Ceará tem primeira mesária com deficiência visual total nas eleições gerais de 2022

Blog do  Amaury Alencar
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Alana Larisse (à direita) foi é a primeira mesária com deficiência visual total no Ceará. — Foto: TRE-CE/Reprodução

Alana Larisse (à direita) foi é a primeira mesária com deficiência visual total no Ceará. — Foto: TRE-CE/Reprodução

A mesária Alanna Larisse foi convocada para atuar nas Eleições 2022, sendo a primeira pessoa com deficiência visual total a atuar nesta função no estado. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE) do estado disponibilizou meios acessíveis para o trabalho da colaboradora. Essa foi também a primeira eleição de Alanna como mesária. Ela trabalhou na seção 795 no Colégio CEI São Carlos, no Bairro Quintino Cunha, em Fortaleza.

Com o auxílio de um notebook e fones de ouvido, Alanna executou as atividades como segunda mesária. A função era identificar, na lista digital disponível no equipamento, a pessoa que chegava para votar e, após identificá-la, ela ditava o número do título de eleitor para o presidente da seção e sua sequência no caderno de votação, para que o outro mesário localizasse o eleitor no caderno físico.

Alanna não se voluntariou para ser mesária, por isso se sentiu surpresa ao receber a convocação da Justiça Eleitoral. "Eu nunca me inscrevi, até por achar que o TRE não aceitaria ou que eu ficaria subutilizada", confessou.

"Tudo foi bem melhor do que eu esperei, confesso. Não criei muitas expectativas, não por duvidar da competência de todos que fazem a Justiça Eleitoral, mas porque sou cega desde criança e percebo que há muita resistência em relação à deficiência visual total", comentou Alanna.

A mesária disse que o trabalho transcorreu tranquilamente no último domingo, e que ela não sentiu qualquer problema por parte dos eleitores ou estranhamento pela equipe de mesários com quem trabalhou.

"A equipe que estava comigo na seção realmente acreditou que eu não estava ali apenas para ser um número e efetivamente senti que fui incluída; rapidamente criamos uma dinâmica sincronizada do fluxo de votação e naturalmente tudo foi se desenvolvendo", declarou.

Ela teve acesso a um arquivo com a lista do eleitorado da seção, e defende a digitalização de outros processos. "Provavelmente todas as deficiências e demais grupos seriam mais participativos". Ela entende que tudo seja um processo, como um "trabalho de formiguinha", mas que, aos poucos, a evolução atitudinal e tecnológica vai ocorrendo.

"Vivemos em um 'mundo' extremamente visual e são poucas as pessoas que conseguem entender que eu apenas não enxergo. Posso adaptar muitas coisas e consigo fazer muita coisa com outra ferramenta, enfim, mas nunca vai ser como se eu enxergasse e as pessoas não conseguem entender isso, a maioria delas pelo menos", destacou Alanna.

Ajuda de outros servidores

Trabalho em equipe foi apontado por Alanna como fundamental para ajudar no cumprimento da função. — Foto: TRE-CE/Reprodução

Trabalho em equipe foi apontado por Alanna como fundamental para ajudar no cumprimento da função. — Foto: TRE-CE/Reprodução

O trabalho de Alanna foi possível também por meio de uma parceria da 94ª Zona Eleitoral de Fortaleza com o servidor da 13ª ZE de Iguatu, Elizon Vieira, que também tem deficiência visual. O cartório propiciou um encontro para apresentar os arquivos que ela utilizaria no dia da eleição, no que diz respeito à acessibilidade.

Lígia Sá, servidora da 94ª ZE, que acompanhou de perto toda a ambientação da mesária, relatou a boa relação que teve com Alanna, assim como a facilidade que a participante teve com o trabalho. "O estigma da deficiência é muito mais um problema nosso, enquanto sociedade, de como enxergamos a pessoa com deficiência do que dela mesma, que vive essa limitação", declarou.

Lígia disse não ter constatado nenhum problema de demora no fluxo de votação na seção onde a colaboradora atuou. "Foi uma das mesárias que mais contribuiu. Ela veio para somar e somou bastante", avaliou a servidora.


                                          g1 ce 

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