As brigas que ameaçam levar o clima eleitoral para dentro da Assembleia

Blog do  Amaury Alencar
Plenário da Assembleia, de onde sairão candidaturas em 2020 e por onde passará boa parte do debate eleitoral, em Fortaleza e no Interior
Plenário da Assembleia, de onde sairão candidaturas em 2020 e por onde passará boa parte do debate eleitoral, em Fortaleza e no Interior
Se pelo calendário oficial as eleições de 2020 estão distantes, especificamente a 406 dias de acontecerem, a prática política mais uma vez revela ter um tempo próprio. Cidades que são prioridades para as legendas, por exemplo, já começaram a ser definidas. Assim como as estratégias para conquistá-las. A reboque disso, sobe a temperatura entre os atores envolvidos.

Na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), isso se traduz comumente nos entreveros entre o líder do governo, Júlio César Filho (Cidadania), e a adversária dele em Maracanaú, além de opositora do governador Camilo Santana (PT), deputada Fernanda Pessoa (PSDB). Recentemente, trocaram críticas e provocações sobre a saída do município do projeto piloto de Segurança Pública anunciado e lançado pelo ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública).

Situação que serve para projetar um 2020 "quente" em Maracanaú, como é tradicional do município em anos eleitorais. "A população sabe quem trabalha e quem é oportunista e só chega na época das eleições", chegou a alfinetar a tucana. Essa e outras rivalidades se explicam pela árvore genealógica. Os dois são filhos de políticos que já governaram a cidade metropolitana - Júlio César e Roberto Pessoa -, que igualmente travaram, no passado, disputas ali.

Assim como os dois, a Casa ainda é composta de outros rivais em outras localidades, parte deles, inclusive, sob o mesmo guarda-chuva do arco de aliança do governador. É caso de Audic Mota (PSB) e Patrícia Aguiar (PSD), com Tauá ao centro da disputa. Com base nos relatos de deputados ouvidos por O POVO, a tendência é de que o calor das discussões registre cada vez maior crescimento.

No deslocamento entre o Salão Nobre e o plenário, após o tradicional almoço de quinta-feira oferecido pela presidência a deputados governistas e opositores, José Sarto (PDT) considerou a possibilidade de o debate intenso acontecer durante o período. Ele lembrou, porém, da redução do tempo de campanha, de 90 para 45 dias, como um fator que tem possibilidade de atenuar as rivalidades. Atravessando o sétimo mandato, o pedetista testemuunha, em tom tranquilizador, que o período não costuma apresentar problemas maiores.

"Mas, pontualmente, pode ter", ponderou. Nesta hipótese, ele ressalta entrar em cena o papel do comando da Assembleia e do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE). Normalmente, o órgão traça como deve ser a conduta dos deputados. A mesa, por sua vez, formaliza as recomendações em documento e endereça aos parlamentares.

Já o 1º secretário, Evandro Leitão (PDT), menos otimista, prevê que o afloramento da rivalidade entre políticos pode acontecer. No entanto, assegura que a mesa orientará todos, especialmente os deputados de primeiro mandato, que a "melhor maneira de defender suas ideias não é na tribuna." Se a discussão acontecer dentro da Assembleia, diz, que seja dentro dos limites do respeito.

Leitão não pretende disputar cargo executivo, mas atuará na campanha em favor de aliados. Ele disputa a preferência de eleitores com o correligionário Nezinho Farias em cidades como Itaitinga, Pacajus, Chorozinho e Barreira. "Mas sou muito amigo dele."  


O POVO