“O meu pai trabalhava com o meu avô [Gonçalo Pinto de Carvalho], e eu comecei, aos 8 anos, a trabalhar com ele também. Em 1958, meu pai viajou para o Sertão [dos Inhamuns] de novo. Então eu montei a oficina por minha conta, e fiquei trabalhando”, rememora.
Quando o pai faleceu, em 1971, Espedito Seleiro levou a mãe, Maria Pastora Veloso, e os irmãos para dentro da oficina em Nova Olinda. “Eu sou o mais velho de todos. Caí na besteira de nascer primeiro, e me lasquei. Trabalhei para criar os outros mais novos. Trouxe eles, botei dentro da oficina, e ensinei”, diz sorrindo.
O jovem artesão utilizou por muito tempo modelos deixados pelo pai que, além de confeccionar as peças para vaqueiros, chegou a produzir uma sandália para Lampião, a pedido do próprio cangaceiro. “Eu aproveitei o modelo que ele deixou da sandália que ele fez para Lampião. Com muito tempo, eu modifiquei os moldes, inovei, e criei estilo próprio. O modelo é de Lampião, mas o estilo é de Espedito Seleiro”, considera.
A inovação foi o ponto de virada para que Espedito deixasse de atender apenas vaqueiros, tropeiros e ciganos, cujo atendimento foi ficando cada vez mais escasso ao longo do tempo. A técnica foi se aperfeiçoando em meio às dificuldades. “Eu passei uns 50 anos ou mais para pegar conhecimento. Eu sofria. Andava com saco cheio de sela, sapato e sandália na cabeça, pegando feira para aqui e para acolá. Um dia, depois de uma feira, cheguei liso e sem dinheiro. Bebi um porre de lá para cá, e disse à mulher [Francisca de Brito Carvalho, sua esposa]: a partir de hoje, eu não vou mais andar em feira vendendo a ninguém. Se Deus quiser, e ele vai querer porque é bonzinho, eu vou dar um jeito do pessoal vir para cá, conhecer a nossa oficina, comprar o nosso trabalho, e vai dar tudo certo”, relata o artesão, que tentou desistir do ofício algumas vezes. |