regional, tem se

transformado, ano após ano, em um megafestival de música, onde os shows

eclipsam sua vocação original. Em 2025, a programação anunciada reforça

essa tendência: nove noites de atrações nacionais, como Roberto Carlos,

Wesley Safadão e Luan Santana, ocupam o centro das atenções, enquanto as

atividades agropecuárias parecem relegadas a um plano secundário.

A História e o Desvirtuamento

Criada há 81 edições, a Expocrato era um marco para produtores rurais,

comerciantes de equipamentos e criadores de animais, que encontravam no

evento uma vitrine para negócios e troca de conhecimentos. Dados de 2024

mostram que a feira gerou R$ 150 milhões em movimentação econômica e 10

mil empregos diretos e indiretos, números que evidenciam seu potencial

transformador. No entanto, a cobertura midiática, propagandas de lançamento

e o discurso oficial hoje destacam quase exclusivamente os shows, com pouca

menção às exposições de gado, às inovações tecnológicas ou aos debates

sobre sustentabilidade no campo.

O Agronegócio em Segundo Plano

Apesar de a feira agropecuária ainda ocorrer paralelamente aos shows, sua

visibilidade diminuiu drasticamente. Em 2025, enquanto os nomes dos artistas

ocupam manchetes e redes sociais, poucos sabem, por exemplo, quais raças

de animais serão expostas ou quais palestras técnicas estão programadas. O

"Inferninho", espaço que antes valorizava artistas regionais e a cultura

sertaneja, agora divide atenção com uma estrutura voltada para o

entretenimento massivo.

Consequências para o Setor

1. Perda de Identidade: A Expocrato arrisca-se a se tornar apenas mais um

festival de música, diluindo sua importância como polo de agronegócio.

2. Oportunidades Perdidas: Pequenos produtores e expositores, que

dependiam do evento para fechar negócios, enfrentam dificuldades para

competir com a grandiosidade dos shows.

3. Desbalanceamento Econômico: Embora os shows atraiam turistas, a renda

gerada concentra-se em hotéis e comércio urbano, nem sempre beneficiando

diretamente a cadeia produtiva rural.

É Possível um Equilíbrio?


A solução não está em abolir os shows — que são legítimos impulsionadores

turísticos —, mas em resgatar o protagonismo do agronegócio. Sugere-se:

- Maior divulgação das programações técnicas e agropecuárias;

- Integração temática, como shows que celebrem a cultura rural com artistas

locais;

- Incentivos para expositores, como espaços privilegiados e parcerias com

instituições de crédito rural.

Conclusão

A Expocrato 2025 promete ser "a melhor de todos os tempos", nas palavras

dos organizadores e políticos presentes no lançamento da Expocrato 2025.

Mas "melhor" não deve significar apenas mais lotada ou mais lucrativa para o

setor de entretenimento. É hora de reafirmar o papel da feira como catalisadora

do desenvolvimento agropecuário, garantindo que o brilho dos holofotes não

apague a essência que a tornou referência. O desafio é conciliar tradição e

modernidade, sem perder de vista o chão que a sustentou: o campo.


Francisco Leopoldo Martins Filho

Advogado

Postar um comentário

0Comentários
Postar um comentário (0)