O produtor rural
brasileiro tem buscado informações para encarar o novo coronavírus, de
forma a evitar que o prejuízo já esperado fique ainda maior. De acordo
com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), pequenos e
médios produtores têm sido os que mais buscam informações junto à
entidade.
A guerra é contra o vírus, e em defesa do
negócio, dos entes queridos e das equipes que trabalham no campo. Dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que
mais de 15 milhões de pessoas trabalham nos estabelecimentos
agropecuários do país.
De acordo com CNA e Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), como o setor agropecuário
brasileiro já tem uma rotina de cuidados constantes em relação a
procedimentos sanitários, poucas mudanças de rotina serão implementadas.
Boa parte delas, similares aos cuidados sugeridos pelo Ministério da
Saúde à população como um todo.
Mesmos assim, alguns pontos da rotina foram
alterados em função das medidas preventivas de contaminação. Em
especial, no sentido de manter as distâncias recomendadas entre as
pessoas; de fazer higienização; e cuidados a mais com suas equipes.
Entre eles o aumento do número de carros e ônibus usados para o
transporte de trabalhadores. “São medidas que já foram repassadas e
adotadas pelos produtores”, disse à Agência Brasil a superintendente técnica adjunta da CNA Natália Fernandes.
Boas práticas
Diretor do Departamento de Desenvolvimento
das Cadeias Produtivas, da Secretaria de Inovação do Mapa, Orlando Melo
de Castro diz que as “boas práticas já rotineiras” evitam a propagação
deste e de qualquer vírus.
Procedimentos como a limpeza constante de
equipamentos e a não entrada de pessoas estranhas nos locais são
cuidados já adotados na rotina do produtor, explica Castro. “Vale ter
mais cuidados com a propriedade, em especial com a limpeza sanitária dos
veículos que nela entrarem. E, claro, os cuidados de higiene pessoal,
que têm de ser redobrados a exemplo do que deve ser feito na cidade:
lavar as mãos com frequência, evitar circulação e ambientes com
aglomeração. Há também o cuidado de evitar que os animais de uma
propriedade tenham contato com os de outra”, disse ele à Agência Brasil.
“Os produtores estão engajados e se
consideram responsáveis pela manutenção do abastecimento de alimentos.
Principalmente os pequenos e médios produtores, porque os grandes têm
melhores estruturas e capacidade de adaptação dessas estruturas por, em
alguns casos, envolverem menor uso de mão de obra, o que diminui o fluxo
de pessoas”, acrescentou a superintendente da CNA.
Transporte
Entre as recomendações do Mapa estão algumas
relativas à circulação de mercadorias e cuidados pessoais na logística.
“Estamos tendo um cuidado maior com a limpeza dos equipamentos. A
limpeza é diária, e o compartilhamento deve ser evitado”, informa a
superintendente da CNA.
De forma geral, a distribuição de alimentos
está fluindo bem tanto nas rodovias como nos portos, segundo a CNA.
“Relatos de produtores apontaram empecilhos, mas por meio de canais
criados pela CNA com autoridades públicas temos repassado os problemas
pontualmente ao Ministério da Infraestrutura, que tem atuado com as
secretarias municipais de forma rápida, a desfazer esses pontos”, disse
Natália referindo-se a medidas municipais que, em algumas localidades,
criaram barreiras para o fluxo de pessoas e cargas.
Alimentos
Natália Fernandes explica que a primeira
preocupação da CNA foi a de garantir que a produção e a distribuição dos
alimentos fosse classificada como atividade essencial, o que já foi com
o Decreto 10.282, de 20 de março de 2020, que inclui, além da cadeia produtiva de alimentos, a bebida como essencial.
Dessa forma, tanto CNA como Mapa dizem não
haver riscos de desabastecimento no país, em função do novo coronavírus.
“Mas essa é uma questão que precisa e está sendo avaliada e reavaliada
constantemente pelas autoridades para evitar surpresas”, explica o
diretor do Ministério da Agricultura.
