Embora o alerta seja constante, é no período do Carnaval que órgãos de
saúde e especialistas da área reforçam a devida atenção para a
proliferação das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). No Ceará,
ao passo que a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), causada
pelo vírus HIV, reduziu sua incidência ao longo dos anos, a sífilis
adquirida vem crescendo.
Dados da Secretária da Saúde do Estado (Sesa) mostram que, entre os anos
de 2015 e 2019, os casos de Aids no Ceará caíram 35%, passando de 1.119
para 721. Os casos de sífilis adquirida, por sua vez, mais que
quadruplicaram no mesmo período.
Ao todo, foram 676 pessoas diagnosticadas com a doença em 2015, mas o
número chegou a 3.032 no ano passado. Para a assessora técnica do GT de
IST, Aids e Hepatites Virais da Sesa, Anúzia Lopes, a diminuição dos
casos de Aids no Estado se deve pela facilitação do diagnóstico do HIV,
assim como as ações de prevenção contra o vírus. Por outro lado, explica
que os casos de sífilis adquirida aumentaram em decorrência das ações
de implementação da própria vigilância epidemiológica, como a expansão
dos testes rápidos, facilitando o diagnóstico.
"Provavelmente, eram pessoas que não tinham acesso ao diagnóstico. A
metodologia antigamente era só laboratorial, então, às vezes, demorava.
Com o teste rápido, além de conseguir ter essa metodologia na maioria
das unidades básicas de saúde, eu consigo fazer um diagnóstico pelo
menos de triagem, para dar um indicativo e abrir a investigação para o
resultado já em 20 minutos. Logicamente, se eu consigo dar para a
população uma oferta maior de diagnóstico, consequentemente isso acaba
encontrando pessoas mais infectadas", ressalta.
Ainda segundo a assessora técnica da Sesa, o período do Carnaval recebe
maior atenção pelo aumento das vulnerabilidades entre os foliões. Por
isso, o trabalho educacional é voltado para campanhas de incentivo ao
sexo seguro.
"É um período em que normalmente as pessoas fazem um uso um pouco mais
abusivo de álcool e outras drogas, então consequentemente a população
acaba ficando um pouco mais vulnerável a algumas práticas sexuais não
seguras. Quando a população está mais bem informada, geralmente ela
busca essas alternativas, então, nesse período, a gente acaba focando na
prevenção. Para as pessoas ficarem mais cientes, nós pedimos que usem
camisinha na maioria das relações", afirma.
PROTEÇÃO
Foi exatamente por meio de uma relação sexual não protegida que o
auxiliar administrativo Leonardo Costa contraiu o HIV. Em tratamento há
cerca de cinco anos, e atualmente com carga viral indetectável, ele tem
uma vida absolutamente normal, embora com cuidados redobrados. "Depois
de dois anos que descobri o vírus, tive uma tuberculose e precisei
trocar os medicamentos. Embora o sistema imunológico esteja tranquilo, é
sempre bom evitar aproximação com pessoas doentes, como gripadas, por
exemplo", explica ele.
Apesar dos avanços em relação à qualidade e ao acesso ao tratamento,
segundo avalia Leonardo, o medo, tabu e preconceito em volta da doença
ainda são grandes na sociedade. Ele acredita que somente a falta de
informação levaria uma pessoa a não se prevenir nos dias de hoje. "Além
da proteção pelo preservativo, ainda existem outras formas, também, como
a profilaxia pré e pós exposição, coisa que eu só vim saber existir
depois de já iniciar o tratamento", conta o auxiliar administrativo.
Para o médico infectologista Anastácio Queiroz, o cenário epidemiológico
atual indica que o País como um todo ainda deve investir muito na
prevenção, não só de grupos específicos, mas da população em geral. Com
base em uma variação maior ou menor de DSTs distintas ao longo dos
períodos, o especialista avalia como essencial que se conheçam o público
acometido por cada patologia para, assim, se criarem ações de prevenção
específicas para cada um.
"Algumas doenças sexualmente transmissíveis têm períodos para acabar,
mas a sífilis, por exemplo, não. Enquanto você não tratar, o indivíduo é
um contaminante, então isso é um problema muito sério. É preciso
divulgar mais, principalmente naquela população que está tendo mais
casos, que eu não sei se é a mesma população que tem outras doenças que
diminuíram. Por isso que é importante, de posse de dados detalhados, que
as autoridades possam fazer políticas direcionadas", diz.
Anastácio Queiroz destaca ainda a necessidade de campanhas educativas
contínuas, e não apenas em épocas específicas, até que determinada
doença esteja erradicada. "Isso cria o hábito nas pessoas. É preciso
difundir essa informação da melhor maneira possível, conseguindo atingir
diferentes públicos", adverte o médico infectologista.
