Cariri está em alerta para desabastecimento de medicamentos e insumos para intubação

Blog do  Amaury Alencar
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                                            Foto Tiago Stille/ Governo do Estado 


O Cariri há dias sofre com a alta demanda para leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) hospitalares de pacientes com Covid-19, o que tem gerado sobrecarga tanto nas unidades disponíveis quanto ao uso de medicamentos necessários para manter o paciente internado. Como em vário estados, tais insumos já começam a dar indícios de falta, a região fica em alerta, dando indícios de que pode sofrer com o desabastecimento nos próximos dias.

Em entrevista ao Badalo, Sayonara Moura Cidade, secretaria de Saúde de Barbalha e presidente reeleita do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE), informou que ao menos 80% das cidades cearenses estão com leitos de UTI em “criticidade”. Na região, a maior demanda se concentra em Juazeiro do Norte e Barbalha. Crato, apesar da demanda um pouco menor, também possui menos leitos e atesta estar em estado mais crítico.

Esses municípios, segundo ela, têm estoque suficiente para no máximo duas semanas. Ao todo, 22 medicamentos compõem o chamado “kit intubação”. Deste total, Sayonara relata que os insumos que estão próximo de se esgotarem são os bloqueadores neuromusculares e anestésicos.

“As unidades com leitos particulares podem recorrer a outros fornecedores. Se não tem em um, eles buscam em outros. Diferente dos leitos públicos. Quando a licitação é feita, temos apenas dois ou três fornecedores específicos. Desta forma, o pedido é feito, mas a entrega é 60, 70% menor, devido a falta dos medicamentos”, acrescenta. “Recebamos só três itens dessa remessa dos 22 medicamentos necessários, é muito preocupante pois a demanda está aumentando a cada dia.”

A Secretaria da Saúde do Ceará, por sua vez, garantiu que não há falta de medicamentos do kit intubação nas unidades de UTI geridas pelo Estado. A Sesa acrescentou ainda que “se planejou com antecedência e tem garantido os fármacos essenciais para o tratamento da Covid-19 em sua rede hospitalar”.

O Hospital São Camilo, em Crato, que possui leitos para atendimento Covid custeados pelo Estado, confirma o risco de desabastecimento e diz que tem estoque suficiente apenas para os próximos cinco dias.”Há pedidos pendentes que não foram entregues pela fornecedora. Até sexta-feira (26) se não recebermos, ficaremos desabastecidos”, disse Marcelo Vasconcelos, diretor administrativo da unidade. O Hospital conta com 10 leitos de UTI, cuja taxa de ocupação “tem sido quase sempre de 100%”, segundo Marcelo.

O Hospital Regional Cariri (HRC), com 35 leitos, informou em nota que “relação aos sedativos, estamos monitorando junto com a Sesa diariamente”. Quanto ao sistema de oxigenação, disse que possui “dois tanques de oxigênio líquido, o principal com a capacidade de 42.000 m³ e o Backup de 2.970 m³, permitindo atender a demanda da unidade”, e que “sempre que o nível do tanque principal atinge a capacidade de 30% do total, a empresa fornecedora de oxigênio realiza um novo abastecimento.

Já o Hospital Santo Antônio, informou que “o estoque de medicamento usado na sedação de pacientes está dentro da demanda da Ala Covid do HSA. A usina de oxigênio é complementada diariamente com empresa terceirizada para garantir a demanda atual, hoje com 100% ocupação da UTI Covid adulta e 40% ocupação UTI pediátrica.”

A reportagem entrou em contato com assessorias dos hospital São Raimundo, em Crato, e São Vicente, em Barbalha, e aguarda resposta destes sobre a demanda dos insumos.

Falta de medicamentos

A falta dos medicamentos teve seu nascedouro ainda no ano passado, explica Sayonara. “Em agosto de 2020, o Ministério da Saúde cancelou uma compra internacional que seria de suma importância para abastecer todos os Estados. Desde então, estamos nos valendo de fornecedores nacionais”.

O problema, acrescenta a presidente, é que a indústria nacional não consegue atender a ampla demanda diante do alto volume de pacientes em estado grave e que precisam de intubação. Segundo gestores do setor farmacêutico, a matéria-prima dos medicamentos vem da China ou da Índia.

“A resolução está nas mãos do governo Federal. Só ele pode resolver esse massacre que tem sido a aquisição desses medicamentos. No sábado aconteceu uma reunião entre Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Conasems para que fosse debatida a realização dessa compra. Caso ela seja feita, acredito que a situação pode ser normalizada”, ilustra Sayonara Cidade.

Do contrário, ela vislumbra um significativo salto nos óbitos nos próximos dias. “Se não tiver medicamento, infelizmente vamos ter aumento nas mortes. Primeiro vamos tentar remanejar pacientes para onde tenha todos os insumos, mas vai chegar um momento que a falta vai ser geral. É realmente dramático, é desesperador para qualquer gestor solicitar uma quantidade x de medicamento, mas receber, às vezes, apenas um quarto disso por falta no mercado”.

                         Badalo 

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