Após encontro virtual que reuniu 26 dos 27
governadores estaduais ontem, os chefes de Executivo divulgaram uma
carta ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na qual afirmam que
continuarão a adotar medidas restritivas contra o novo coronavírus.
Entre os principais pontos, está "apoio do Governo
Federal à aquisição de equipamentos e insumos necessários à preparação
de leitos, assistência da população e proteção dos profissionais de
saúde", mas também "adoção de outras políticas emergenciais capazes de
mitigar os efeitos da crise sobre as parcelas mais pobres das nossas
populações".
Um dos signatários do documento, o governador do Ceará,
Camilo Santana (PT), disse depois da videoconferência que todas as
ações contra a Covid-19 no Estado "são organizadas a partir de
orientações de profissionais altamente qualificados da saúde e da OMS"
(Organização Mundial da Saúde).
Segundo o petista, que avaliou a reunião de colegas de
Executivo como positiva, "especialistas reafirmam a necessidade de
isolamento social" como expediente eficaz contra o avanço do vírus.
Um dia antes, na terça-feira, Bolsonaro criticou os
gestores por instituírem ações que limitavam a circulação de pessoas e
estipulavam fechamento do comércio, principalmente o governador de São
Paulo, João Doria (PSDB), com quem discutiu ontem. Em
pronunciamento por cadeia nacional, o presidente voltou a dizer que
ações eram um exagero e defendeu a retomada da normalidade, reabertura
das escolas e de setores produtivos a fim de salvaguardar a economia.
Também nessa quarta-feira, o ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta, atacou os decretos de quarentenas editados por chefes
estaduais. Para ele, que estava sob pressão do presidente desde o
início da manhã, as iniciativas, consideradas precoces, precisam ter
prazo para se encerrar.
No Ceará, que já contabiliza 211 casos confirmados de
coronavírus, a ordem para fechamento temporário de estabelecimentos
expira no próximo domingo, quando se completam dez dias desde a sua
publicação em Diário Oficial do Estado (DOE).
Procurado, o Palácio da Abolição afirmou que a eventual
renovação da determinação será avaliada dia a dia, a depender da
evolução dos casos locais da infecção pela doença. "É uma epidemia
dinâmica", disse Camilo nas redes. "Precisa todo momento de uma
avaliação, e é isso que nossos profissionais estão fazendo todos os
dias."
Ainda durante transmissão na Internet, a primeira
depois das declarações de Bolsonaro, Camilo reforçou que "o momento é de
unidade, serenidade e de união". De acordo com o governador, "é
necessário deixar de lado questão política, partidária e ideológica" no
combate ao coronavírus.
"Precisamos nos proteger do vírus e o emprego das
pessoas. Esse é o grande desafio", acrescentou. "Esse é o alinhamento
dos governadores do Brasil. Exige esforço, diálogo e a participação de
todos, inclusive do Governo Federal." Em seguida, Camilo reiterou:
"Queremos diálogo constante com o Governo Federal".
Temer
O Conselho da República, previsto na Constituição,
já foi acionado por outros chefes do Executivo em situações de crise. O
então presidente Michel Temer o convocou em 2018, para discutir a
intervenção federal na segurança pública do Rio
O POVO