É através de um grupo criado no aplicativo de
mensagens instantânea WhatsApp que pelo menos 52 estudantes estão se
articulando desde que se sentiram prejudicados pelo erro na correção dos
gabaritos do Enem 2019. Eles são de várias escolas e encontraram
representação na advogada Laciana Lacerda para entrar com pedido de
investigação junto à Procuradoria da República no Ceará.
Na tarde desta quarta, 22, Laciana deve formalizar o pedido presencialmente. Ao O POVO,
ela contou que tudo indica que os pedidos sejam aceitos. “Estamos
pedindo abertura do inquérito civil para investigar irregularidades,
suspensão das inscrições do Sisu até que tudo seja explicado,
disponibilização dos espelhos dos gabaritos pelo Inep e uma audiência
pública para tratar o tema”, explicou.
Conforme a petição da denúncia protocolada por Lacina, a
forma como o ministro da Educação, Abraham Weintraub, manifestou as
soluções para elucidação dos fatos e correções devidas da prova é “uma
tentativa clara de eximir-se de sua responsabilidade através da redução
dos impactos negativos, trazendo soluções inadequadas ao caso em
comento, dada sua gravidade”.
“Queremos investigar desde a forma de contratação da
empresa responsável pela impressão das provas, cartões respostas e
folhas de redação, até a divulgação errônea dos resultados”, afirma a
advogada. Na audiência pública também requerida na denúncia, a ideia é
reunir representação de todas as comissões de educação dos órgãos de
controle social, como Ministério Público do Ceará (MPCE) e Assembleia
Legislativa.
Essa não é a única denúncia que o Ministério Público
Federal (MPF) tem recebido. Conforme matéria da Folha de S.Paulo
publicada ainda nesta quarta, pelo menos cinco estados protocolaram
queixas em série contra o MPF. Pelo menos 172 mil reclamações foram
enviadas ao Ministério da Educação (MEC).
Ainda segundo a matéria, foram:
- 80 em Minas Gerais;
- 13 em São Paulo;
- As Procuradorias de Rio Grande do Sul e Espírito Santo analisam reclamações de alunos para definir se abrem procedimento;
- Uma no Ceará.
Este do Ceará é o caso da estudante Ana Leticia da
Silva Alves, 21 anos, que ingressou com a representação no sábado, 18,
após confirmação do governo sobre o erro.
“O processo está eivado de irregularidades. Estamos requerendo que os fatos sejam apurados”, ressalta Laciana Lacerda. O POVO
entrou em contato com o MPF do Ceará. Segundo órgão, ainda não há
contabilização oficial dos processos - o que já está sendo feito. A
ideia é manter organização dos casos, que podem ser agrupados em um
mesmo requerimento ou não.
Ainda segundo Lacina Lacerda, é depois da apresentação
oficial de hoje que o promotor que irá assumir a titularidade do caso
será escolhido.
Estudantes formam grupo para se organizar
Nathalia Amaro, maranhense de 20 anos, veio para
Fortaleza para tentar cursar Medicina. Ela é uma dos jovens que está se
sentindo prejudicada após erro no Enem. Depois de perceber incoerências
em sua nota, resolveu se articular com outros estudantes. Foi após matéria feita pelo O POVO, que Nathalia conheceu Lucas Alves e resolveu entrar em contato.
Hoje, os dois, que faziam cursinho no mesmo lugar, mas
não se conheciam, participam de um grupo com 52 pessoas, entre
estudantes de cursinho, escolas particulares e municipais. Todos estão
sendo representados pela advogada Laciana.
O sonho da jovem teve que ser adiado, já que sua nota
caiu 20 pontos desde ano passado - o que causou estranheza, segundo ela.
“Fiquei totalmente decepcionada. Mesmo acertando mais questões esse
ano, a minha nota diminuiu 20 pontos”, explica. É o terceiro ano que a
estudante se prepara para Medicina.
Apesar da denúncia estar em andamento, a jovem afirma
não ter mais esperança e até já se inscreveu novamente no cursinho que
fazia. “Me senti lesada, não era o que eu esperava. Passei o ano
estudando com bolsa no Farias Brito. Minha família depositou confiança
em mim”, desabafa.
UNE e a Ubes acionaram o MPF pedindo uma auditoria sobre a correção do Enem
Na última terça, 21, as entidades de representação
estudantil UNE (União Nacional dos Estudantes) e Ubes (União Brasileira
dos Estudantes Secundaristas) entraram com um pedido de auditoria junto
ao Ministério Público Federal.
A diretora da UNE, Jéssica Rebouças, contou que um dos
obstáculos é que ainda não se tem dimensão real da quantidade de notas
erradas. “UNE e a Ubes acionaram o MPF pedindo uma auditoria sobre a
correção do Enem com o objetivo de dimensionar esse erro e investigar
uma possível improbabilidade administrativa no Inep”, explicou ao O POVO.
Jéssica também criticou os posicionamentos dos órgãos
em relação ao tema. Para a diretora, eles são “vexatórios”. “Elas não
esclarecem a dúvida dos estudantes que se sentiram lesados. A gente
recebeu várias denúncias no email da UNE sobre as notas. Isso afeta o
sonho de vários jovens brasileiros”.
O pOVO