O ano de 2020 chegou, mas os problemas de
2019 persistem. Na última segunda, 30 de dezembro, o petróleo voltou ao
litoral oeste do Ceará, nos municípios de Itapipoca e Amontada. A ressaca do mar, comum nesta época do ano, pode ter influenciado o retorno do óleo.
De acordo com Rivelino Cavalcante, professor do
Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará
(UFC), é provável que o petróleo esteja sedimentado no fundo da
plataforma continental cearense, onde há alta concentração de carbonato -
em especial no Litoral Oeste. Por isso, o petróleo não se dispersa e mantém manchas volumosas.
Mas as consequências do retorno do petróleo vão além da
poluição das praias. Segundo o doutor em Oceanografia Luis Ernesto
Bezerra, também professor do Labomar/UFC, espécies de crustáceos,
moluscos, esponjas, equinodermos (estrelas-do-mar, ouriços-do-mar etc) e
até algas marinhas dependem do assoalho marinho para sobreviver.
As ameaças do petróleo para essas espécies são muitas:
elas podem morrer tanto sufocadas, ao serem impedidas de realizar trocas
gasosas e de se locomoverem, quanto por contaminação química,
interferindo em processos celulares e reprodutivos.
“De imediato, o problema que vejo é que o óleo, caso
esteja no fundo, pode afetar toda uma gama de organismos que vivem sobre
o solo marinho e são a base do funcionamento de todo o ecossistema
marinho”, afirma Luis. As espécies são alimento de peixes, tartarugas e tubarões.
O comércio também pode sofrer com a contaminação: “Como
tudo está interligado, pode afetar as espécies de valor comercial
diretamente, caso elas se contaminem, quanto indiretamente, já que os
organismos são fonte de alimento”, conclui o pesquisador.
Se as suspeitas dos pesquisadores forem confirmadas, o
Estado deve enfrentar dificuldade na retirada das manchas de petróleo do
fundo do oceano. “Não é uma coisa fácil, ninguém sabe onde [o petróleo]
está e a plataforma continental cearense é consideravelmente larga”,
explica Rivelino.
Além disso, o professor afirma que seria necessário um
estudo de caso de como realizar a limpeza do solo oceânico cearense em
virtude da singularidade da plataforma. “Mesmo baseados em outros
acidentes do tipo, o nosso ambiente é praticamente novo quanto a isso”,
conclui.
A Marinha do Brasil (MB) está responsável pela limpeza
das praias recém-afetadas pelo retorno dos resíduos no Ceará. Em nota, o
Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) - composto pela MB, pela
Agência Nacional de Petróleo (ANP) e pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) - informa o envio de amostras do material para análise no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM).
As primeiras manchas de óleo no Nordeste foram
registradas no dia 2 de setembro de 2019. Confira algumas das matérias
produzidas pelo O POVO e relembre o efeito do petróleo no Nordeste e no Ceará:
o Povo