Saque emergencial do FGTS vai injetar R$ 1,3 bi na economia do CE

Blog do  Amaury Alencar


O saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) - que começa no dia 15 de junho e termina em 31 de dezembro de 2020 - vai injetar na economia cearense R$ 1,3 bilhão, segundo estimativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio/CE). Porém, diferentemente do saque imediato de 2019, quando grande parte dos valores serviram para o pagamento de dívidas e para a compra de bens de consumo, neste ano o benefício terá efeito mais restrito, na opinião da entidade e de economistas.
"Esses recursos serão importantes para os consumidores principalmente para aqueles que têm ou tiveram trabalho formal que são os que têm direito ao FGTS. E servirão para o consumo dos itens de primeira necessidade das famílias, como alimentação e cuidados com a saúde. Ou seja, os recursos são importantes, mas são limitados a uma parcela da população e dirigidos para o consumo emergencial. Ele precisa ser complementado outras medidas que alcance parte da população que não tem FGTS", explica o presidente do Sistema Fecomércio/CE, Maurício Filizola.
Ele ainda diz que as pessoas estão consumindo em um menor patamar antes da crise provocada pelo novo coronavírus e que esse cenário ainda é incerto para os próximos meses. "Ainda é muito cedo para a gente falar sobre o mês de junho. De antemão, eu informo que realmente por experiências anteriores, que sempre que há antecipações de valores há de alguma forma retorno de vendas no comércio, mas em estabelecimentos específicos, como farmácias e supermercados".
Filizola afirma também que não há como recuperar as perdas com a paralisação do comércio e serviços. "O consumidor não volta com toda força. As pessoas não vão tirar o atraso desse período atual consumindo mais quando as coisas se normalizarem".
Estabilização
Segundo o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-CE), Ênio Arêa Leão, os recursos do FGTS não são suficientes para estabilizar a atividade econômica, mesmo com o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro salário que tradicionalmente ocorre em junho.
"As medidas diminuem o impacto da crise do momento. As pessoas estão gastando menos e estão com receio de consumir. Elas devem fazer isso mesmo, guardar esse pouco de dinheiro e cuidar porque a gente não sabe o dia de amanhã", aconselha.
Arêa Leão também diz que é favorável sobre a liberação dos recursos do FGTS para os trabalhadores. "Tem que liberar mesmo esse dinheiro. Sou a favor de não ter essa limitação e eu entendo que esse dinheiro é do trabalhador e ele deveria ter acesso ao recurso. Mas eu também entendo o argumento do Governo de não liberá-lo totalmente", avalia.
O professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Rural da Universidade Federal do Ceará (UFC), Francisco José Tabosa, também concorda que o dinheiro não vai trazer estabilidade para a atividade econômica no curto prazo.
"Esse dinheiro não vai estabilizar a economia. É um recurso que o trabalhador tem direito e não vai fazer com que a economia volte a crescer. Vai fazer com que o trabalhador tenha um recurso para que ele consiga se manter, para a sobrevivência dele".
De acordo com o professor, é errôneo pensar que a liberação do FGTS vai servir diretamente para setores da economia. "Não vai ter, por exemplo, impacto na indústria, comércio e serviços. Vai ter mais impacto na área da alimentação. Não vejo como uma medida de impacto econômico, é uma medida de garantia de direitos", explica