"Patrimônio do jornal": ex-funcionário do O POVO, Edvar Reis morre após contrair Covid-19

Blog do  Amaury Alencar
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Edvar todas as noites entrava na redação para vender os lanches (Foto: Reprodução)
Edvar todas as noites entrava na redação para vender os lanches (Foto: Reprodução)

"Papai chegou". Era assim que Edvar da Silva Reis, 70 anos, era anunciado todas as noites quando entrava na Redação do O POVO, carregado dos salgados que vendia para sustento. Desde o inicio da pandemia no Ceará, quando O POVO adotou o home office, o anúncio deixou de ser feito. E, na última terça-feira, 9, Edvar morreu vítima de problemas cardíacos em decorrência da Covid-19. A missa de sétimo dia ocorre online nesta terça-feira, 16.

De acordo com familiares, há pouco mais de uma semana, Edvar contraiu o coronavírus e foi internado no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). No segundo dia de internação, ele sofreu infarto e precisou ser encaminhado ao Hospital do Coração. Diabético e com outras comorbidades, teve complicações e não resistiu.


Ele teve história duradoura com o jornal, muito antes de começar a vender lanches. Há mais de 25 anos, trabalhou no departamento de artes da empresa, executando a função de revisor. Fco Fontenele, que conviveu à época com ele, recorda de Edvar como seu primeiro parceiro de trabalho na empresa e lamenta a partida.

"Sempre foi aquela pessoa amiga, atenciosa, aquele cara que estava sempre preocupado com os outros. O cara que a gente sempre podia contar para uma conversa. Uma pessoa que, com o tempo, passou a fazer parte do dia a dia. O irmão que a gente gosta de ter por perto. Vai deixar saudade em muita gente", destaca Fontenele, hoje repórter fotográfico do O POVO.


Depois de sair da empresa Edvar continuou ligado ao local. Começou um dia a produzir lanches e saia, todas as noites, para vende-los aos repórteres e aos demais funcionários do jornal. Gerações de jornalistas que passaram pelo O POVO foram marcadas pelo momento em que o homem atravessava a porta. E isso não tinha a ver com a farta torta de frango que ele trazia na fôrma de pizza, ou com o sabor da coxinha na qual ele as vezes inovava como ninguém.

Era a alegria dele. O sorriso que trazia no rosto. O jeito engraçado como decorava tão facilmente os nomes de quem comprava "fiado" e anotava tudo no caderninho antigo — que era para poder cobrar daquele jeito leve que só ele tinha. Era a forma como parava para escutar e a sensibilidade que tinha de se fazer mais do que um "vendedor" ou um antigo funcionário. Edvar seguia o clichê mais antigo do mundo: o ingrediente secreto de sua comida era o amor.

Não a toa ganhou o apelido de "papai". Thadeu Braga, editor do O POVO, deu o apelido e era quem fazia os anúncios da chegada. "A gente tinha uma convivência diária, trocávamos muita ideia, conversávamos sobre assuntos da vida. Mesmo em dias que eu sentia que ele estava com tristeza, ele não transmitia, sempre tinha muita risada, muita alegria", relembra emocionado o jornalista.

"Ele era um pai para gente. Um amigo para tudo. Era a alegria da Redação quando chegava. Além do salgado, claro, o pessoal ficava alegre pela alegria que ele trazia. Vai ser muito triste voltar (à Redação) sabendo que ele não vai estar mais lá. Ele era um patrimônio do jornal", confidencia ainda.

Com o isolamento social, faz um ano que essa figura paterna não entrava mais pela porta da Redação e tinha a chegada anunciada. São mais de 300 dias que esse senhor com ar juvenil não interrompe o trabalho de repórteres para mostrar, com o caderninho na mão, os salgados que havia preparado com tanto carinho. Esse momento não vai mais acontecer. Perdem as novas gerações que virão de jornalistas no O POVO, por não ter a oportunidade de conhece-lo.

Missa de sétimo dia 

Quando: nesta terça-feira, 16, às 18 horas

Onde: por meio do link: https://youtube.com/channel/UC9SR1UC0cJ_q42NSX5Om85w

Confira momentos de Edvar na redação:

Clique na imagem para abrir a galeria

Veja homenagens de colegas:

 


                     O POVO  

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