Empreendedorismo feminino transforma realidades em Várzea Alegre

Blog do  Amaury Alencar
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Dona Rosinha comanda, em Várzea Alegre, associação de crocheteiras que atualmente produzem 300 redes por mês
Dona Rosinha comanda, em Várzea Alegre, associação de crocheteiras que atualmente produzem 300 redes por mês

É a força de trabalho feminina que move a Comunidade de Mocotó, há 14km de Várzea Alegre. Com idades variadas, as mãos hábeis das mulheres tecem a arte que modificou o cenário do pequeno povoado rural, hoje composto por 42 famílias. Maria Miguel de Oliveira, conhecida internacionalmente como Dona Rosinha, é uma das grandes responsáveis por esta transformação. Crocheteira de mão cheia, assim como tantas outras mulheres da região, aprendeu o ofício com a mãe, que já havia recebido o legado da matriarca da família.

Com 80 centímetros de altura, portadora de deficiência congênita dos membos inferiores e superiores, a arte foi desde criança seu meio de subsistência. Aos 9 anos de idade já arriscava seus primeiros pontos que, sem saber, teceria o destino da menina que sonhava em ser psicóloga quando crescesse. Mas Rosinha foi mais, fez da arte seu principal meio de vida e não só: juntou-se a tantas outras com histórias semelhantes e, de mãos dadas, fundaram em 1989 a Associação Comunitária de Mocotó. Com a ajuda do Sebrae e de políticas governamentais à época, criaram o embrião do que hoje regimenta toda uma cultura artística e de empoderamento das mulheres da região: “Antes as mulheres só eram donas de casa. Casavam, faziam alimentação. Hoje a mulher é autônoma, tem a sua arte e o empreendedorismo feminino impulsionou um grande crescimento'', afirma Dona Rosinha, que hoje está a frente da Associação como presidente.

O crochê já era uma realidade em Mocotó. A potencialidade foi descoberta pelo Sebrae, que iniciou um trabalho de captação de recursos para que as mulheres pudessem investir. Com o primeiro dinheiro, foi possível comprar material para produzir 6 redes artesanais com varandas de crochê. Dali em diante, a arte passou a ser encarada como profissão e hoje a Associação, que desenvolveu a marca INI Redes de Dormir, confecciona cerca de 300 redes por mês.

Para desenvolver o trabalho, foi preciso terceirizar a mão-de-obra, gerando renda para além de Mocotó. Cerca de 600 mulheres (número de antes da pandemia) estão envolvidas na confecção artesanal dos produtos: “O padrão de vida da comunidade melhorou em 90% a partir do trabalho desenvolvido pela Associação, que já levou cursos de formação para todas as comunidades do entorno. Hoje, todos os filhos das artesãs estudam, tem deles que já se formaram. Não existe mais anafalbetismo, tem água, alimentanção de qualidade, vida digna, tudo isso vindo do crochê”, conta orgulhosa dona Rosinha, que até os 12 anos de idade não conhecia nem a cidade de Várzea Alegre, mas que hoje, aos 61, já representou a arte cearense nos Estados Unidos, México e em várias cidades do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Brasília, Cuiabá e Rondonópolis. “Foi nesse empoderamento feminino que eu consegui desenvolver e mostrar o meu potencial e também a minha superação como pessoa que tem limitação física”.

O exemplo da força do empreendedorismo feminino vem de uma cidade há 467 quilômetros de Fortaleza, mas é uma realidade em todo país. O Brasil tem a 7º maior proporção de mulheres entre os empreendedores iniciais e respondem por 34% dos Donos de Negócios na média nacional, segundo o Relatório Especial Empreendedorismo Feminino, desenvolvido pelo Sebrae. O levantamento, mostra ainda uma dura realidade enfrentada por elas: apesar da baixa inadimplência, as empreendedoras têm mais dificuldades de acesso ao crédito e a taxa de juros praticada é maior para empresas gerenciadas por mulheres. O documento aponta ainda, que as mulheres que são MEI estão envolvidas predominantemente em atividades relacionadas à beleza, moda e alimentação.

