Lula, Ciro, Camilo e as eleições no Ceará em 2022

Blog do  Amaury Alencar
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Ciro Gomes (PDT), Lula (PT) e o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), em fevereiro de 2017. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula.














O governador Camilo Santana, sem dúvida, por contingências localizadas muito significativas, é o petista brasileiro mais afetado com a decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) da última quinta-feira (15), confirmando a manifestação do mês de março do ministro Edson Fachin, de certo modo muito surpreendente, que deixou “Lula livre” para disputar um novo mandato de presidente da República, já nas eleições de 2022.

A fidelidade do governador aos principais líderes do PDT cearense, o presidenciável Ciro Gomes e o seu irmão, senador Cid Gomes, aliada ao projeto pessoal de ter um novo mandato imediatamente após concluir o seu segundo período como chefe do Executivo deste Estado, exigirá que até abril do ano vindouro, prazo limite para filiação partidária de candidatos em 2022, ele opte a permanecer no PT para votar em Lula, ou filie-se em outra agremiação para trabalhar e sufragar o nome de Ciro, o principal concorrente de Lula no Ceará. Se abdicar do projeto pessoal o governador fica no Governo.

Nas duas últimas eleições, as gerais de 2018, e as municipais de 2020, Camilo, mesmo sendo candidato à reeleição em 2018, não manifestou posição favorável, no primeiro turno da disputa presidencial, a nenhum dos candidatos do PT e do PDT, embora tenha participado de eventos dos candidatos Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT). Idem em relação à disputa de 2020, entre Luizianne (PT) e José Sarto (PDT). Mas, sendo 2022 crucial para a manutenção da hegemonia política do grupo que lhe dá sustentação no Ceará, o governador haverá de ter um único lado: com o PT ou com o PDT.

Não é confortável, pessoalmente para o governador, o quadro político vislumbrado para o próximo ano com a garantia de elegibilidade do ex-presidente Lula. Até a última eleição era conveniente, para Ciro e Cid Gomes, que o governador permanecesse no PT. Camilo construiu pontes, inclusive a que neutralizou, de certa forma, o PT de Fortaleza, facilitando a campanha de Sarto. Ele ainda conseguiu, quando já muito azedada as relações entre Ciro e a cúpula do PT, que Lula, após ter saído da prisão, conversasse com Ciro. As relações entre eles continuam esgarçadas, mas Camilo tentou reconciliá-los.

Ciro e Lula serão os principais adversários de Bolsonaro. Só um dos dois, porém, pela realidade de hoje, mesmo considerando ser a afirmação um exercício de futurologia, vai para o segundo turno da disputa. Para Ciro é importantíssimo chegar ao segundo turno, mas também é, significativamente fundamental, ter a votação majoritária do eleitorado cearense com a vitória dos seus candidatos aos postos de governador e senador da República (em 2022 será eleito apenas um senador por Estado). E Camilo é uma dessas duas peças, desde que não seja um eleitor do Lula.

Camilo não terá a ajuda dos pedetistas cearenses para ser eleito senador da República pelo PT, principalmente quando só uma vaga estará em disputa. Interessa ao PDT nacional ter mais um senador no Ceará, principalmente após perder a chance de ter conseguido eleger dois em 2018 por honrar um compromisso do governador, em nome de uma aliança com o MDB, de votar no ex-senador Eunício Oliveira, que acabou derrotado por Eduardo Girão, o nome da oposição apresentado pelo PROS.

O quadro de hoje é possível não ser integralmente o do próximo ano, pois mudanças outras ainda poderão acontecer na política nacional. Mas, provavelmente, nenhuma alteração será tão surpreendente quanto foi a da volta de Lula à condição de candidato a presidente da República. Porém, a postulação presidencial de Ciro Gomes, pela força política pessoal e do seu grupo, será o ponto determinante dos acordos para a sucessão estadual, assim como a eleição do próximo senador da República pelo Ceará. 


                          Jornalista Edison Silva 

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