Horas depois de o jovem sob suspeita de coronavírus ter procurado atendimento médico em Sobral - com sintomas de febre, coriza, falta de ar alguns dias antes e dores pelo corpo, e relatando sua estada na China por 90 dias
-, um familiar e um colega de trabalho dele também foram ao mesmo
hospital particular e descreveram quadros gripais semelhantes, porém
menos agravados.
A informação foi confirmada ao O POVO pelo diretor do hospital da Unimed na cidade, Artur Guimarães, em entrevista ao repórter Carlos Mazza.
"Os dois convivas dele vieram aqui com quadros gripais leves", contou,
sem estender mais detalhes. Teriam sido orientados a procurar a rede
pública, porque ainda não estariam considerados na mesma suspeição da
doença porque os exames do paciente ainda estão sendo analisados.
O rapaz mora em Sobral com pai, mãe e irmão,
que haviam sido orientados pela Secretaria Municipal da Saúde a
procurar a rede hospitalar somente se apresentarem algum sintoma.
Desde a noite de quarta-feira, 29, o rapaz, sobralense de 27 anos, está internado no Hospital Regional Norte (HRN). Está em isolamento numa ala para pacientes de médio risco, mas acompanhado por médicos intensivistas.
Sua sintomatologia tornou-se suspeita por ele ter confirmado que esteve
na China entre outubro último e o início de janeiro participando de um
treinamento de trabalho. Ele é técnico de uma empresa de energia eólica.
Na manhã desta quinta-feira, 30, amostras de seu
sangue, da saliva e da secreção nasal foram enviadas para análise no
laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e ao Laboratório Central de
Saúde Pública (Lacen), em Fortaleza. As coletas foram feitas ainda
quando ele estava internado no Hospital da Unimed. O resultado deve sair
no prazo máximo de uma semana, após contraprovas.
Em 12 horas, quadro permaneceu estável
Na Unimed, o diretor conta que o jovem permaneceu sob
cuidados num período de 12 horas - das oito da manhã às oito da noite de
quarta-feira. Seu estado permaneceu estável, sem febre nem dores ou
falta de ar, mas ainda com a coriza.
Foi submetido a hidratação com soro, alimentação e
medicação direcionada aos sintomas. "Não teve piora nenhuma no período. À
noite já estava melhor". Por volta das 19 horas, ele próprio chegou a postar uma mensagem em grupo de WhatsApp. Explicou a amigos que estava bem e que buscou o atendimento médico espontaneamente.
A transferência do rapaz foi requisitada para o HRN,
segundo Artur Guimarães, porque o hospital privado não teria estrutura
adequada para manter o paciente no isolamento recomendado pelo
Ministério da Saúde. "Diante da gravidade da situação, é importante ter
pessoas qualificadas e condições corretas de isolamento", explicou
Guimarães.
Foi a Vigilância Epidemiológica que, ao receber a
notícia do caso suspeito, pediu que a ele fosse mantido internado e
isolado. "Pra nós é risco quando não tem condições de isolamento
próprias. A gente improvisa, mas não é o perfil da instituição",
justificou o diretor.
China-São Paulo-Fortaleza-Sobral
Na China, a região da província de Wuhan é o epicentro da doença em número de casos e mortes.
O rapaz relatou à médica plantonista que a cidade chinesa mais perto
que visitou era distante cerca de 400 km. Passou por cinco cidades
durante os três meses. Na viagem de volta, dia 17 de janeiro,
desembarcou primeiro em São Paulo, fez conexão e chegou a Fortaleza.
Voltou de carro para Sobral.
Guimarães ressalta que, não fosse o cenário de
preocupação mundial com o coronavírus gerado a partir da propagação na
China, "ele passaria por uma gripe normal. Talvez um pouco diferente
porque ele relatou dispneia (falta de ar), o que não é comum. Mas ele
não chegou aqui com dispneia, só contou pra médica que o atendeu aqui" -
pontuou.
Os sintomas apareceram a partir do último domingo, 26,
quando ele ainda estava em Tianguá. Entre os dias 17 e 26, contou ter
ido numa festa de formatura, ao cinema e, no último sábado, num
bloquinho de carnaval em Sobral. Entre Tianguá e Sobral, foi e voltou de
ônibus.
Com informações do repórter Carlos Mazza, enviado a Sobral