MP de Sobral "fecha os olhos" para aglomeração nas filas da Caixa e proíbe carreatas

Blog do  Amaury Alencar


 
O Ministério Público de Sobral editou uma recomendação nesta quinta-feira (16) para que as autoridades de Sobral “adotem todas as providências necessárias para impedir que carreatas, passeatas e buzinaços aconteçam em Sobral”. O vigilante MP está atento ao que pode acontecer no futuro, mas fecha os olhos para o presente.
 
Desde a última segunda-feira (13), uma multidão se espreme em filas que se estendem por quarteirões para tentar retirar os R$ 600,00 de auxílio emergencial, programa do governo Bolsonaro para fazer frente às dificuldade financeiras de pequenos empreendedores que perderam renda por causa da quarentena.
Os pobres são as principais vítimas. A fome já se abateu sobre suas casas antes mesmo da ameaça do coronavírus. E ainda ficam sem a proteção das autoridades. Para resgatar o benefício, que pode amenizar a tristeza doméstica, não apenas se humilham pelas filas, mas se arriscam a ser contaminados pela proximidade com pessoas de mesma sina.
São sócios na pobreza e na condição do risco de contrair o vírus. Cada um ali é um possível transmissor da doença, pois já provado que 50% da infecção se dá por meio de sujeitos assintomáticos.

Os pobres são invisíveis para a sociedade. Prova disso é essa iniciativa do MP, que se apressa em emitir uma recomendação ao secretário de Segurança e Cidadania, ao comandante do 3º Batalhão da PMCE, e aos delegados de polícia, para que evitem uma carreata ou buzinaço.

Carreatas não produzem tanta aglomeração quanto essas filas, buzinaços não aglomeram tanto quanto as filas da humilhação e da indignidade.

Talvez o MP esteja preocupado com um movimento chamado nas redes sociais. Aconselho a sair às ruas e se aproximar das agências da Caixa e das lotéricas. Sem carro, sem buzinaço, sob chuva e sol, uma multidão se aglomera todo dia, “se arrastando que nem cobra pelo chão”. Sem chamar a atenção das autoridades.

Fonte: Sobral Post / Luciano Clever