 

Silvânia de Deus viu no Empreendedorismo caminho para fazer o que acredita e driblar racismo do mercado de trabalho
Silvânia de Deus viu no Empreendedorismo caminho para fazer o que acredita e driblar racismo do mercado de trabalho (Foto: Divulgação)

 Silvânia de Deus, 50, é designer de moda e há mais de 20 anos decidiu empreender como forma de se contrapor aos percalços impostos pelo mercado de trabalho à mulher negra: “eu não conseguia emprego pra mostrar o que eu sei fazer, então ou eu empreendia ou eu não conseguia trabalhar”, relembra a artista. Para a geração de Sil, como é conhecida, as discussões sobre negritude praticamente não existiam e os desafios eram ainda maiores: “Um currículo era devolvido simplesmente por olhar que a foto era de uma pessoa preta, de uma mulher negra”. E foi assim, que Silvânia começou os primeiros ensaios para montar seu próprio negócio. Localizado na rua dos Tabajaras, na Praia de Iracema, o Ateliê da Sil traz peças exclusivas que demonstram todo o potencial e criatividade da empreendedora, que inovou no vestuário feminino.

 

O desenvolver potencialidades a partir das ferramentas que se tem em mãos faz da Sil, mulher negra e empreendedora, uma agente de transformação e é nessa força que reside boa parte do propósito das mulheres que decidem abrir seu próprio negócio. Segundo informações do relatório 2019/2020 da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), organização que computa dados sobre empreendedorismo ao redor do mundo, mulheres são mais movidas por propósitos do que os homens. “Mulheres começando um negócio estão mais propensas a concordar com a motivação de fazer alguma diferença no mundo”, apontou o levantamento. Sil há muito percebeu o idealismo por trás de seu negócio: “quando eu realizo, faço meu trabalho do jeito que eu posso e com o que eu tenho, viro uma agente de transformação, sobretudo, para outras mulheres como eu: pretas, que nasceram no subúrbio e com poucos recursos”.

Além de oxigenar as ideias de negócio, a inclusão de novas empreendedoras teria um impacto significativo no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. De acordo com um estudo divulgado no final de 2019 pelo Boston Consulting Group, diminuir a diferença de gênero em altos cargos executivos poderia elevar o PIB entre US$ 2,5 trilhões e US$ 5 trilhões. Shalini Unnikrishnan e Cherie Blair, autoras do estudo, explicaram que os benefícios de apoiar a liderança feminina não se restringem ao incremento na receita global, explicando, em reportagem da Forbes, que: “Diminuir a lacuna de gênero no empreendedorismo e alimentar o crescimento de empresas pertencentes a mulheres lançará novas ideias, serviços e produtos em nossos mercados. E, no final, essas forças podem redefinir o futuro”.


Números do Empreendedorismo Feminino no Brasil
Mas ainda há desafios. Embora as empreendedoras tenham um nível de escolaridade 16% superior ao dos homens, elas continuam ganhando 22% menos que os empresários. Além disso, são mais escolarizadas do que os homens: 63% delas têm nível superior incompleto ou mais contra 55% dos homens com esses mesmos níveis de escolaridade. Há ainda, Há um percentual de mulheres jovens empreendendo maior do que o de homens. 24% delas têm até 35 anos contra 18% deles. Mas é na faixa etária entre 36 e 55 anos que está concentrada a maior parcela dos empresários de ambos os sexos (59% dos homens e 62% das mulheres). Os dados foram compilados pelo Sebrae com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desde 2014, o dia 19 de novembro foi estabelecido como o Dia do Empreendedorismo Feminino pela Organização Mundial das Nações Unidas (ONU). Já em seu ano de criação, a data foi celebrada durante a Semana Global de Empreendedorismo, com atividades realizadas em mais de 150 países. A ideia é atrair a atenção mundial para o impacto econômico e social do movimento, fortalecendo o protagonismo feminino. O Dia do Empreendedorismo Feminino é uma das iniciativas coordenadas pela ONU Mulheres, braço da entidade que tem como objetivo unir, fortalecer e ampliar os esforços mundiais em defesa dos direitos humanos das mulheres.

 

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