A
37ª edição da Caminhada da Seca é realizada neste domingo, 10, em
Senador Pompeu, município a 267,7 quilômetros de Fortaleza. O evento é
uma homenagem às vítimas dos campos de concentração que impediam
flagelados da seca do interior do Ceará a chegar em Fortaleza na década
de 1930. Todos os anos, cerca de cinco mil pessoas se reúnem para
caminhar três quilômetros da Igreja Matriz do município até o açude Patu
rezando pelas Almas da Barragem. Apesar de ser uma peregrinação de
cunho religioso, participa também quem cobra a aplicação de políticas
públicas que melhorem a convivência com o semiárido.
Esta
edição da caminhada tem como tema também o tombamento municipal do
conjunto arquitetônico formado por 12 casarões, três casas de pólvora,
um cemitério e a barragem, ocorrido em julho de 2019. Ainda neste
sábado, 9, às 13h30min, historiadores, pesquisadores e o prefeito,
Maurício Pinheiro, participam de um seminário aberto ao público sobre a
proteção do patrimônio histórico do povo da cidade.
Como
alguns dos sobreviventes do campo de concentração estavam vivos até
poucos anos atrás, grande parte da população é afetada diretamente pela
história, pois muitos são descendentes das vítimas. É o que diz o
jornalista Fabrício Paiva, autor do livro “A cerca: uma viagem pela
história do campo de concentração de Senador Pompeu”. Ele explica que a
fé nas Almas da Barragem antecede a criação da caminhada e, por isso,
sobrevive há mais de três décadas no calendário católico da cidade.
O
rito termina no cemitério da barragem, onde as pessoas que morreram no
campo de concentração foram enterradas. Números oficiais indicam que
1.637 pessoas morreram de fome ou de doenças não tratadas no local. No
entanto, as subnotificações dão conta de uma quantidade muito maior.
Após a dissolução do campo, grande parte da população sobrevivente foi
morar em Senador Pompeu. O rito também mobiliza diversas pessoas de
municípios próximos.
Além das lembranças e preces
pelos que sofreram nos campos de concentração, a caminhada reúne queixas
sociais. Perfurações de poços, melhorias na distribuição de água, bem
como em sua qualidade, são reivindicações da população, de acordo com
Fabrício. “A gente não combate a seca, a gente convive com o semiárido.
Em 1932, encarávamos uma seca menor do que a dos últimos anos. Mas o
modo como a gente aplica os recursos mudou”. Outros assuntos que dizem
respeito à qualidade de vida do trabalhador rural, como a reforma da
Previdência, também são pautados.
Confira a programação completa da 37ª Caminhada da Seca
SÁBADO
100 anos do Patu: Memórias, Territórios e Identidades.
13h30min – Abertura Oficial do Seminário, participação Prefeito Maurício Pinheiro.
13h30min
– Participação do Trabalho Científico dos alunos da Escola Moreira
Campos, participação professora: Marlene Alves Pinheiro e alunos.
14h – Certificação do Curso de Guia de Turismo.
14h30min
– Mesa 1: História e Patrimônio: Memória, saberes e fazeres.
Participação: Prof. Lucineide Nery, Prof. Agna Ruth e Marta Souza
Mesa 2 – A Educação na identificação, reconhecimento e preservação da identidade cultural.
Participação: Célio Pinheiro e Adriano Bezerra.
Mesa 3 – Democracia e direitos na preservação do Sítio Histórico do Patu.
Participantes: Dr. Valdecy Alves, Breno Torquato e Arquiteto Sales Veloso.
DOMINGO
4h30min: Concentração da caminhada em frente a Igreja Matriz de Senador Pompeu
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