Em um ano, canudos de plástico são proibidos em oito estados e no DF

Blog do  Amaury Alencar



Vilões do momento, os canudos de plástico foram banidos em oito estados e no Distrito Federal em pouco mais de um ano. Além do veto ao canudo em Acre, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo, em 17 dos 18 estados onde o artefato ainda é permitido tramita ao menos um projeto de lei para proibi-lo. Das 27 unidades da federação, a única onde não foi localizada proposta acerca do tema é Rondônia.

 

Há também iniciativas a nível municipal: em ao menos 80 cidades, boa parte delas no litoral – incluindo Fortaleza –, estão em vigor leis que proíbem os canudos, segundo estudo inédito da organização WWF Brasil. O Rio de Janeiro foi a primeira cidade do país a banir o item em quiosques, bares e restaurantes. Fortaleza e Jijoca de Jericoacoara, de grande potencial turístico, também seguiram a ideia, assim como Fernando de Noronha (que foi além e proibiu qualquer descartável plástico na ilha).

O vídeo da retirada de um canudo do nariz de uma tartaruga marinha gravado em 2015 pela bióloga Christine Figgener na Costa Rica catalisou a mobilização mundial contra o objeto e rendeu à pesquisadora o epíteto, conferido pela revista Time, de uma das líderes da próxima geração.
Disney, McDonald’s, Burger King, Starbucks e redes hoteleiras anunciaram que substituiriam os canudos por alternativas sustentáveis. O Parlamento Europeu aprovou uma lei para bani-lo até 2021, junto com outros itens plásticos, e a agência ambiental da ONU lançou uma campanha contra a poluição dos oceanos por plástico.

Projetos
Os projetos aprovados e em tramitação no país são semelhantes: a maioria proíbe a distribuição e venda dos descartáveis em restaurantes, bares, lanchonetes, quiosques e estabelecimentos e sugerem o uso de biodegradáveis ou reutilizáveis, como os feitos de papel, bambu, vidro ou aço.

Em alguns locais, além dos canudos, foram banidas sacolas e outras embalagens plásticas. São Paulo, por exemplo, só permite as de bioplástico desde 2015. O estado do Rio de Janeiro proibiu o item em supermercados há sete meses. Mas os canudos são o alvo maior, diz Lobo. “As pessoas o usam de 5 a 15 minutos, e ele demora mais de 400 anos para se decompor. Mostra como o plástico acabou banalizado”, diz ela, que vê no verão um bom momento para chamar a atenção para o problema.

Para Luigi Longo, presidente do Instituto Movimento Cidades Inteligentes, organização pelo desenvolvimento sustentável dos municípios, as leis que tratam do canudo são importantes para incentivar as pessoas a repensarem seu uso. Ele avalia, contudo, que lhes falte profundidade. “Um vereador ou deputado vê que é um tema em voga monta um projeto de lei, mas sem a análise do real impacto. Vai acontecer de fato? Terá fiscalização?”, indaga. “Se a gente mobiliza a sociedade em prol do tema e não continua a trabalhar nele de forma estratégica, tende a esfriar.”

No Rio, quase um ano após ser banido, o canudo de plástico ainda podia ser encontrado em barracas de praia, bancas de jornal e vendas informais. Na maioria dos restaurantes visitados, contudo, foram oferecidas alternativas.

Políticas
E não adianta tratar o combate aos canudos como solução para o lixo do planeta: Longo sublinha que é preciso investir em políticas públicas de gestão de resíduos sólidos. “Sem educação e tratamento de resíduos, a lei do canudinho não serve para nada.” Também diz que o poder público não deve apenas restringir o consumo de plástico em estabelecimentos comerciais, mas também em repartições públicas, banindo copos de plástico, por exemplo.

Em nota, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) diz que “a discussão sobre o consumo de plástico de uso único se deu de forma simplista, basicamente em torno da comercialização dos canudos plásticos, minimizando um problema muito maior e mais complexo”. Para a associação, legisladores colocaram o problema nas mãos dos empresários do setor de bares e restaurantes.