‘Quem canta, ora duas vezes’: técnica de enfermagem toca violão para ajudar na recuperação de pacientes

Blog do  Amaury Alencar
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A técnica de enfermagem Luciana Pereira percebeu o poder da música no tratamento de pacientes

Todos os dias, a técnica de enfermagem Luciana Pereira sai de casa carregando consigo, além dos acessórios de trabalho, seu violão. Apaixonada por música, a profissional tem encantado os pacientes da Enfermaria Covid do Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Atuando há onze anos na unidade, Luciana encontrou na música uma forma de colocar em prática seu outro dom: amenizar, com sua voz, a dor de pacientes e familiares. Durante a pandemia de Covid-19, com a distância dos entes queridos, o som das cordas do violão da técnica de enfermagem se tornaram um alento para quem ainda não recebeu alta hospitalar.

O encontro de Luciana com o seu talento começou bem antes dela se desenvolver na área da saúde, mas isso nunca a impediu de acolher sua outra paixão: cuidar de pessoas. Um dos lemas da profissional, que atua na linha de frente no combate ao vírus, é “quem canta, ora duas vezes”. “Comecei quando entrei na igreja. Tive vontade de tocar e me identifiquei muito com o violão. Fui convidada para fazer um grupo de louvor e fui trabalhando cada vez mais com esse dom. O violão tem sido meu companheiro diário”, relata. “Eu testei positivo para o coronavírus no ano passado e ele (o instrumento) foi meu refúgio. Eu me identifico muito com a música, tanto gospel como popular. Meu violão sempre anda no meu carro”, afirma.

De um hábito na igreja ou na roda de amigos, ela não demorou muito para trazer o companheiro de todas as horas para o ambiente de trabalho. “Isso começou há uns cinco anos, com um grupo ecumênico que montamos durante os plantões com várias pessoas, de várias religiões. Nos reuníamos e fazíamos uma oração. Depois desse momento, saíamos nas enfermarias cantando para o paciente e o acompanhante. Sempre fizemos homenagens também nas datas comemorativas”, rememora.

Empatia

Mas a emoção maior foi quando Luciana viu os pacientes sozinhos, diante de uma doença até então misteriosa e impedidos de receber visitas — seguindo o protocolo de segurança contra a Covid-19. Ela conta que foi neste momento que conseguiu perceber o poder da música. “Na pandemia, nós notamos a carência do paciente. Temos um retorno muito especial. Levamos um pouco de fé e esperança e recebemos isso de volta. Em um plantão recente, o paciente pediu para ouvir determinada música e nós notamos como ele transformou o semblante após a canção. Eles choram, se emocionam. Acredito que a assistência não tem que ser apenas o cuidar, mas também se utilizar da empatia”.

Um dos casos mais recentes foi de uma paciente de 28 anos, portadora de Síndrome de Down, fã do cantor Luan Santana. Ela estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Covid e recebeu a presença da técnica, que cantou músicas do sertanejo. A emoção contagiou o ambiente e a paciente chegou, inclusive, a bater palmas. Dias depois, recuperada, saiu do tratamento intensivo. O pai da paciente não segurou as lágrimas ao ver o vídeo da filha recebendo o carinho da equipe de Enfermagem. “Foi muito bonito ver que até a música que minha filha gosta levaram para dentro do hospital. Eu não tenho como agradecer tanto carinho”, diz Francisco de Assis.

São esses retornos que tocam o coração de Luciana. “Lembro de uma paciente, quando fazíamos em todos os fins de semana a passagem com a música, que chegou para mim e falou que todo domingo fica na ansiedade, nos esperando. E a gente sente que é o mínimo que podemos fazer. Sabemos que estamos sendo um vínculo para a esperança, uma lembrança com a família”, reconhece, emocionada.

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