Entre as
empreendedoras negras, 79,4% não dispõem de reservas financeiras para
manter seu negócio diante do atual cenário econômico gerado pela
pandemia de covid-19, enquanto 48% dizem que a principal necessidade é
garantir recursos para manter o negócio ativo. Os dados são da pesquisa
Mulheres negras - saúde financeira e expectativas diante da covid-19,
divulgada ontem pelas entidades Instituto Identidades do Brasil,
Comunidade Empodera, EmpregueAfro e Faculdade Zumbi dos Palmares.
No cenário de isolamento social ocasionado
pela pandemia, 44% das empreendedoras conseguem manter o negócio por
apenas um mês com o dinheiro que têm em caixa; 10,3% conseguem se manter
por dois meses; 5,1% por três meses e apenas 4% conseguem sobreviver
entre quatro e seis meses. 33,7% não souberam informar.
O levantamento apontou que 56% das
empreendedoras afirmam ter despesa mensal média entre 1 mil e 5 mil
reais, orçamento superior à ajuda oferecida pelo governo federal, de
R$600. A coleta dos dados foi realizada entre os dias 31 de março e 2 de
abril, 20 dias depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o
estágio de pandemia da doença, o que ocorreu em 11 de março.
A relevância de analisar a situação das
empreendedoras se dá porque elas são maioria entre o total de
entrevistadas para a pesquisa: 72% delas são empreendedoras e 28%
profissionais em empresas nacionais ou internacionais.
Profissionais de empresas
No entanto, os efeitos econômicos da
pandemia também atingem as profissionais das empresas, já que 44%
tiveram algum impacto na sua realidade orçamentária, como descontos em
benefícios, desconto pelos dias de trabalho suspenso, até demissões. Uma
em cada dez profissionais perdeu o emprego durante o período da
pandemia.
“Eu mesma estava empregada até dia 23 de
março. Por estar pouco tempo na empresa e estar em um grupo de risco,
fui demitida, assim como eu, tantos outros também foram. O amanhã não
sei como será e tudo isso é muito angustiante”, disse uma das
entrevistadas para a pesquisa, que teve a identidade preservada.
As entidades responsáveis pelo levantamento
destacam o caráter emergencial do tema, já que, de acordo com o IBGE, as
mulheres negras representam um público equivalente a 60 milhões de
pessoas, ou seja, 28% da população brasileira.
A preocupação com essas mulheres tem como
base também o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
de 2018, que aponta que a vulnerabilidade das mulheres negras ao
desemprego é 50% maior do que a de mulheres não negras, conforme lembrou
Raphael Vicente, coordenador da Iniciativa Empresarial pela Igualdade
Racial, uma das instituições que integra uma coalizão formada para dar
suporte a essas mulheres.
“Por isso, justamente o mapeamento e o
esforço para gerar ações concretas que apoiem as mulheres na redução dos
possíveis impactos para suas carreiras e para seus negócios, justamente
pensando em termos de sustentabilidade econômica da sociedade
brasileira como um todo. Porque essas mulheres são, muitas vezes,
arrimos de família, são chefes de família, que, não só suas famílias,
mas toda a roda econômica que gira em torno delas, se elas ruírem, vão
junto”, disse Vicente.
Apoio às mulheres negras
A partir dos resultados da pesquisa,
instituições negras formaram uma coalizão para ajudar empreendedoras e
profissionais negras no atual cenário. Para isso, a coalizão está
pleiteando recursos e parcerias, além da prestação de informações e
compartilhamento de conhecimento que possam contribuir para a redução
dos impactos e para impulsionar o crescimento nos negócios e na carreira
dessas mulheres.
“O trabalho essencialmente da coalizão é
fazer essa ponte entre essa empreendedora que está lá na ponta
precisando de recursos de toda natureza e insumos, e de outro lado as
fontes produtoras desses insumos e desses recursos, sejam eles quais
forem”, disse Vicente.