Impacto financeiro
A CNA não tem, até o momento, uma avaliação
precisa do impacto da covid-19 para o agronegócio. Mas já sabe que,
setorialmente, alguns produtores têm sido mais afetados. É o caso dos
produtores de flores e plantas ornamentais, que são comercializadas
principalmente em supermercado, feiras e eventos.
“Nesse caso, a redução do faturamento chegou
a 90% na comparação com o ano anterior. Este foi o primeiro setor a
sentir uma queda drástica de consumo. Em um primeiro momento, pela queda
nas compras e, depois, pelo cancelamento de novas compras pelos
estabelecimentos que tiveram de fechar as portas. Essa tendência deve
permanecer pelos próximos meses, por conta dos eventos cancelados”.
O Dia das Mães é a principal data deste
setor. “Se continuar assim até maio, o setor provavelmente não venderá o
que vendia antes, e a expectativa é de que as perdas superem R$ 1
bilhão”, acrescenta.
Um outro setor que já sente os efeitos da
pandemia de covid-19 é o de hortaliças, que tem apresentado uma variação
bastante grande tanto de demanda como de preços. “No começo da
quarentena, a população fez compras iniciais bem grandes. Depois notamos
um recuo nas vendas de tomates, frutas e, principalmente, hortaliças.
Isso se explica também pelo fechamento de bares e restaurantes”, explica
Natália.
Animais
O diretor do Ministério da Agricultura faz
um alerta: os animais criados pelos produtores rurais podem passar a
doença adiante mesmo não tendo o vírus circulando em seu organismo.
Basta que ele o tenha em algum ponto da parte externa, após ser
manuseado por alguém contaminado.
“O vírus é como uma chave que procura uma
fechadura. Cada animal tem uma fechadura, que o vírus pode ou não se
encaixar. Em geral, vírus que contamina o animal não contamina o homem
porque são fechaduras diferentes. No entanto, apesar de não serem
vetores da covid-19, eles podem passar a doença adiante através da
pelagem, por exemplo se alguém contaminado tossir ou espirrar próximo”,
disse Castro ao explicar que o procedimento preventivo, nesse caso, é
similar ao de qualquer superfície que possa estar infectada. “Basta
limpar”.
Castro tranquiliza os consumidores quanto a
carnes e lácteos certificados, já que são grandes os cuidados adotados
por frigoríficos.
Ajuda do governo
O Ministério da Agricultura informa que está
ouvindo produtores de diferentes cadeias para, a partir de análises de
situação, ver o que está, de fato, acontecendo e, então, implementar
políticas públicas de ajuda aos produtores brasileiros.
Do ponto de vista econômico, ele sugere que
os produtores busquem novos canais, além de mercados e das Ceasas, que
estão fechados por conta da quarentena. “Pensem alternativas de entrega,
de forma a minimizar suas perdas”, sugere.
Propostas da CNA
A CNA tem apresentado sugestões de medidas
para garantir a logística e a manutenção da distribuição. Entre as
propostas apresentadas está a garantia de compra dos produtos
contratados para as escolas públicas, que, diante da quarentena, foram
fechadas. “A ideia é a de, garantida a compra pelo governo, direcionar
esses alimentos às famílias dos estudantes”.
A entidade defende também a ampliação das
compras que o governo faz junto a agricultores familiares, destinadas a
famílias carentes; e o estabelecimento de medidas e requisitos que
orientem o funcionamento de feiras livres, fechadas como estratégia de
evitar aglomerações.
“São orientações, procedimentos e cuidados
para que essas feiras funcionem respeitando distâncias mínimas entre
barracas e pessoas, prevendo controle de entrada, e que os alimentos já
estejam pesados para evitar manipulação. Geralmente essas feiras já
funcionam em ambientes abertos e com circulação de ar”, detalhou a
superintendente da CNA.
Em parcerias com o poder público e com empresas de e-commerce,
a CNA está implementando medidas visando viabilizar comércio online e
plataformas integradas, para fazer a conexões diretas entre produtores,
consumidor final e comerciantes, de forma a facilitar escoamento e
vendas regionais.
Uma das medidas já adotadas é a criação de
um grupo de Whatsapp para tirar dúvidas e ajudar os produtores rurais. O
canal está aberto a todos, no número 61-9 3300 7278.