A PRIMEIRA SORVETERIA DO CEARÁ – A ARTE DE JUAREZ ALBUQUERQUE EM SANTANA DO ACARAÚ

Blog do  Amaury Alencar


O sorvete surgiu na China, há cerca de 4 mil anos! Os chineses congelavam na neve uma sobremesa feita à base de leite e arroz. Mas só os ricos poderiam comê-la, pois o leite era um produto muito caro na época! Em 1271, quando os chineses faziam sorvete adicionando neve ao leite, o explorador Marco Polo em viagem à China se encantou com o gelado e o levou para a Itália.

No século 16, o cozinheiro Bernardo Buontalenti recriou o sorvete, deixando-o mais macio e mais parecido com o que comemos hoje. A primeira sorveteria surgiu em 1670, criada por Francisco Procópio, em Paris (França). Seis anos depois, já eram mais de 250 fabricantes de sorvete Mundo afora.
Seu Juarez na matriz de sua sorveteria, sito à avenida Barão de Studart, 2023, bairro Aldeota.

Muitos sabores surgiram pelo Mundo conforme a receita foi se popularizando. Os mais populares eram aqueles ligados às frutas, como morango e banana, mas muitos outros apareceram para atender a todos os públicos. O Japão saiu na frente quando o assunto se referia a sabores estranhos de sorvete. Lá você pode encontrar sorvetes sabor tinta de lula, gergelim e até sabor molho de soja!

Os Estados Unidos também têm sabores inusitados de sorvete, com restaurantes que oferecem a sobremesa sabor pizza, lagosta e até frango frito com waffles!

No Brasil, os cariocas foram os primeiros a experimentar a delícia gelada que vinha ganhando o Mundo. Em 1834, o navio americano Madagascar, vindo de Boston, aportou na cidade do Rio de Janeiro com cerca de 200 toneladas de gelo em blocos. O objetivo: fazer sorvete, claro! Os blocos de gelo foram armazenados com serragem em depósitos subterrâneos e conservados por aproximadamente cinco meses.

Como naquela época não havia como conservar o sorvete depois de pronto, as sorveterias anunciavam a hora certa de tomá-lo, causando alvoroço na cidade. Até as mulheres, que então eram proibidas de entrar em bares, cafés e confeitarias, resolveram quebrar o protocolo e fizeram fila para experimentar a novidade.
O sorvete começou a ser distribuído em escala industrial no país em 1941, quando nos galpões alugadas da falida fábrica de sorvetes Gato Preto, no Rio de Janeiro, instalou-se a U.S. Harkson do Brasil, a primeira indústria brasileira de sorvete. Seu primeiro lançamento, em 1942, foi o Eski-bon, seguido pelo Chicabon. Dezoito anos depois, a Harkson mudou o seu nome para Kibon.

Os anos se passaram e o sorvete caiu mesmo no gosto do brasileiro. Segundo a Associação Brasileira de Indústrias de Sorvete (ABIS), em 2006 tivemos um consumo de 507 milhões de litros. Mas, apesar do aumento do consumo, a taxa em torno de 2,7 litros por pessoa ao ano ainda é baixa, se comparada com outros países de clima frio ou com a Nova Zelândia, campeã da lista. Por lá a média ultrapassa 26 litros por habitante!

Para incentivar o consumo de sorvete o ano todo e não apenas no verão, a ABIS instituiu o dia 23 de setembro como o Dia Nacional de Sorvete. Se você é fã da guloseima, delicie-se, mas com moderação. Afinal, a maioria dos sorvetes contém alto índice de gordura saturada e hidrogenada. Dê preferência aos picolés de fruta ou a outros sorvetes sem gordura, que são muito mais saudáveis.

Já no Ceará, as primeiras sorveterias industriais surgiram nos anos 1960 e tiveram como desbravador dos negócios um gentil senhor de nome João Juarez Albuquerque.

A história deste ilustre sorveteiro se confunde e dá vida a pontos também históricos de Fortaleza e o creditam a ser mais uma referência da cidade, uma lenda viva.Seu Juarez na primeira casa de sorvetes de Fortaleza, sito à rua Barão de Studart, 2023, Aldeota.

O cearense de Santana do Acaraú foi muito cedo para Parnaíba, no Piauí. Lá, trabalhando na padaria de um cunhado, ele criou a fórmula do sorvete por necessidade. Ficou pelo Piauí até o início da década de 1970, quando em 1972 voltou para a capital do Ceará e montou a primeira sorveteria em Fortaleza localizada em um estabelecimento da Avenida Barão de Studart. Nascia ali a ” Sorveteria Juarez”.

De lá saiu o sustento dele e da esposa, dos 13 filhos, e, mais tarde, 15 netos e sete bisnetos. Com a entrada dos filhos, genros e noras no negócio da família, outras lojas foram abertas nas Avenidas Washington Soares, Engenheiro Santana Júnior e Santos Dumont. Entretanto, o primeiro estabelecimento criado foi o único que ele visitou todos os dias, onde fazia questão de administrar tudo de perto e preferia conduzir o comércio à moda antiga; sem tabelas, sem cadernos de contas, sem controle informatizado dos gastos e lucros; apenas com as contas “de cabeça”.
Menino que fui apreciando os sorvetes de seu Juarez sempre acompanhado de meu pai e dona Themis, minha mãe, um dia resolvi assentar moradia na cidade de Sobral há 5 anos. Lá tive a grata satisfação de saber que havia e ainda há desde muitos anos, o estabelecimento que produz o mesmo e saboroso produto, conhecido e apreciado por muitos na capital cearense. Refiro-me aos sorvetes da “Sorveteria Juarez”. Mantida aqui por um de seus filhos, a filial da “Princesa do Norte” segue fielmente as receitas, preciosas delicias que seu pai, o saudoso sorveteiro João Juarez Albuquerque, que no início deste ano de 2018, aos 90 anos de idade completou sua missão terrena, deixando como herança inúmeros sabores bem como o exemplo do trabalho, de acordar cedinho, comprar as frutas frescas e selecionadas, o cuidado e o respeito pelo bem estar de seus clientes por não adicionar em seus produtos aditivos com emulsificantes, corantes, conservantes e outros.

Aqui eme Sobral, a “Sorveteria Juarez” cuida em amenizar o calor e a fome por coisas gostosas nos 365 dias de muito sol que tem por essas bandas. A sorveteria está localizada próxima ao mais importante cartão postal da cidade: o Arco Nossa Senhora de Fátima. Mas, voltando a lembrar o fundador dessa quase sexagenária maravilha, digo que tive o prazer de conhece-lo e por algumas vezes trocado algumas ideias com o nobre filho de Santana do Acaraú, cidade bem próxima aqui de Sobral. O Juarez era aquela pessoa sisuda, mas, contraditoriamente muito bem humorada. Gostava de fazer graça, atendendo os clientes sempre com uma piada a respeito dos inúmeros sabores de seus sorvetes – Eu, que também levo uma troça, chegava na sua sorveteria e perguntava: – Juarez, tem sorvete de galinha? e ele respondia: – Cosida ou assada, mas se preferir um sorvete de pitomba… era uma graça… Bem, agora sem o velho amigo por perto, resta-nos saborear das delícias de seus sorvetes e lembrar de um homem que fez história com seu trabalho e sua marca.

Eugênio Luiz, Art-designer, boa gente e prosador de primeira linha.

(Túlio Monteiro Blog)