O Fundo Monetário Internacional (FMI) avalia que o Brasil deve elevar o ritmo de crescimento de 0,8% em 2019 para 2,4% em 2020, ao considerar que “uma robusta” reforma da Previdência Social será aprovada pelo Congresso, com retorno da confiança de empresários e famílias, recuperação de investimentos e manutenção da política monetária acomodatícia, de acordo com Alejandro Werner, diretor do FMI para o Departamento do Hemisfério Ocidental, em texto breve que trata das perspectivas econômicas para a América Latina.

“Em adição a uma bem sucedida aprovação da reforma da Previdência, permanece crucial uma continua redução do déficit do Orçamento nos próximos anos para assegurar a sustentabilidade de dívida pública”, apontou Werner. “Para reforçar o potencial de crescimento, o Brasil precisa de reformas estruturais decisivas, incluindo a tributária, privatização, liberalização comercial e medidas para fortalecer a eficiência da intermediação financeira.”
O diretor do Fundo destacou que elevadas incertezas sobre políticas adotadas por governos de países grandes da América Latina contribuíram para o fraco desempenho do crescimento da região de janeiro a junho. No caso do Brasil, preocupações com o prazo e a magnitude da reforma da Previdência mantiveram dúvidas sobre medidas da administração federal “acima de médias históricas.” Ele também apontou que, em relação ao setor de mineração do País, a atividade apresentou moderação no primeiro semestre devido à tragédia provocada pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, no começo do ano.
O FMI diminuiu a previsão de alta do PIB do Brasil de 2,1% para 0,8% para este ano, a maior para países analisados pela atualização de julho do documento Perspectivas Econômicas Mundiais. Em relação a 2020, a projeção foi levemente reduzida, de 2,5% para 2,4%.
O desempenho mais fraco da economia do Brasil e do México foram importantes fatores que levaram o Fundo a reduzir a projeção do crescimento da América Latina de 1,4% para 0,6% em 2019 e de 2,4% para 2,3% em 2020.
O Fundo cortou a estimativa de expansão do PIB do México de 1,6% para 0,9% para este ano devido a muitas incertezas sobre políticas do governo do presidente Andrés Manuel López Obrador, mas manteve a previsão de alta de 1,9% em 2020 com a normalização das condições da economia.
Segundo Werner, o México enfrenta incertezas elevadas devido à reversão de algumas políticas oficiais, como a relacionada às reformas nos setores de energia e educação. “Há também continuas preocupações sobre a saúde financeira e perspectivas da Pemex.”
Para o diretor do FMI, o cumprimento da meta do déficit fiscal deste ano e a aprovação de um orçamento “prudente” para 2020 serão importantes para provar o compromisso da gestão de López Obrador de responsabilidade na administração das contas públicas e de não elevar a dívida oficial como proporção do Produto Interno Bruto. “Avançar reformas estruturais para reforçar a produtividade continua fundamental para fortalecer o potencial de crescimento do México no médio prazo”, destacou o diretor do Fundo.
Para a Argentina, o Fundo estima que a recessão deve reduzir sua força neste ano, pois depois de o PIB cair 2,5% em 2018 deve registrar uma retração de 1,3% em 2019, com um declínio recente da inflação e melhora do nível de atividade.
Contudo, o FMI reduziu pela metade a previsão de crescimento da Argentina de 2,2% para 1,1% em 2020 sobretudo porque os juros reais precisarão continuar elevados por um bom período porque deve persistir a inflação alta. Por outro lado, o país deve registrar uma recuperação da produção agrícola e gradual retomada do poder de compra de consumidores, depois da vigorosa compressão dos salários reais no ano passado.
Em relação à Venezuela, o Fundo ampliou sua projeção de queda do PIB para este ano de -25% para -35% e manteve a previsão de retração de 10% em 2020. Devido à profunda crise econômica e humanitária no país, o FMI prevê que o Produto Interno Bruto deve registrar uma queda de 60% de 2013 a 2019. “A hiperinflação também é prevista para continuar e imigração a intensificar”, apontou Werner, ressaltando que o total de pessoas que deixarão aquela nação deve superar 5 milhões até o final deste ano.

(Estadão)