Mesmo com a crescente demanda desencadeada pelo atual cenário de isolamento social, a indústria nacional de alimentos descarta, no momento, a possibilidade de desabastecimento durante a quarentena, informou ontem, em live no Facebook do O POVO,
a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA),
Grazielle Parenti. Mesmo com as limitações impostas pelo coronavírus, o
setor segue produzindo e atendendo às necessidades do mercado interno
para dar "mais tranquilidade aos brasileiros neste período", destacou em
entrevista ao editor-chefe de Economia e Negócios do O POVO, Jocélio Leal.
Conforme Parenti, que também é diretora global de
Relações Institucionais da multinacional brasileira do ramo alimentício
BRF, dona de marcas como Sadia e Perdigão, apesar de nas primeiras
semanas de isolamento ter havido uma "corrida" aos mercados no Brasil,
assim como ocorreu em outros países, o setor conseguiu trabalhar muito bem a ideia de "essencialidade" e garantir o abastecimento. De acordo com ela, o fato de o Governo Federal ter estimulado o andamento da produção alimentícia ajudou neste processo.
"A gente só pode fazer quarentena se tiver comida. Se
não tiver, não ficaremos dentro de casa e não faremos o que é
necessário, segundo as autoridades, para combater a pandemia. Ter
isso pacificado através de legislação federal foi o que propiciou que,
hoje, as pessoas consigam ir ao mercado e ver que não falta comida",
destacou Parenti. Ela lembra que o Brasil é o segundo maior exportador
de alimentos do mundo, liderando segmentos como carne bovina, aves e
suco de laranja, e que o mercado externo também não foi prejudicado. "Não é só o consumidor brasileiro que conta conosco. O mundo conta com o Brasil", reforçou.
Parenti explica que o que tem ocorrido em alguns países
mais contaminados é uma certa demora nas travessias de fronteiras, mas
isso "não tem sido um grande problema, pois as empresas têm conseguido
manejar adequadamente". Ela reitera que, no momento, não há risco para o
setor. "As coisas estão caminhando. Claro que, diariamente,
reavaliamos se nossa estratégia está indo bem, mas temos conseguido
manter uma atuação consistente para dar tranquilidade aos brasileiros e
clientes do Exterior".
Sobre a alta do dólar e as influências disso na
indústria de alimentos, a presidente da ABIA ressaltou que "tem gente
feliz e triste", tendo em vista que o Brasil é um grande exportador e o
câmbio elevado valoriza o produto nacional, mas o setor também importa
muitos insumos, a exemplo do milho, e a disparada da moeda norte-americana torna toda a cadeia produtiva mais cara.
"No caso das frutas, que têm um potencial incrível,
como são perecíveis, sofrem mais porque dependem de frete aéreo, que
está mais caro", lamentou. Ela alerta, porém, que o momento não é de repassar esses valores ao consumidor.
"É delicado. Há a falta de fluxo de caixa, mas também um consumidor
mais reticente. Neste cenário, é melhor recorrer para dentro da empresa e
ver o que fazer para deixar a operação mais afinada, com custo mais
baixo", acrescentou.
Por fim, Parenti diz acreditar que a crise do
coronavírus acabará estimulando alguns hábitos de consumo no Brasil,
como a alimentação em casa, sem tantas idas a bares e restaurantes, e
também a opção por mercados mais próximos de casa. "Já vimos isso acontecer em outros países, como na China, que está retomando às atividades gradualmente. Não quer dizer que as pessoas não vão mais sair, mas acredito que não vão se deslocar tanto", opinou. A presidente da ABIA também acredita que os brasileiros serão ainda mais exigentes sobre a qualidade dos alimentos que consomem, valorizando as empresas de confiança.