Miss e professora de Quixadá escreve cordéis para superar dor do bullying

Blog do  Amaury Alencar
0


Rayane tem 30 anos e é professora de uma escola estadual em Quixeramobim

Rayane tem 30 anos e é professora de uma escola estadual em Quixeramobim Crédito: Arquivo Pessoal/ Rayane

As rimas de um belo cordel escrevem a história da quixadaense Rayane Fernandes, de 30 anos. Miss, cordelista e professora, a jovem é apresentadora voluntária do programa Viva Bem, da Sertão TV, e desde os 8 anos escreve cordéis para se livrar das más lembranças causadas pelo assédio que ela sofreu.

Rayane é formada em Letras - Língua Portuguesa pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc-Uece). Filha de agricultores e natural de Sabonete, no interior de Quixadá, no Sertão Central, a jovem dá aula em uma escola estadual no município. Rayane relata que na infância ela foi vítima de bullying e que só entendeu o que estava acontecendo depois do ingresso na faculdade


“Escutei muitas expressões depreciativas sobre minha aparência, e isso causou em mim muitas dores. Mas nunca deixei de ler, estudar e escrever, tudo isso aquecia meu coração demais”, disse.

Ser miss em essência para curar

Antes de ser eleita Miss Eco Ceará 2019, Rayane relata que sempre achou que era feia, porque chegou a ser agredida na escola. “Decidi participar dos concursos porque cresci com minha autoestima terrivelmente abalada. O outro fator é que eu sonhava em desfilar, mas não tinha dinheiro para comprar roupas adequadas”, disse.

Ela diz ainda que queria sentir a emoção de desfilar e poder curar as feridas da infância. Em 2019, ela foi eleita Miss Esco Ceará, cuja final aconteceu no município de Itapipoca, a 139,9 km de Fortaleza. O concurso levaria Rayane ao Miss Eco Brasil, o qual ela não participou.

“Descobri que por questões financeiras eu não poderia participar. Tempo depois o diretor do certame nacional faleceu de Covid-19, e depois disso descobri que esse concurso não tinha um franqueado internacional, que já existia o Miss Eco Brasil com franqueado internacional. Agradeci a Deus por não ter dado certo”, relata.

Ao ser miss, Rayane contou que foi muito criticada por sua aparência, mas aprendeu que não precisava de um concurso de beleza para reconhecer que beleza maior é aquela que depende da forma como ela compreende a própria existência.

“Não é sobre corpo, rosto, altura ou coisas da ordem, é sobre fortalecer minhas emoções para jamais julgar alguém e jamais permitir que me julguem, pois isso tudo gera cicatrizes que somente o tempo cura, eu falei cicatrizes, pois deixam marcas jamais esquecidas”, disse.

Escrever para jamais esquecer

Rayane, além de miss, é cordelista e encontrou na escrita uma forma de expressar o que sente. Por incentivo da mãe, desde os 8 anos ela escreve seus cordéis sobre assuntos diversos, como a fome, os assédios que sofreu, as dores que sentia.


 “Os cordéis representam, para mim, uma forma de encontrar sentido e razão para minhas experiências negativas. A dor é inevitável, sofrer é um processo, mas a literatura remete à superação, expressão. O início foi escutando cantorias na rádio. Minha mãe acordava às 5 da manhã, ligava o rádio, e eu escutava, e aquilo me deu inspiração”, disse.

Atualmente, ela está com um projeto de valorização de professoras. Ela está fazendo um mapeamento, unindo as histórias de cada uma e as transformando em cordéis. Leia uma parte de um dos cordéis escritos por ela, intitulado "Mulher":

Cordel de autoria de Rayane Fernandes
Cordel de autoria de Rayane Fernandes Crédito: Arquivo Pessoal/ Rayane Fernandes

                                          o Povo 


إرسال تعليق

0تعليقات
إرسال تعليق (0)