Economia verde pós-pandemia pode somar R$ 2,8 trilhões à economia

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Agência Brasil 

A adoção de opções de economia verde específicas para determinados setores produtivos no período pós-pandemia pode acrescentar à economia brasileira R$ 2,8 trilhões, com a geração de dois milhões de empregos até 2030. A conclusão é apresentada no estudo Uma Nova Economia para uma Nova Era: Elementos para a Construção de uma Economia Mais Eficiente e Resiliente para o Brasil. O estudo é liderado pela organização não governamental (ONG) WRI Brasil e pela New Climate Economy e assinado por pesquisadores de seis instituições nacionais.

O professor de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), André Lucena, disse à Agência Brasil que essas opções de economia verde têm vários co-benefícios econômicos que não são percebidos diretamente, “mas que existem”.

Lucena exemplificou que medidas para aprimorar o transporte público, que melhorem a qualidade do ar nas cidades, seja pela substituição de combustíveis fósseis por outros menos poluentes, significam menores gastos com a saúde, maior produtividade dos trabalhadores, menos tempo gasto em deslocamentos. “Isso tudo tem ganhos econômicos”. Através da criação de diferentes modelos, os pesquisadores puderam avaliar como custos associados a problemas ambientais podem gerar ganhos econômicos.

A melhoria do transporte público poderia ser obtida também por medidas transitórias, como os carros híbridos, em que não há mudança de combustível, mas têm uma autonomia bem maior, ou seja, uma eficiência energética muito maior. “Reduz o consumo de combustíveis e, portanto, a poluição associada”.

Vantagens

André Lucena observou que o Brasil precisa usar vantagens comparativas que possui, associadas a essas medidas de economia verde, de curto, médio e longo prazos. “O Brasil tem vantagens que podem ser utilizadas para tentar melhorar a qualidade e a percepção de seus produtos no mercado internacional, associadas, por exemplo, à baixa intensidade de carbono da matriz elétrica brasileira”.

O aço nacional, por ter alguma participação de carvão vegetal, tem conteúdo de emissões de carbono menor do que países que produzem aço baseado em carvão mineral. “Diante de uma ação coordenada global para reduzir emissões, isso pode dar ao Brasil vantagens competitivas a partir da menor intensidade de carbono. Isso precisa ser explorado também”, sinalizou o professor da Coppe.

No caso do setor de uso do solo, o primeiro passo é conter o desmatamento, indica o estudo. André Lucena explicou que o Brasil não precisa de mais terra. “O Brasil já tem terra suficiente para atender a uma demanda própria e para exportação no horizonte de 2050, principalmente se você considerar que o país tem 200 milhões de hectares de pecuária de baixa produtividade que poderia facilmente aumentar, liberando um terço dessas terras para produção agrícola”.

Lucena destacou que o país está vivenciando no atual momento uma perda de mercado em função do desmatamento. Acordos comerciais estão em risco, como o existente entre o Mercosul e a Alemanha. Além disso, há uma avaliação negativa de produtos brasileiros no mercado internacional, cortes de fluxos de investimentos, tudo em função do desmatamento. “É um custo que não traz benefícios à sociedade nem ao país”, comentou.

Integração

O estudo reforça que não há necessidade de aumentar a quantidade de terras mas, sim, de melhorar a sua produtividade. Isso pode ser alcançado por meio da recuperação de pastagens degradadas, da integração entre lavoura e pecuária, ações que repercutem em benefícios ao meio ambiente. “São medidas que podem fazer com que você tenha um uso mais rentável da terra, na medida em que usa ela não só para pecuária, mas para a lavoura, mantendo a qualidade do solo”.

Na parte industrial, citou que há opções de eletrificação que podem ser adotadas para reduzir emissões de gás carbônico. Outra área que o Brasil poderia explorar e mostra grande potencial futuro é a da química verde. “A química verde, embora não tenha um custo tão baixo como a petroquímica atualmente, em um cenário de descarbonização isso pode se reverter. O Brasil tem alta vantagem comparativa nisso, tanto pelo lado do potencial de recursos, entre os quais a biomassa, o etanol, como tecnológica também”.

Lucena se referiu ao uso de biocombustíveis avançados, como etanol e biodiesel, que substituem gasolina e diesel, que são combustíveis fósseis. O estudo sugere a possibilidade de adaptar a indústria de biocombustíveis brasileiros já existentes para a produção de biocombustíveis avançados em setores em que a substituição não é trivial, como a aviação, por exemplo. O querosene de aviação é um combustível de altíssimo valor adicionado e baixíssima substitubilidade, mas há a possibilidade de se fazer o chamado biojet ou bioquerenose de aviação, indicou o professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ. “Seria um uso muito melhor para a indústria já existente no Brasil”.

Governo

Na área de infraestrutura, uma sugestão formulada é fazer o transporte de mercadorias via cabotagem, que apresenta custo de investimento bem menor que ferrovias, aproveitando o fato de o Brasil ser um país com mais de 8 mil quilômetros de costa.

O estudo foi encaminhado para o governo federal, através do Ministério da Economia.

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